O ano de 1974 não é só sinónimo de liberdade, união, democracia e revolução. De 25 de Abril até ao final do ano, vários foram os cravos talentosos que se notabilizaram nas suas carreiras. São eles os “filhos” da Revolução.
Foram os primeiros talentos a nascer com a democracia portuguesa, os primeiros cravos colhidos após a Revolução de Abril, os primeiros talentos a surgir com um Portugal livre que começava a gatinhar. Numa altura em que se celebram as quatro décadas da revolução que mudou para sempre o país, tem graça lembrar os profissionais que nasceram em 1974, após o 25 de Abril e até ao final do ano, e que vieram a notabilizar-se nas suas carreiras na TV.
Nos mais diferentes ramos, quer seja o humor, a representação, a apresentação ou o guionismo, Ricardo Araújo Pereira, Dalila Carmo, Marco D’Almeida, Fernando Alvim, Sofia Alves, Nuno Eiró, Marisa Cruz e São José Correia são alguns dos exemplos da nossa fértil colheita de 74.
Mas como se sentirão eles por terem nascido num momento que marcou o panorama social, económico, cultural e político de Portugal? “Sinto-me feliz por fazer parte desse ano tão cheio de sonhos de liberdade. É um ano que marcou a nossa história e é simbólico nascer num ano de transições”, confessa Dalila Carmo. A atriz acrescenta, porém: “Não sou nem revolucionária nem reacionária. Sou livre, acho que porque nasci assim.”
Fernando Alvim explica, divertido: “É obviamente muito importante ter nascido nesse ano. Até porque não só foi o ano da Revolução de Abril como o Benfica ganhou o campeonato, curiosamente. O que volta a acontecer 40 anos depois. Se me sinto um filho da Revolução? Sinto-me filho, enteado, sobrinho, o que quiserem! Nasci a 3 de maio, isto é, oito dias depois do 25 de Abril, isto quer dizer que sou um estilhaço da revolução”, conta o radialista da Antena 3 e que terá em breve um novo programa na RTP. “Mas não creio que seja mais revolucionário por ter nascido naquela altura. Há em mim todo um Che Guevara que não se condiciona com o ano em que nasci, mas sim com a forma como nascemos. E eu nasci para dizer “hasta la vitoria siempre””, adianta Alvim.
São José Correia, que veio ao mundo em setembro de 74, conta: “É verdade, sinto-me uma filha da Revolução, até costumo ter essa brincadeira com amigos quando calha em conversa.” E recorda: “Os meus pais viviam na Madeira, mas vieram para Lisboa imediatamente a seguir à Revolução, quando as coisas ficaram melhores, e eu já nasci na capital. Portanto, eu nasci já naquele clima de esperança, de liberdade, que eu tanto prezo, num país que já estava a celebrar a democracia. Tenho muito orgulho e prazer em fazer parte dessa geração!”, conta a atriz.
São José, que se define como “uma pessoa livre”, conta que pode existir uma correlação com a sua postura na vida e o momento em que nasceu. “Vocês já me conhecem, eu não sou conhecida por ser politicamente correta, não é? [risos] Pode ser que tenha ligação ou não, isso depende de vários fatores, mas acredito que nasci imbuída daquele espírito de liberdade, isso deve ter ajudado”, remata São José Correia.
TEXTO: Nuno Cardoso
Artigo originalmente publicado na edição impressa da “Notícias TV” de 25 de abril de 2014.