O ator e humorista brasileiro segue os passos de José Saramago na série documental “Viagem a Portugal” e descobre o Portugal profundo. Quanto às eleições brasileiras, lamenta ter de escolher entre “um demónio e um cone” e arrasa Bolsonaro.
A RTP1 estreou a 22 de outubro, às 21h00 a série documental “Viagem a Portugal”, baseada na obra de José Saramago, que entre outubro de 1979 e julho de 1980 andou pelo país de lés a lés a convite do Círculo de Leitores. Agora, a estação pública percorre geograficamente ao longo de seis episódios a obra do escritor através do olhar curioso e divertido de Fábio Porchat.
Este é um programa que se enquadra nas comemorações do centenário do nascimento do prémio Nobel da Literatura e assinala também a reedição da obra editada exatamente há 40 anos, que surge agora com uma edição especial, que inclui imagens inéditas recolhidas pelo próprio autor, José Saramago.
“Não fomos a todos os locais que queríamos porque resolvemos não fazer as coisas a correr, mas aproveitar os sítios, com calma”, disse o humorista brasileiro à N-TV, ele que se celebrizou com a plataforma “Porta dos Fundos”. “O José Saramago achou que valia a pena visitar Romeu, por causa do nome, e fiquei encantado, parecia um conto de fadas, é uma aldeia dentro da floresta e deparei-me com casas de pedra e idosos, que são pedaços de Portugal que contam histórias”, acrescentou Fábio Porchat.
O comunicador encontrou pessoas que se cruzam com o Nobel da Literatura há 40 anos. “Uns não sabiam quem eu era, mas outros também não sabiam quem era o Saramago quando ele passou por lá”, acrescentou, entre sorrisos. “Uma senhora só descobriu quem ele era mais tarde e começou a ler os livros”.
“Houve mesmo filhos de pessoas que se cruzaram com Saramago e que eram crianças na altura que agora nos levaram pelos caminhos que ele percorreu. Ele não queria olhar para o banal, o comum. Ele gostava de ver as coisas que nós não conseguimos ver”, salientou o novo anfitrião de “Viagem a Portugal”.
Fábio Porchat não tinha lido o livro, acabou por fazê-lo e releu-o depois de terminar de gravar esta série documental. “Ficou muito mais saboroso, porque entendi melhor pela leitura. Depois, Portugal estava numa situação em 1981 e, agora, em 2022, está noutra completamente diferente. O povo português é muito diferente e houve muitos lugares que foram reformados”.
O ator refere, em seguida, que a série é um bom pretexto para não só os portugueses como os brasileiros se “conectarem” com o país: “Os turistas brasileiros vão ao Porto, Fátima e Lisboa. Vamos conhecer Portugal a fundo e lugares, que são tão lindos!”
Pelo meio, tempo para perceber melhor os portugueses. “Senti que são muito menos carrancudos que vocês mesmo imaginam. Todos me receberam bem, as pessoas queriam falar e dar entrevistas. Não achei o povo nada fechado, aliás, achei muito aberto, estava à espera de encontrar mais dificuldades para falar com as pessoas. Acabou por ser direto e de caras!”
Finalmente, Fábio Porchat justificou a escolha por um anfitrião brasileiro. “Quando me convidaram pensei: ‘não seria melhor chamar um português?’. Disseram que queriam uma pessoa com um carinho por Portugal, mas que se surpreenda. Acho que faz sentido, porque o meu olhar para o Rio de Janeiro não é tão fresco quanto o de um português quando chega lá. Muitas das histórias vocês já conhecem, mas, para mim, foi uma loucura! O meu olhar virgem e carinhoso para estas coisas faz esta diferença”.
A concluir, o intérprete abordou as eleições do Brasil, que vão ser disputadas entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva: “Só quero que este pesadelo acabe. A única coisa que me deixa tranquilo é que não é só Brasil que está assim, a tendência da extrema-direita maluca é mundial. Sinto-me menos imbecil de ser brasileiro”, ironiza.
Seguem-se muitas críticas a Jair Bolsonaro e ao Brasil dos últimos anos. “Eles quando chegam querem destruir a Democracia por dentro”, começa por referir. “Ficámos divididos entre Lula e Bolsonaro e eu queria ter umas quatro caras novas, diferentes. Mas só há os dois e você ou vota no demónio ou no cone, portanto vai votar no cone, não vai votar na pessoa que não comprou vacinas, que imita gente a morrer na pandemia, não visitou um hospital e é uma pessoa má. Antes de falar de corrupção devemos falar de democracia e dignidade humana. Ele destruiu a Cultura”, rematou.