Dia Mundial da Televisão: A “caixinha mágica” é hoje um grande e múltiplo ecrã

Fotografia: Arquivo Global Imagens

Resumos de novelas, diretos para o Facebook, bastidores das gravações, pequenas entrevistas ou insólitos do dia. A TV percebeu que os seus espectadores já não se medem apenas na forma clássica.

“É preciso cativar as pessoas, mostrar-lhes a televisão por dentro”, explica ao JN o diretor da Media Capital Digital, Ricardo Tomé. “É preciso pensar em conteúdos próprios para cada plataforma”. Ricardo Tomé dá o exemplo: “Quando apresentámos o elenco da novela ‘Jogo Duplo’, pensámos no Instagram, nas stories, em clipes de dez segundos”.

O diretor não tem dúvidas: “Isto é tudo televisão”. Por isso, quando é hora de perceber as audiências de um determinado programa, tudo conta: “Temos relatórios integrados com as audiências televisivas, a dos sites e a de vídeo nas redes sociais”.

O diretor-geral de Conteúdos da SP Televisão, produtora da ficção da SIC, não tem dúvidas em afirmar que “esta é uma primeira fase do que virá a acontecer no futuro próximo”.

“Cada vez mais, nós estamos a deixar de falar em televisão e falamos em conteúdos. Falamos em múltiplos ecrãs e a tendência é começar a haver um cruzamento de produtos entre a televisão generalista e os universos digitais”, afirma Pedro Lopes.

O guionista acredita que “os produtos vão ter cada vez mais ramificações e outras novidades para além do ecrã principal”. “No campo da ficção vamos ter em breve um produto principal na televisão generalista, depois um ‘spin-off’ em que seguimos a vida de uma personagem na Internet; ao mesmo tempo que há outra personagem que lança um blogue pessoal, e ainda outra personagem que lance os seus próprios vídeos no YouTube”.

Fotografia: Arquivo Global Imagens

“A televisão generalista tem de ir ao encontro das pessoas. E sobretudo das pessoas mais novas. E onde estão elas? Nas redes sociais”, afirma Cláudia Lopes, pivô do programa “Mais Futebol”, da TVI24. “Ainda na passada sexta-feira fiz um desses vídeos em direto para o Facebook, enquanto ajeitava o microfone”, conta. A rubrica “Momento do Dia” é uma das novas que a TVI lançou recentemente. “É um prolongamento da televisão, mas é quase a dessacralização da TV”, reconhece.

Embora tenham reforçado a sua estratégia digital nos últimos meses, a TVI e a SIC não estão sozinhas nesse campo. Há duas semanas, a RTP chamou os jornalistas à sua sede para revelar “novidades” do Eurofestival. A conferência de imprensa foi transmitida em direto no Facebook.

“A relação da televisão com o público deixou de ser uma relação passiva mas dialética”, observa o diretor da RTP Gonçalo Madaíl. O profissional alerta, porém, para os “perigos dessa reação imediata”. “A televisão tem de saber resistir e ceder ao impulso das críticas automáticas”, afirma, acrescentando que a “televisão tem de estar no bolso das pessoas”.

TEXTO: Nuno Azinheira