Exclusivo N-TV. Fátima Lopes em entrevista: “Já estive do lado em que se perdia, para mim é um déjà vu”

“O meu caminho, a minha Fé” é o novo livro de Fátima Lopes. A obra foi o pretexto para a N-TV entrevistar, em exclusivo, a apresentadora de “A Tarde é Sua” da TVI, que completou, recentemente, 50 anos. Na Feira do Livro, em Lisboa, Fátima Lopes comenta a atual perda de audiências da TVI e garante que o objetivo é “voltar à liderança”. Não se escusa a falar da vida pessoal e admite que não tem namorado e que se dá “muito bem” com os seus ex-maridos.

A TVI não tem estado numa posição fácil nos últimos meses, com perdas sucessivas para a SIC. Depois de anos a ganhar, como é estar do outro lado?

Eu já estive do lado em que se perdia, portanto para mim é um déjà vu. Estive na SIC anos e anos a ganhar, depois perdemos a liderança. Perdi a liderança para o Manel (Luís Goucha) e para a Cristina (Ferreira). Estive anos a perder. Vim para a TVI e foram oito anos consecutivos a ganhar. Agora estou a perder. Para mim faz parte dos ciclos e também as empresas têm ciclos. E estes ciclos em que as coisas não correm tão bem são oportunidades gigantes de transformação e crescimento. Se as encararmos assim, a seguir estaremos muito mais fortes.

Mas não lamenta que algo não esteja a correr bem?

Eu não lamento nada! Eu olho para o meu produto e penso: “Onde é que eu posso melhorar?”, “Onde é que eu posso fazer diferente?”. É claro que não é simpático chegar e ver que, uma vez mais, naquele dia, o programa não ganhou. Claro que é preferível chegar e dizer “Olha que maravilha!”. Estive oito anos a ganhar e a pensar “Olha que maravilha!” Todos os dias chegava e ganhava. E agora todos os dias chego e estou a perder. É uma oportunidade para também me restruturar a mim, à minha equipa e para ir buscar em mim coisas que, se calhar, ainda não pus em prática. Já tenho uma série de planos, e a TVI também, de coisas que vou começar a fazer.

Pode adiantar alguma coisa?

São coisas que tenho imensa vontade de fazer e não tinha tido oportunidade ainda. Agora tenho, e vou começar a fazê-las para o “A Tarde é Sua”. Portanto, se calhar não estamos a perder assim tanto. Estamos a instruir-nos e a ganhar competências.

O seu novo livro fala de Fé. Tem Fé que a TVI volte a ser o canal preferido dos portugueses?

Aí não é uma questão de Fé, é uma questão de querer e trabalhar para isso. É uma questão de objetivos e eu trabalho por objetivos – sou focadíssima! O objetivo agora é voltar à liderança. Quanto tempo é que isso vai demorar? Seis meses? Seis anos? 12 anos? Não sei, a SIC levou 14 anos a recuperar a liderança. 14 anos! Tiveram que esperar muito para voltar a ganhar, e agora estão a saborear isso. Não sei quanto tempo vamos precisar, será o necessário. O importante é focar-nos nos resultados e trabalhar para isso.

Mudando de assunto. Com 50 anos parece estar mais feliz que nunca. Parece, ou está mesmo?

É difícil se uma pessoa não estiver feliz parecer o contrário. Acho que todos nós somos muito transparentes e que quando não estamos bem os outros percebem. Não há maquilhagem que disfarce aquilo que o estado de espírito não reflete. Estou numa fase muito bonita da minha vida, uma fase de tranquilidade acima de tudo. Tenho noção do caminho que fiz até agora e tenho orgulho desse caminho mesmo com todos os tropeções. Porque todos esses tropeções foram importantes para mim, ajudaram-me a crescer. Portanto, não lamento nada daquilo que a vida me trouxe, com mais ou menos sofrimento, foi tudo essencial. Sou uma pessoa que hoje tem consciência do seu valor enquanto mulher e ser humano. Mas eu trabalhei muito para chegar aqui, não me caiu do céu. Esta autoestima, esta valorização, este estar bem comigo, este aceitar a minha idade com tudo o que isso significa, é resultado de um trabalho.

Qual é o seu principal investimento?

O meu maior investimento foi sempre em mim própria. Porque eu tenho que ser a pessoa que vale mais a pena na minha vida, porque sou a única que vai estar comigo até ao fim do meus dias, não é? O importante é trabalharmos em nós, para encontrarmos aquilo que nos equilibra e que nos faz sentido. Esse é o maior e melhor investimento que podemos fazer. Há pessoas que preferem investir nas coisas materiais. Eu prefiro investir em mim e no meu crescimento enquanto pessoa.

Qual é o segredo dessa serenidade?

O segredo da serenidade é um trabalho espiritual e de desenvolvimento pessoal, porque as duas coisas são muito importantes. É o procurar ferramentas para encontrar serenidade quando às vezes a vida nos traz grandes turbilhões. É encontrar formas de sair das situações mais complexas. Isto dá muito mais trabalho do que baixar os braços. O caminho mais simples é desistir, o outro é francamente mais trabalhoso. Mas eu prefiro, porque sei o que está a seguir. E o que está a seguir agrada-me muito mais do que simplesmente passar pela vida. Eu não quero passar pela vida. Quero viver a vida. Ainda hoje de manhã estava a passear o meu cão e estava a pensar assim: “Bolas! Isto podia ser só passear o cão, mas não é. Eu tenho a sorte de estar bem, tenho saúde e estou aqui tranquila na minha vida. Isto tudo já é uma benção”. Às vezes o que nos faz falta é tempo para saborear as pequenas coisas da vida e as pequenas conquistas. Vivemos apressadamente, a ansiar pelo “amanhã”, e esquecemo-nos de aproveitar o “hoje”. Mas tem que ser, se não a vida é sofrida só. E ela não pode ser só sofrida, tem que ter coisas boas. Repare: as pessoas vêm de propósito muitas vezes à Feira do Livro só para me dar um beijinho, para vir buscar o meu livro e para me conhecerem. É um privilégio.

E a fórmula da boa forma física?

As pessoas dizem “Ai! a forma física, como é que é possível?”. Não cai do céu. Muito trabalho, uma vez mais. Porque dá muito trabalho e exige muita disciplina. Disciplina com a alimentação, com o exercício físico e com os hábitos. Eu não fumo, bebo socialmente numa situação ou outra. Tenho bons hábitos e os bons hábitos trazem bons resultados. O que não quer dizer que de vez em quando não existam situações que não correm tão bem. As pessoas sabem que ainda agora tive uma contratura gigante nas costas, e tive que ficar um dia sem fazer o programa. Isto não torna ninguém infalível, isso não existe! Não existe, nem ninguém está sempre bem. Porém, temos mais capacidade para enfrentar os desafios quando eles surgem. Já é uma vitória.

É uma mulher livre. Tem alguém especial na sua vida ou está sozinha?

Separei-me há dois anos, não tenho namorado e estou bem assim. Para mim, o importante é dar-me bem com toda a gente. Dou-me muito bem com os meus dois ex-maridos e respetivas famílias, com quem tenho uma relação muito estreita. Quando digo muito estreita é de contínuo convívio em casa deles, como se pertencesse à família. E continuo a ser convidada para as festas de família, e isso para mim é o mais importante: é sinal que as pessoas são muitíssimo inteligentes emocionalmente.

O livro “O meu caminho, a minha Fé” foi lançado há pouco tempo. Ainda assim, que feedback tem recebido?

Um ótimo feedback. Está nos tops todos, é sinal que as pessoas ficaram muito curiosas em relação ao livro. Talvez o feedback que eu mais registe seja o das pessoas que o compraram não tendo Fé de espécie alguma. É curioso porque são essas pessoas que sentem mais necessidade de se manifestar e dizer: “Eu mesmo sem Fé nenhuma resolvi comprar e ler o livro para perceber o que é que me dizia. E percebi que, embora eu não acredite no teu Deus, aquilo que tu dizes sobre a vida a mim faz-me sentido.” E sinto isso como um enormíssimo elogio.

Enviou um exemplar para o Papa?

Mandei um livro para o Vaticano, como é suposto numa situação como esta. Já recebi a carta de agradecimento do Papa Francisco. O Papa ficou muito satisfeito por o livro ter sido lançado exatamente depois da vinda dele ao Santuário de Fátima. Recebi a carta na semana passada e confesso que fiquei com o coração cheio de gratidão e felicidade.

A Fé é muito importante para si. Como é que ela se manifesta na sua vida?

Em tudo. Ou a temos ou não a temos. A Fé é aquilo que nos permite acreditar ou não que existe – além daquela que é a dimensão física e que todos nós conhecemos muito bem – uma outra dimensão que trabalha e caminha connosco. Aquela coisa de estarmos aqui só à espera que aconteça, não é a minha Fé. A minha Fé é uma Fé proativa. É uma Fé em que eu venho para fazer coisas: tenho de descobrir a minha missão, tenho de estar atenta à vida, aos sinais, porque eles chegam para me orientarem no meu caminho. A Fé é uma coisa que se vive caminhando, comungando, partilhando. Não é uma coisa que alguém debita não sei de onde e nós aqui, quais bonequinhos, executamos. Essa não é a minha Fé. A minha Fé é uma coisa poderosíssima onde eu tenho um papel ativo muitíssimo importante. Portanto não a posso delegar a mais ninguém.

TEXTO: Maria Leonor Gaspar

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