Ator José Mayer admite assédio sexual

A polémica que envolve José Mayer e uma figurinista da Globo está longe de acabar. Ontem, o ator emitiu um comunicado a confirmar o assédio de que foi acusado. Entretanto, criou-se um movimento na internet, que já conta com o apoio de muitas atrizes do canal brasileiro.

Voltar com a palavra atrás. Foi o que fez José Mayer, ontem, ao final da tarde, depois de ter negado o assédio a Susllen Tonani. O ator de 67 anos viu-se obrigado a confirmar a versão da figurinista da Globo, numa carta aberta dirigida aos seus “colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam” como o ator agiu e pensava.

“Eu errei. Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava”, começa por dizer o consagrado ator, que foi imediatamente afastado pela Globo da próxima novela, para a qual tinha sido convocado. “Admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço. (…) Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são”, reconhece Mayer.

O ator acredita veementemente estar a viver a “dolorosa, mas necessária” mudança de pensamento e que hoje já se considera um homem “sem dúvida, muito melhor”.

Simultaneamente, criou-se um movimento na internet como forma de protesto contra a atitude do ator de 67 anos. “Mexeu com uma, mexeu com Todas. #Chegadeassédio” é o mote da ação contra José Mayer e que já conta com o apoio de atrizes como Isis Valverde, Grazi Massafera, Giovanna Ewbank, Mariana Ximenes, Cleo Pires, Camila Pitanga e Tais Araújo.

Por cá, Rita Ferro Rodrigues e Iva Domingues, apresentadoras e criadoras da plataforma Capazes, foram duas das figuras públicas portuguesas a aderir ao movimento.

Leia o comunicado na íntegra:

“Carta aberta aos meus colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam como eu agi e pensava:

Eu errei.

Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava.

A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora.

Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço.

Tenho amigas, tenho mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de tratar qualquer mulher com desrespeito; não me sinto superior a ninguém, não sou.

Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são.

Aprendi nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele.

Este é o meu exercício. Este é o meu compromisso. Isso é o que eu aprendi.

A única coisa que posso pedir a Susllen, às minhas colegas e a toda a sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança.

Espero que este meu reconhecimento público sirva para alertar a tantas pessoas da mesma geração que eu, aos que pensavam da mesma forma que eu, aos que agiam da mesma forma que eu, que os leve a refletir e os incentive também a mudar.

Eu estou vivendo a dolorosa necessidade desta mudança. Dolorosa, mas necessária.

O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor.

José Mayer”

TEXTO: Ana Filipe Silveira