Eunice Muñoz despede-se dos palcos com plateia rendida e António Costa emocionado

Eunice
Fotografia: Instagram Eunice Muñoz

No dia em que completou 80 anos de carreira, Eunice Muñoz despediu-se dos palcos com uma assistência rendida. O primeiro-ministro pediu para “não perder o sorriso”.

Foi com o Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, esgotado que Eunice Muñoz, 93 anos, se despediu dos palcos, onde atua precisamente há 80 anos, completados ontem. Quatro décadas depois de se ter estreado naquele anfiteatro, pela mão de Amélia Rey Colaço, a 28 de dezembro de 1941, com “Vendaval”, a intérprete disse um “até já” à atividade, ao lado da neta, Lídia Muñoz. Um “até já” justificado por a peça que interpretou, “A Margem do Tempo”, poder ter nova digressão em 2022.

Durante uma hora e dez minutos, os espectadores que encheram a sala não ouviram uma palavra das duas atrizes, mas fixaram cada gesto, particularmente da veterana intérprete, a fechar a janela do cenário como que a encerrar um capítulo ou a olhar para o relógio como se o tempo tivesse parado e eternizado aquele momento de despedida.

No fim, o público, de pé, mostrou se rendido e aplaudiu durante largos minutos, o que fez Eunice e Lídia multiplicarem-se se em vénias e regressar ao palco várias vezes. A última foi para as palavras emocionadas da veterana atriz. “Subi pela primeira vez a este palco há 80 anos. Voltei a subir hoje ao lado da neta. Este teatro foi a minha casa. Fui feliz no palco em tudo o que cá fiz”, começou por se dirigir a plateia. “Não posso deixar de falar da minha avó Augusta de quem recebi o talento. Da minha mestra Amélia Rey Colaço que deve estar hoje a celebrar connosco na dimensão em que agora vive”.

Em seguida, Eunice Muñoz lembrou a família. “Aos meus pais que me encaminharam no caminho do teatro. Gente que levava o sonho por cada sítio por onde passava. Agradeço sobretudo a vocês, ao público que me acarinhou, aplaudiu desde que comecei até agora que comemoro os meus 80 anos de carreira”.

Seguiu-se o testemunho para a neta. “Deixo a minha palavra a Lídia a quem passo este testemunho com a certeza de que continuará com a mesma exigência e talento com que agora a encarreguei”.

“A todos os meus colegas deixo o meu agradecimento e uma palavra de coragem para que continuem, porque o teatro precisa de nós no palco e de vocês que recebem o melhor que temos para dar. O teatro mostra que apesar dos dias estranhos e difíceis o belo continua a existir”, rematou.

António Costa, que esteve ao lado da ministra da Cultura e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa e entregou um ramo de flores a atriz, não escondeu a voz embargada: “É um enorme privilégio estarmos aqui a testemunhar 80 anos de carreira. Em nome de todos os que a viram, choraram, pensaram e amaram, muito obrigado pelo que fez. Por favor nunca perca esse sorriso que é um dos mais bonitos que há no mundo”, concluiu o primeiro-ministro.

No ecrã gigante do teatro passaram 80 imagens da carreira de Eunice Muñoz, entre elas algumas contracenas históricas com o ator Ruy de Carvalho.