Herman e os humoristas: “Sou uma referência para eles mas ainda não está na altura de me amarem”

Herman José é uma das referências do humor em Portugal. O artista, que conta já com mais de 40 anos de carreira e continua a percorrer o país de norte a sul com espetáculos ao vivo, fez um balanço à N-TV do seu percurso profissional.

Herman começou a sua carreira no programa de televisão “In-Clave”, como membro da banda musical residente dirigida pelo maestro Pedro Osório. “Na altura em que comecei, o meio era muito pobre e eu tive um grande padrinho, o Pedro Osório. Foi o Pedro que me apresentou o Parque Mayer. Tenho de parar para pensar para fazer um ato de justiça ao Pedro Osório”, revelou o artista.

Herman teve em Nicolau Breyner um grande catalisador no início da sua carreira e percorreu com ele o país com espetáculos ao vivo. “Essa fase de andarmos na estrada foi inesquecível e de tal maneira intensa que parece que durou 20 anos da nossa vida”, recordou o humorista. No entanto, Herman José sentiu necessidade de se afirmar e criar a sua própria identidade. “Há uma altura em que uma pessoa precisa de se tornar independente e ganhar a sua própria identidade. Segui o meu próprio caminho mas o Nicolau esteve sempre disponível, sempre com genuíno encantamento”, disse Herman.

“Parece que estou a começar a carreira outra vez”

A sua carreira teve, ainda assim, diversos altos e baixos: “Comecei a ter alguns êxitos e comecei a trabalhar muito sozinho. Era a jovem estrela que fazia aquecer as meninas por razões físicas. Depois descambou nos meus programas de televisão solitários, como o ‘O Tal Canal’”.

Herman desvendou à N-TV encontrar-se numa fase de muito sucesso profissional e que a agenda para este ano está praticamente cheia. “Nunca tive tantos espetáculos como neste ano e no ano passado. Parece que estou a começar a carreira outra vez. Adoro estar com as pessoas. Sou verdadeiramente feliz a fazer espetáculos ao vivo”, afirmou o artista.

“As minhas plateias têm gente muito nova. Muitas vezes são os filhos que arrastam os pais para os espetáculos e eu fico sempre de boca aberta pelo facto de estarem a par de tudo o que faço. Isso é um privilégio e é algo que não existia antigamente. Os artistas estavam divididos geracionalmente e esta sociedade vende-nos transversalmente a todas as gerações”, acrescentou.

O mundo tecnológico providencia oportunidades que antigamente não existiam. Herman reconhece as vantagens nesta era digital: “Estive na Austrália e eles sabem perfeitamente o que se passou com Portugal na véspera. Portugal é para eles uma presença diária através da Internet. O que hoje em dia se consegue com um telemóvel é incrível”.

Apesar da evolução que a sociedade sofreu, nomeadamente a nível tecnológico, as pessoas vivem bastante apressadas, defende. “As pessoas já não têm tempo. Até a beber se é rápido. Antigamente conversava-se, compunha-se, bebia-se. Durava até às tantas da manhã. Hoje em dia estamos todos a viver à velocidade de uma mensagem de telemóvel. O que hoje em dia se consegue com um telemóvel é incrível”, disse Herman.

“Vivemos numa sociedade cheia de regras cheia de jogadas de bastidores. […] Houve coisas que me aconteceram só como um mecanismo para me calar”

Para o comediante, a liberdade de expressão é uma realidade dissimulada em Portugal: “Atualmente temos de trabalhar dentro de uma teia do que é politicamente correto. Nós não vivemos numa democracia plena. Vivemos numa sociedade cheia de regras, chantagens e jogadas de bastidores. A fase portuguesa mais livre foi no fim dos anos 1980 e no princípio dos anos 1990. Em 1992, destruí o cenário da “Roda da Sorte” com uma caçadeira. Hoje em dia, isso dava cinco processos-crime. Houve coisas que me aconteceram só como um mecanismo para me calar”.

A agenda preenchida de Herman José não o impede de se preocupar consigo próprio e de reservar algum do seu tempo para descansar. “Neste momento, estou a desenvolver uma arte que estava esquecida: a arte de gerir bem o tempo para mim. Se me distraio não paro e eu não quero ser o artista com maior sucesso do cemitério. Estou a conseguir gozar a vida”, brincou o humorista.

O apresentador do programa “Cá por Casa” (RTP1), que terminou há uma semana e que deverá regressar na “rentrée” televisiva, confidenciou que gostaria de ter menos uns anos: “Seria um bocadinho mais feliz se fosse mais novo. Achava alguma piada ter menos 20 anos”.

“Vivemos de menos para as capacidades intelectuais que temos. Crescemos imenso intelectualmente. O ser humano desenvolveu-se de forma brilhante, evoluímos de tal maneira que o nosso prazo de vida passou a ser patético”, concluiu Herman José.

 

TEXTO: Adriana Pedro