Entrevista a Anselmo Crespo: “Na pandemia as pessoas precisam de confiar em alguém e não as podemos defraudar”

Anselmo Crespo
Fotografia: Rui Valido

A celebrar 12 anos, a TVI24 trouxe novos programas para a grelha. Em entrevista à N-TV, Anselmo Crespo, diretor de Informação da TVI, apresenta as novidades e lembra como os telespetadores confiam no Jornalismo em tempo de pandemia. O balanço de seis meses de direção “é positivo”.

A TVI24 tem novos programas em antena. O que marca a diferença na grelha renovada?

Não tenho memória de existir em Portugal um formato como “Os Quatro”. Não é só um painel de comentadores, mas quatro pessoas residentes de segunda a sexta-feira, que estão ali para comentar e enquadrar sobre a atualidade. São quase quatro “co-hosts” da tarde da 24. Temos jornalistas com vasta experiencia de conhecimento dos corredores do poder ou da economia: o Filipe Santos Costa conhece bem realidade política em Portugal, a Anabela Neves dispensa apresentações e o Pedro Santos Guerreiro tem experiência e isso pode ser relevante e distintivo.

Esta ideia nasceu logo quando esta direção tomou posse em setembro?

Foi já num processo de reflexão que fizemos desde setembro, quando tomámos posse. A prioridade era “J8” porque havia um estúdio em obras. Olhámos para as audiências, para o perfil de quem consome notícias e tentamos ser úteis às pessoas, não dar mais do mesmo nem sermos iguais a todos os outros. Se a matéria-prima é a mesma, a forma como a trabalhamos não deve ser a mesma.

Sendo um formato novo, “Os Quatro” não é um risco de audiências?

Este formato é um risco como quase os formatos que não foram testados. Precisa de tempo, de hábito, a televisão depende muito do hábito e nós somos animais de hábitos e resistimos a mudar. É preciso dar espaço e tempo para que as pessoas se habituem.

Anselmo Crespo
Anselmo Crespo com Paulo Portas. Fotografia: Rui Valido

Em que se distingue mais a nova TVI24?

Olhando para o “prime time” pensámos em que podemos contribuir para ser úteis aos telespetadores e não replicar o que existe no mercado. Um dos processos que levou ao “Dilema” na noite da 24 com a Carla Moita e o João Póvoa Marinheiro foi chegar à conclusão que os canais tinham défice de debate. Aqui o tema pode ser a pandemia, futebol, eutanásia, enfim, a atualidade vai mudando. O “Dilema” surge da vontade de proporcionar, de segunda a sexta-feira, um bom debate sobre um grande tema que divida a sociedade e que possa contribuir para formar as opinião das pessoas.

A TVI24 já liderou audiências com o futebol. Qual vai ser o peso da modalidade na grelha?

A TVI24 é um canal de Informação e dentro dela há todo um espaço para o desporto. Além do “maisfutebol”, do “maisbastidores” e da equipa que se reunirá quando é preciso, temos a Liga dos Campeões e o peso do futebol é na exata medida da relevância da atualidade da modalidade. O FC Porto está em competição na “Champions” e nestes dias o futebol tem de ter mais peso em antena. Um canal de Informação deve ser elástico para dar o peso à informação que ela tem em cada momento. Mas a tentativa de ir buscar audiências apenas pelo futebol não é o caminho que queremos seguir.

A “Hora da Verdade”, a par do “Polígrafo”, na SIC, ganhou importância em tempos de pandemia devido às notícias falsas ou imprecisas?

O “fact checking” virou um género jornalístico. Criámos a “Hora da Verdade” porque consideramos o dever para contribuir para essa causa do desmontar notícias falsas. Somos poucos, devia haver mais horas da verdade e polígrafos nos jornais ou nas rádios. Isto não é um bem ou um feudo apenas de uma televisão. Faz parte. A pandemia veio provar que o “fact checking” é necessário. Esta pandemia tem pouca coisa boa, mas do pouco que teve de bom foi mostrar a necessidade do Jornalismo, as pessoas voltarem a socorrer-se dos jornalistas e das marcas de informação mais sérias para poderem confiar em alguém – num momento de aflição as pessoas precisaram de confiar em alguém e nós não as podemos defraudar Isso passa por fazer verificação de factos e notícias.

As audiências ainda estão mais altas neste período de restrição de circulação decretado pelo Governo?

Quando voltámos a confinar houve um acréscimo substancial de consumo de informação, não tão grande como o primeiro confinamento. E depois sentiu-se queda do consumo. Imagino que os telespetadores não são diferentes de nós, tem de haver saturação de notícias de pandemia, estamos há um ano a falar do assunto. As audiências refletem um certo desgaste das pessoas e cabe aos jornalistas abrir a cabeça e procurar outras notícias e não criar uma informação tão automática como nos últimos meses.

Que balanço faz destes seis meses de TVI e TVI24?

Um balanço positivo. Do ponto de vista de audiências tem sido feito um caminho de altos e baixos. O “J8” está mais próximo do “Jornal da Noite” da SIC do que estava em setembro e esse caminho não começou connosco, é justo dizer. O “Jornal da Uma” está mais próximo do líder e a TVI24 tem um caminho mais longo para percorrer. No “prime time” conseguimos dias a recuperar liderança ao líder dos canais de Informação e refiro-me só aos de informação. A televisão é hábito, demora, temos de ser coerentes e não defraudar o telespetador nem fazer mudanças em que o telespetadores não sabem com o que podem contar: de manhã temos o “Hoje é Notícia”, à tarde “Os Quatro”, à noite a “Noite 24” e o “Dilema”: há este cardápio de programas e esperamos que os telespetadores reconheçam um produto de qualidade e sobretudo diferente daquilo que a concorrência dá.

Como prevê o futuro e o ataque à liderança?

Fizemos este trabalho para chegarmos à frente, vamos acertar numas coisas e errar noutras e não teremos problemas em corrigir. Estamos perfeitamente convictos que é este o caminho, mas não vai ser já para o mês que vem, vai ser um caminho longo. Lembro que a última vez, nas generalistas, que mudou a liderança nas audiências, demorou 18 anos. Estamos cá há seis meses e reduzimos brutalmente a diferença para o líder.