João Manzarra despede-se de “A Árvore dos Desejos”: “Sonhar não é exclusivo das crianças”

João Manzarra
Fotografia: Instagram João Manzarra

Com a pandemia do “Covid-19” o programa da SIC chega mais cedo ao fim e o apresentador despediu-se com uma mensagem emocionada nas redes sociais.

“A ‘Árvore dos Desejos’ chegou ao fim. Deu-me enorme alegria perceber o impacto positivo do programa na vida de tantos bem como receber todas as mensagens incríveis que partilho com todos os intervenientes. No entanto, muitas delas, em tom de brincadeira ou elogio, referiam que no seu ecrã, eu fui ou parecia ser uma criança. O que não me deixa de forma alguma melindrado porque entendo a intenção e o racional, mas que é sintomático da imagem que atribuímos ao que é ser adulto. E para mim é bem claro que se eu naquele espaço fosse criança jamais conseguiria gerir todas as dinâmicas exigidas. Um adulto é a meu ver uma criança otimizada”, começou por escrever no Facebook.

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A Árvore dos Desejos chegou ao fim. Deu-me enorme alegria perceber o impacto positivo do programa na vida de tantos bem como receber todas as mensagens incríveis que partilho com todos os intervenientes. No entanto, muitas delas, em tom de brincadeira ou elogio, referiam que no seu ecrã, eu fui ou parecia ser uma criança. O que não me deixa de forma alguma melindrado porque entendo a intenção e o racional, mas que é sintomático da imagem que atribuímos ao que é ser adulto. E para mim é bem claro que se eu naquele espaço fosse criança jamais conseguiria gerir todas as dinâmicas exigidas. Um adulto é a meu ver uma criança optimizada. Foi preciso chegar a adulto para ser consciente da importância  da gentileza e da compaixão. Foi preciso  chegar a adulto para ter inúmeros encontros com todo o tipo de pessoas, situações ou palavras nos livros e poder partilhar o que vivi. Foi preciso chegar a adulto para ser mais ético e admitir a minha responsabilidade em quase tudo o que acontece. Foi também preciso chegar a adulto para entender que brincar, imaginar e sonhar não é exclusivo das crianças. Sinto-me criança quando passo demasiado tempo ao telemóvel, compro coisas inúteis, me irrito no trânsito ou empilho roupa suja no canto do quarto. É o “eu” que identificou os seus próprios erros e que não os corrigiu.  Ser adulto é tomar consciência das falhas e não resignar. Há a tendência de enaltecer o “ser criança” e pesar no “ser adulto” quando todos os segundos da nossa existência somos convidados a tomar decisões que nos permitem transformar numa versão melhorada de nós próprios. Um adulto é responsável quando entrega amor e terreno fértil para as crianças desenvolverem as sua potencialidades, enquanto ensina os limites, diz que não podem ter, nem fazer tudo, que não estão isoladas do mundo e que não são mais que ninguém. Quando nos admiramos com os mais novos e com os seus desejos, é porque foram, salvo raras excepções, bem encaminhados por quem os rodeia. Sendo a vida  uma sucessão de encontros inéditos com o Mundo, que na maioria das vezes é o outro , é fundamental ensinar a usar a razão para fazer desses encontros experiências agradáveis. (continua nos comentários)

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“Foi preciso chegar a adulto para ser consciente da importância da gentileza e da compaixão. Foi preciso chegar a adulto para ter inúmeros encontros com todo o tipo de pessoas, situações ou palavras nos livros e poder partilhar o que vivi. Foi preciso chegar a adulto para ser mais ético e admitir a minha responsabilidade em quase tudo o que acontece. Foi também preciso chegar a adulto para entender que brincar, imaginar e sonhar não é exclusivo das crianças”, acrescentou.

“Cabe-me agradecer a todos e garantir que naquele momento fui o melhor adulto que sei ser, responsável das minhas decisões e resultado em grande parte de como o meu pai, mãe, músicos, irmão, avós, amigos, colegas, autores, chefes, vizinhos, professores, senhor do café, políticos, artistas, personagens de livros, senhor da portagem, comentários, senhorios, caixa do supermercado, trabalhadores das finanças ou do banco me afetaram (e eu a eles) deixando-me muitas vezes alegre e outras triste. Se a Felicidade passa pela sensação de estar onde devo estar, eu tenho sido muito feliz”, concluiu João Manzarra.