Ricardo Araújo Pereira, humorista, esteve na Feira do Livro no lançamento de “Mixórdia de Temáticas, Série Lobato”. O também comentador político tem estado na ribalta após o programa sobre as eleições Europeias no “Gente Que Não Sabe Estar”. A N-TV falou com ele.
Qual é o balanço que faz do programa “Gente Que Não Sabe Estar”, na TVI?
Acho que foi melhor do que o que eu esperava porque o programa tem alguma repercussão, as pessoas falam do assunto, discutem-no à segunda-feira… Param para vê-lo, o que é simpático! Não é fácil ter muitas audiências hoje, porque o público está disperso por várias plataformas: Netflix, Internet, Youtube… As novelas têm um milhão de espectadores, e nós temos entre 1,2 a 1,5 milhões, o que é muito simpático da parte das pessoas. Haver esse interesse… É um programa humorístico, mas os temas são assuntos da política nacional e à partida poder-se-ia pensar que talvez não fossem os mais palatáveis para um público tão vasto. Depois havemos de fazer em direto na altura das eleições Legislativas, mas temos umas férias pelo meio.
O último programa das eleições Europeias foi muito elogiado. Por incrível que pareça continua a haver material de gozo com os nossos políticos? Sente que são uma fonte inesgotável?
É uma fonte inesgotável, sim. Mas atenção, às vezes a culpa nem sequer é deles, no sentido em que nós exigimos muito deles. Nós exigimos que tenham uma exposição muito grande, que estejam sempre a falar, feiras, entrevistas, debates… É fatal que uma pessoa que tem uma exposição tão grande meta a pata a poça. Acho saudável que as pessoas se possam rir dos seus dirigentes, é bom numa democracia. É bom numa democracia que o poder seja dessacralizado, e claro que todos respeitamos as instituições e é assim que isto funciona. Nós elegemos aquelas pessoas para elas nos representarem, mas depois também podemos fazer pouco delas.
E o “Governo Sombra”, na TVI24, é para continuar?
Acho que sim, pelo menos ainda ninguém disse o contrário. Aquilo são quatro pessoas a dizer coisas, durante uma hora. Eu percebo a sua pergunta no sentido em que “como é que é possível isto continuar?”, mas o certo é que tem continuado. Vamos ver! Acho que a grande vantagem do “Governo Sombra”, se é que ele tem alguma, é que ninguém ali tem uma agenda. Ninguém está a tentar ser secretário de Estado, ninguém está a tentar mobilizar eleitores opara votarem num determinado sentido. É claro que todos nós temos a nossa orientação de voto, mas não estamos ali para fazer proselitismo. Estamos ali de uma forma independente, não devemos nada a ninguém, não devemos obediência a ninguém e podemos dizer o que nos apetece. As pessoas estão a ver aquilo e sabem: “este tipo não tem uma agenda escondida”.
Como é este contacto com o público dos livros? E com o público do “Gente Que Não Sabe Estar”?
Boa. Não me posso queixar, antes pelo contrário! As pessoas são muito afetuosas e portanto não posso, nem sequer me apetece, fazer a rábula do: “aí que maçada! Por amor de Deus, moderem o vosso afeto.” Seria absurdo e portanto agradeço muito, agradeço imenso.
Acha que este registo escrito é tão apreciado como a rubrica na Rádio Comercial?
Duvido! Eu acho que isto é para colecionadores, ou gente que quer ter um registo daquilo. Ou então, que quer brincar com os amigos às mixórdias: “tu ficas este, tu ficas aquele...”. E interpretam os textos lá em casa. É capaz de ser isso. Na rádio sempre ofereço mais qualquer coisa, a voz, barulhos, estão lá os meus amigos, etc. Isto é só o texto. Sinceramente não faço ideia de quem é que compra isto e com que objetivo.
TEXTO: Maria Leonor Gaspar