Jorge Jesus e as “calinadas”. “Eu sou é treinador de futebol, não sou professor de Português”

Jorge Jesus desvalorizou este sábado os seus problemas de expressão em português, sublinhando que “o importante é ser capaz de passar as ideias” aos seus jogadores.

“Fui formado numa faculdade, foi onde eu passei como jogador. Essa é que foi a minha formação. Não tirei uma disciplina de professor de Português. Eu sou é treinador de futebol, não sou professor de Português”, afirmou o treinador do Sporting em entrevista ao programa “Alta Definição”, da SIC, que assinala este sábado as 400 emissões.

Interrogado por Daniel Oliveira, Jorge Jesus afirmou que “ser treinador de futebol não é só perceber de técnica e de táctica”. “Dou calinadas, como tanta gente dá calinadas, mas o que é importante é que depois eu não dê calinadas nas minhas ideias e no meu diálogo com os jogadores, de forma a que eles percebam o que está em causa. E essas ideias têm de ser passadas com muita clareza e objetividade”, sublinhou.

Aos 63 anos, Jesus agradece ao futebol. “O futebol deu-me tudo. Deu-me independência económica, ajudou-me a crescer como homem, ajudou a que eu hoje tivesse as posses para poder educar a minha família e ajudá-la. Se não fosse o futebol, não teria sido possível. O futebol ajudou-me a ser responsável, organizado, a saber viver com as regras de uma sociedade. Tudo o que eu hoje sou devo ao futebol, não tenho dúvida nenhuma”.

Numa entrevista emotiva, Jorge Jesus lembrou a passagem do Benfica para o Sporting, dizendo que “nunca” foi “ofendido na rua”, mas que esse episódio ajudou-o a perceber a emoção do futebol, “por causas crianças”. “Eu nunca nego autógrafos nem fotografias, mas as crianças, muitas vezes, perguntam-me porque é que eu mudei”, recorda, acrescentando, porém, que não traiu o Benfica. “Eu não sou traidor, apenas mudei de clube”.

Falando das origens e da sua experiência como soldador, o técnico leonino recordou a mãe, num dos momentos mais intensos da entrevista a Daniel Oliveira. “Ela já não está comigo fisicamente, mas continua a viver cá dentro”, disse emocionado, recordando os “oito a nove anos de luto” por que passou. “Só vesti de preto durante esse tempo todo. Eu queria senti-la. Achava que era uma forma de senti-la (pausa). Penso nela todos os dias. Não sei avaliar o que o sentimento de um filho por uma mãe. A minha mãe já faleceu em 1994 e ela continua a estar dentro de mim”.

Jorge Jesus revelou-se mais pacificado com a morte do pai, mais recente, “há cerca de um ano”. “O ciclo da vida é assim. O meu pai faleceu com Alzheimer, uma doença muito complicada. Todos os dias eu saía do treino e ia ver o meu pai, mas foi uma situação completamente diferente, porque o Alzheimer é uma doença degenerativa e cada vez as pessoas vão ficando pior”, afirmou a Daniel Oliveira, acrescentando que o estado de saúde do pai, adepto confesso do Sporting, já não lhe permitiram perceber que o filho treinava o clube de Alvalade. “Nestes últimos dois anos, ele já não tinha noção nenhuma disso. Nunca soube”, afirmou, acrescentando que o pai “foi um herói”.

Considerando-se um homem”politicamente incorreto”, e com “o coração ao pé da boca”, Jorge Jesus, já no final da entrevista, sublinhou que ninguém lhe deve um pedido de desculpas. “Uma das coisas fundamentais no ser humano é a gratidão. Eu sou grato. Há pessoas que não são tão gratas, mas eu perdoo tudo. Mas não esqueço. Mas também não guardo rancores. Não sei o que é essa palavra. Ou seja, sei o seu significado, mas não entra no meu vocabulário”, concluiu.

TEXTO: Nuno Azinheira

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.