As razões fervilhavam-lhe na cabeça há muito. No sábado, lançou um “repto editorial” em direto na Sport TV dirigido aos responsáveis das televisões portuguesas. “Acabem com esses programas que só dizem mal do futebol. Há tanta coisa bonita para mostrar. O futebol é lindo”. À N-TV explicou a sua indignação. Mas nem o próprio comentador acredita muito na eficácia do pedido que lançou…
Uma jogada de Gelson Martins, jogador do Sporting, sábado à noite no Estádio do Bessa, fez soltar a tampa da panela de pressão. “O que eu disse na transmissão do Boavista-Sporting não foi nada previamente pensado. Aquilo é algo que eu sinto no dia-a-dia e que saiu naturalmente”, explica o comentador à N-TV.
Luís Freitas Lobo mostra-se “cansado dos programas que só mostram o lado negro do futebol”. E não esconde a sua indignação. “Recuso-me a aceitar que os responsáveis editoriais das televisões só promovam o lado negro do futebol. O lado bonito da modalidade – as jogadas, os gestos técnicos, a preparação táctica dos treinadores, os adeptos – é muito superior ao lado negro, mas o que vemos, semana após semana, são programas miméticos que se limitam a atacar o futebol”.
O comentador, que tem experiência em imprensa, rádio e televisão, sublinha que “a beleza do futebol dá para encher emissões todas as semanas em todos os canais, porque cada jogo é uma metáfora da vida: naqueles 90 minutos juntam-se a alegria, a tristeza, o medo, a ambição, a coragem”.
Luís Freitas Lobo afirma à N-TV não conseguir compreender “como as televisões insistem em dar palco a essa gente que não percebe nada de futebol, contribuindo assim para a destruição da modalidade, porque ninguém atrai público para o futebol se ele estiver sempre a ser denegrido”.
O profissional diz saber que os programas que tanto critica têm muitas audiências e que essa é uma das razões porque figuram nas grelhas de todos os canais. “Isso não me diz nada, porque esse é o mesmo critério que faz com que as pessoas parem numa autoestrada para ver um acidente no sentido contrário. Há muita falta de cultura das pessoas. Não estou a falar de cultura desportiva, estou a falar de cultura mesmo. E as televisões aproveitam-se disso, apelando aos sentimentos mais primários”, lamenta.
Luís Freitas Lobo, 50 anos, comentador do jornal “O Jogo”, da TSF e da Sport TV, diz que os agentes desportivos têm de participar nesse movimento e, por isso, chama-os a jogo. “É claro que todos têm de participar, e também a Liga. Mas são as televisões que têm de deixar de dar palco a essa gente e estabelecer protocolos com a Liga para se divulgar a modalidade de outra forma, como acontece em países como Espanha, Itália ou Inglaterra”, sublinha.
Para o especialista em futebol, estamos a chegar a um momento “em que as pessoas começam a revelar grande cansaço desta troca constante de acusações e dos expedientes utilizados para denegrir o futebol”. Mas, insiste, isso não chegará “se os diretores dos canais não mudarem de atitude e optarem por fazer diferente, em vez de copiar modelos que dão certo no canal do lado”.
Apesar de “a esperança ser a última a morrer”, Freitas Lobo confessa à N-TV não acreditar muito na eficácia do seu repto. “Diria que a minha coragem é superior à minha esperança. Por aquilo que conheço dos decisores nas redações, não acredito que as coisas possam mudar”, admite. Mas, promete, estará sempre “na primeira linha do combate a esse tipo de programas que só dizem mal do futebol”.
“Pode ser uma guerra perdida mas eu estarei sempre, quixotescamente, na primeira linha do combate”, conclui.
TEXTO: Nuno Azinheira