Ana Guiomar: “Para já, ser mãe não é coisa em que pense”

Fotografia: Nuno Canhoto / Palavras Ditas

A menos de um mês de estrear uma nova peça no Teatro Aberto, a atriz de “Amor Maior” (SIC) diz-se entusiasmada, apesar de cansada. Mas diz que tem tempo para tudo. Até para passear, jantar fora e sair com os amigos…

Quanto ao relógio biológico, esse ainda não está a funcionar. “Não, ele ainda não despertou”, brinca. E continua. “Para já, ser mãe não é coisa em que pense. Aliás, com a peça que aí vem, e que depois do verão será reposta, não dava jeito nenhum. Quer dizer, se acontecer, tudo bem, não terei problemas, mas planeado não está”, diz Ana Guiomar à N-TV, que mantém uma relação com o também ator Diogo Valsassina há quase 11 anos.

Depois de “O Pai”, onde contracenou com João Perry, Ana Guiomar está de volta ao Teatro Aberto, em Lisboa, para a peça “Toda a Cidade Ardia”, um texto e encenação de Marta Dias à obra poética de Alice Vieira. A estreia está marcada para 23 de junho.

“Os ensaios estão a correr muito bem e tem sido muito interessante esta caminhada. Aliás, aqui no Teatro Aberto sinto-me em casa. É a minha casa do teatro”, conta a atriz à N-TV, acrescentando que ali aprende “sempre coisas novas”.

“O que eu sinto aqui no Teatro Aberto é que há uma aprendizagem pessoal muito grande, porque há muitos livros que se leem, muitos filmes que se veem, há muitos quadros. E isso para mim é muito bom, porque não tendo uma carreira de 40 anos, isso torna-me mais rica. É claro que leio livros, tenho os meus gostos e as minhas escolhas, mas de repente termos outras pessoas a puxarem por nós e a estimularem mais as coisas, é ótimo”, sublinhou a atriz, de 28 anos.

Para trás, ficou o êxito de “O Pai”, que “foi mais difícil do que inicialmente parecia, mas que foi um grande ensinamento” e permitiu a atriz confrontar-se “com questões em que nunca tinha pensado”.

“A peça era muito pesada e fez-me sentir coisas que eu nunca tinha sentido, mesmo colocando em causa coisas familiares. O ver que estou a chegar aos 30 anos e que os meus pais também estão a ficar mais velhos. Não me assustou ter sido confrontada com essa realidade. Assustou-me foi nunca ter pensado naquilo. Nunca estamos preparados para essa inevitabilidade. ‘O Pai’ fez-me repensar algumas coisas na minha vida e na minha relação com os outros. Até com os meus pais e os meus avós maternos, com mais de 80 anos”, contou à nossa reportagem.

“Trabalhar com João Perry no início foi um bocadinho assustador. Ele é um monstro no palco, embora não se sinta nada assim”

Trabalhar com o João Perry no início foi, confessa, “um bocadinho assustador”. “Ele é um monstro do palco, embora não se sinta nada assim, e seja aliás completamente contra isso. Coloca-nos completamente à vontade. E isso deixou-me muito confortável. E sem querer parecer pouco humilde, no fundo estivemos quase de igual para igual desde o primeiro ensaio. Isso fazia-me ir para o palco com muto medo, mas ao mesmo tempo com uma segurança brutal”.

Depois de “O Pai” e a preparar-se para a estreia de “Toda a Cidade Ardia”, Ana Guiomar conciliou tudo com a televisão, já que integra o elenco da principal novela da SIC, “Amor Maior”, em que interpreta Maria Preciosa, e cujas gravações terminaram recentemente. A atriz reconhece que “às vezes, é muito complicado conciliar os dois mundos”. “Quando entrava às oito em estúdio e só saía às 19h00 e vinha diretamente para aqui, era difícil. Às vezes, apetecia-me dormir uma sestinha, mas não era possível”.

Ana Guiomar reconhece que se o seu papel na novela tivesse sido de maior destaque, provavelmente, não teria conseguido acumular os dois registos, “quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista emocional”. Mesmo assim, não se queixa. Para o seu equilíbrio funcionar, precisa “de viver, de apanhar sol, de jantar fora, de sair com amigos. Isso é essencial para depois tudo junto correr bem”, afirma, acrescentando que “felizmente” tem conseguido fazer isso.

“Não me considero uma apresentadora. Tive muita sorte, porque podia ter sido lançada aos lobos e aquilo ter corrido mal”

A experiência enquanto apresentadora, à frente de “Best Bakery – A Melhor Pastelaria de Portugal”, foi “muito confortável”, diz a atriz, apesar de as audiências do formato produzido pela Endemol Shine (uma média de 600 mil espectadores semanalmente) não terem sido famosas.

“Não me considero uma apresentadora. Tive muita sorte, porque podia ter sido lançada aos lobos e aquilo ter corrido mal, até porque era uma coisa que nunca tinha feito. Mas não correu mal, porque tinha uma equipa que me sustentava de uma forma fantástica. E depois eu não era uma apresentadora normal, era uma espécie de espectadora, que ia fazendo a ponte entre as histórias”, conta.

O ritmo das gravações, que chegou a ser “frenético”, impediu-a de engordar, apesar de, reconhecer, ser “muito de doces”. “De doces e de tudo”, brinca. “Outro dia fomos ao Alentejo, entrámos num restaurante e eu pedi torresmos. E a senhora, muito contente, disse-me: ‘Haja alguém que coma torresmos!’. E a senhora lá foi buscá-los. E o Diogo, que não vive para comer, mas come para viver, só me disse: ‘Que nojo! Tu és maluca!”. Depois, ele provou e lá reconheceu: ‘Não é mau!’”, conta entre gargalhadas.

“Adoro comer, adoro comida. Tenho este problema. Mas também adoro cozinhar. É terapêutico”

“Adoro comer, adoro comida, tenho este problema. Mas também adoro cozinhar. É terapêutico. E não sou nada daquelas pessoas que perdem a vontade de comer depois de passarem a tarde a cozinhar. Eu continuo a ter vontade de comer”, diz, apontando o Bacalhau com Natas e o Cheescake como os pratos que mais elogios recebem dos amigos.

Criticar é que é mais difícil. Por isso, Ana Guiomar diz que “não era capaz de fazer o papel que o chef Ljubomir Stanisic fez em “Pesadelo na Cozinha”, que terminou este domingo. “Não era capaz de ralhar assim com as pessoas. Ele é espectacular. Porque ele nao ralha só, ele fica mesmo triste. E esse é que é o segredo”.

Voltar a apresentar não está no topo das suas prioridades, “mas se aparecer algum projeto que pareça divertido”, não dirá que não. “Não é uma pressão que eu tenho, não estou aqui a pensar que este ano também tenho de apresentar alguma coisa, mas se achar que faz sentido e se for um formato com o qual me identifico, porque não?”, afirma à N-TV.

O “Masterchef”, por exemplo, seria a cereja no topo do bolo. “Adorava apresentar”, reconhece, entusiasmado, batendo palmas. “Achava o máximo. Mas não era só lançar pivôs, adorava ver as pessoas em nervos. Porque eu sei o que é que aquilo custa. E também gosto muito do “Lip Sync Battle”, aquele formato de karaoke”, ri-se.

“O trabalho do ator nunca se esgota, nunca se completa. É preciso constinuar a trabalhar todos os dias”

Com quase 15 anos de carreira – integrou a série juvenil “Morangos com Açúcar” entre 2003 e 2006, onde interpretava Marta Navarro -, Ana Guiomar sente que tem ainda muito para aprender. “O trabalho de um ator nunca se esgota, nunca se completa. É preciso continuar a trabalhar todos os dias. É preciso ler, estudar, é preciso reciclar conhecimentos, colocarmo-nos à prova”, explica. Na sua caminhada profissional, “nada foi premeditado. Foi acontecendo”.

A sua exposição pública através das redes sociais, essa sim, foi pensada. “É uma coisa que eu faço questão de ser eu. Não tenho nada contra as figuras públicas que contratam agentes ou profissionais para gerir as redes sociais. Isso para mim é pouco verdadeiro. No meu entendimento, para aquilo que eu quero comunicar”. E dá exemplos: “eu mostro muitas coisas da minha casa e do Bart [o cão]: o Bart a tomar banho, o Bart a passear… Faço imensos vídeos a gozar com o Diogo, que é uma coisa que me diverte muito [gargalhada]. E isto só faz sentido se for eu mesmo a fazê-lo. Não seria verdadeiro se fosse alguém a fazê-lo por mim”.

Para a atriz, a “verdade é o mais importante de tudo”. “Às vezes, tenho colegas que me perguntam: ‘vocês ensaiaram aquilo, não foi?’ Não. Às vezes, são coisas parvas que eu publico. Outro dia publiquei o Diogo a fazer a cama. Ele estava há meia hora a praguejar e eu não fui o ajudar. Peguei no telefone e fui filmá-lo [risos]. Não é nada ensaiado”.

“As redes sociais são uma coisa de que eu gosto, que me divertem. Gosto do contacto com as pessoas, gosto da interatividade”

Ana Guiomar não olha para as redes sociais como uma invasão de privacidade. “Há atores que não têm Facebook nem Instagram porque acham que quando menos se souber de si, melhor”, constata. Não é o seu caso. “Isto é uma coisa de que eu gosto, que me diverte. Gosto do contacto com as pessoas, gosto da interatividade, gosto que as pessoas me enviem mensagens, gosto de curiosidades”.

Guiomar sabe que isso é uma viagem sem retorno. “É claro que, depois de termos partilhado tantas coisas, é difícil fechar as portas à nossa vida. As pessoas conhecem-nos juntos há muito tempo”. No entanto, há limites. “Eu não dou entrevistas conjuntas com o Diogo, por exemplo. Cada um tem a sua profissão, apesar de ser a mesma. Temos carreiras tão diferentes, temos valores tão diferentes… Ele tem uma visão completamente diferente da minha a nível profissional. Por exemplo, os casais que vão aos eventos… eu percebo que no início, seja normal que o casal vá junto, para mostrar, para ser fotografado, para aparecer. Agora, eu e o Diogo namoramos há mais de dez anos. Que sentido faz ele ir a um evento de depilação feminina? Para quê? Coitado, que seca!”

TEXTO: Nuno Azinheira