“Big Brother”: Lourenço revela a relação tensa com o pai e os dramas na escola

Lourenço
Fotografia: Instagram Big Brother/TVI

Lourenço foi o terceiro eliminado do “Big Brother”, da TVI. Com apenas dez por cento dos votos do público, abandonou o jogo neste domingo, 3 de setembro.

O algarvio esteve à conversa com os jornalistas e confessou que não esperava sair tão cedo e não deu “todas as cartas”.

“Tinha ali uma grande história e infelizmente não soube aproveitá-la da melhor maneira, se calhar podia ter dado mais logo na primeira e na segunda semana, começar a dar mais a minha opinião, mas lá está, cada um tem o seu tempo de adaptação e infelizmente isto é uma coisa contra o tempo. O que era mais importante era a cadeira quente e dar mais a minha opinião, era isso que faltava”, começou por explicar.

O estudante confessou que se calhar podia ter chegado à final, mas o erro foi seu.

“Nesta terceira semana comecei a ser eu, a dar mais a minha opinião, mas foi tarde. Como o Fábio disse e bem se calhar precisava de mais uma semana e as coisas seriam de outra forma”, acrescentou.

Uma vez de volta à realidade, Lourenço garante que vai fazer tudo o que não teve oportunidade de fazer na casa.

“Inspirar muita gente, estar sempre ativo nas minhas redes sociais e depois vai-se vendo o que é que me espera”, referiu.

Com 24 anos de idade, a sua história de vida é de transformação e, apesar de a sua mãe sempre o ter apoio na transição de género, as coias com o seu pai são um pouco diferentes.

“Ter um pai que ainda me trata pelo “dead name” não é fácil. Não me conhece e é sempre difícil para mim”, explicou.

“Acho que ele ainda não encaixou bem a situação é por isso que ainda me trata por Ivone apesar de ele já saber que eu sou um homem ainda lhe custa, se calhar por falta de convivência não me consegue chamar Lourenço e então trata-me sempre pelo feminino”, revelou.

A relação com o progenitor sempre foi distante e lembrou que quando era mais novo o pai o vinha visitar a Portugal algumas vezes, mas acabaram por se afastar.

“Nós falamos, mas esporadicamente, às vezes tenho que ser eu a dizer alguma coisa e há momentos que me deixam mais triste como o meu aniversário, por exemplo. Tenho de ser eu a dizer alguma coisa. Mas eu estou sempre a tentar, gosto dele, quero essa relação e inclusive já tinha dito muitas vezes à minha mãe que não queria falar mais com ele e que se calhar quando ele estivesse às portas da morte é que se ia lembrar, eu já disse isso várias vezes mas volto sempre atrás porque preciso dele e gostava de o ter na minha vida. […] Ele não sabe quem eu sou e eu também não sei quem ele é”, afiançou.

Desde muito cedo que Loureço percebeu que estava no corpo errado e garante que tudo começou por volta dos sete anos.

“Sempre pensei que era um homem, era simplesmente um miúdo que gostava de raparigas e não uma rapariga que gostava de raparigas, sempre me identifiquei como um homem. E quando somos crianças não temos filtros e dizemos aquilo que sentimos e pensamos e ia para a escola a dizer que gostar das minhas colegas, mas dava-me mal porque visto de fora era uma rapariga”, recordou.

“Sofri muito, almoçava sozinho, as pessoas da minha turma afastavam-se e depois fui muito criticado pela maneira como me vestia, sempre com roupa desportiva, masculina, roupa larga. Depois comecei a perceber que quando olhava para o espelho odiava ver-me, mais para a frente, para ai aos dez anos, comecei a pôr papel nas calças para fazer o formato, dormia com isso e sentia-me super bem e comecei a sentir que não era só o gostar de raparigas”, relembrou.

No entanto explicou que sempre foi uma pessoa reservada e só agora começou a falar mais com a mãe.

“O tempo passou e disse ‘olha mãe eu quero mudar isto e isto’ e a minha mãe ‘ A sério? Já sabia’. Depois comecei a pesquisar, fui pesquisando sozinho, demorei para ai um ano a pesquisar e a aprender como eram as coisas e a que hospitais devia ir. Depois encontrei um hospital em Lisboa e comecei o tratamento e a partir daá tem sido sempre a abrir”, afiançou.

A primeira operação do longo processo de mudança de sexo ocorreu em 2018 e foi a remoção dos seios.

“Foi a melhor coisa que podia ter feito. Senti liberdade, eu antes praticamente não saia de casa. Retirar os seios foi a melhor coisa que eu já fiz”, disse.

Não só a sua mãe aceitou bem a sua transição como também os seus amigos o fizeram.

“Os meus amigos já sabiam por isso a resposta foi ‘ A sério? Já sabia disso’ não foi uma surpresa para eles. Aceitaram super bem e as pessoas eu gosto aceitam e isso é o que importa”, referiu.

Porém, apesar de sempre ter tido o apoio dos amigos e da mãe, Lourenço já passou por momentos complicados em relação a mulheres.

“Por exemplo uma vez estava num bar, conheci uma rapariga e fomos para um cantinho e e eu a pensar que queria uns beijos e tal e ela começou a baixar a mão e eu pensei se dizia ou não, e disse. A primeira coisa que ela fez foi virar-me as costas. Foi difícil, senti-me em baixo e que nunca vou chegar a ser um homem de verdade”, partilhou.