Jorge Gabriel recebeu “ameaça de despedimento por insubordinação” de anterior administração da RTP

Fotografia: Rui Oliveira/Global Imagens

O caso remonta a 2012, mas só agora foi tornado público. E na primeira pessoa. Jorge Gabriel diz ter recebido “uma ameaça de despedimento por insubordinação” da anterior administração da RTP, na altura presidida por Alberto da Ponte.

O motivo prendeu-se com a tomada de posição do apresentador contra a transferência da produção do programa “Praça da Alegria” para Lisboa. Jorge Gabriel conduzia o “talk show” matinal da estação estatal no Porto desde 2002, ao lado de Sónia Araújo.

Uma decisão controversa da anterior administração e direção de programas do operador público, que se concretizou em janeiro de 2013. Alberto da Ponte era presidente da televisão pública e Hugo Andrade o responsável máximo pela programação da RTP. Tânia Ribas de Oliveira e João Baião foram os rostos escolhidos para conduzir a nova versão do programa “Praça da Alegria”, nos estúdios de Lisboa e não nos de Monte da Virgem, em Gaia.

Na altura, Jorge Gabriel fez ouvir a sua voz, contra este despacho. O apresentador, agora com 49 anos, marcou presença, inclusivamente, numa vigília organizada por trabalhadores, amigos e espectadores em frente às instalações da RTP. A decisão tinha sido comunicada uma semana antes. “No Porto… todo o país!” era o lema da intervenção, levada a cabo por profissionais do Centro de Produção do Norte do operador público.

“Os que julgam que o Norte vai ficar mais coxo, menos empreendedor e menos empenhado podem desenganar-se”, afirmava Jorge Gabriel, nessa vigília, em declarações aos jornalistas.

Um posicionamento que, revela agora em declarações à revista digital de Júlia Pinheiro, Júlia – De Bem Com A Vida, não terá agradado a administração da RTP. O mote da conversa foi o silêncio. “Na minha caminhada profissional, foram muitas as ‘manadas de elefantes’ que tive de engolir para não me prejudicar, apesar de estar confiante na minha razão. Noutras ocasiões, as injustiças eram insuportáveis e não me contive”, afirma o apresentador, que admite ainda o caso “mais recente” por que passou.

“A inconsistência da argumentação utilizada levou-me a tornar pública a minha oposição, nunca faltando ao respeito à entidade empregadora, mas apenas usando uma das conquistas de Abril de 1974: a liberdade de expressão”, relata.

“Tal decisão levou a que fosse chamado à
administração da empresa recebendo uma ameaça
de despedimento por insubordinação.”

Jorge Gabriel

“O silêncio, ou a falta dele, tem os seus custos”, termina o profissional da RTP.

Vale a pena recordar alguns factos. Alberto da Ponte permaneceu na administração da empresa pública até 2015. Viria a morrer, vítima de doença prolongada, em janeiro deste ano, aos 64 anos. Hugo Andrade, então diretor de programas, foi exonerado do seu cargo na altura da mudança de administração da RTP, agora liderada por Gonçalo Reis. Daniel Deusdado foi o homem escolhido para ocupar o seu cargo, no qual ainda se mantém atualmente.

Com as alterações na estrutura do operador público, há também novas mudanças na grelha da RTP. O formato “Praça da Alegria” já havia sido extinto da programação do primeiro canal (com a saída de João Baião para a SIC, Tânia permanece, até junho de 2014, sozinha na condução do programa). O substituto encontrado foi “Agora Nós”, que ocupou as manhãs da RTP1 de setembro de 2014 ao verão do ano seguinte. A apresentação estava entregue a Tânia e a José Pedro Vasconcelos.

Quando a administração de Gonçalo Reis entrou em ação, houve o regresso da transmissão diária de um formato de entretenimento a partir do Centro de Produção do Norte da RTP. Agora chamado de “A Praça”, estreado em setembro de 2015, o programa trouxe de volta Sónia Araújo e Jorge Gabriel ao “day time” diário da estação pública. Até aí, a dupla estava reunida apenas no programa “Aqui Portugal”, emitido aos sábados.

TEXTO: Dúlio Silva