José Fragoso explica aposta da RTP nas séries

José Fragoso

Com “O Atentado” a chegar aos ecrãs da RTP no próximo ano, o diretor de Programas da estação pública justifica a aposta em séries e explica porque a concorrência dá prioridade às novelas.

Chama-se “O Atentado” e é uma série histórica que a RTP está a gravar sobre a tentativa de assassinato a Salazar. A obra, da autoria de Moita Flores, com direção de Jorge Paixão da Costa e interpretações de José Pedro Vasconcelos, Tiago Aldeia ou Tomás Alves, deve estrear na RTP no próximo ano.

Uma oportunidade para conversar com José Fragoso, diretor de Programas da RTP1, sobre séries, ele que justifica a aposta em mais uma – depois de “Auga Seca” ou “Luz Vermelha” -, com o facto de ser um dos pilares da estação “garantir que a ficção continua a produzir-se em Portugal”.

“Hoje em dia mais ninguém está a produzir ficção, nomeadamente histórica, nos canais comerciais. Isso não acontece e a RTP tem de garantir que o público tem acesso a conteúdos que fazem parte do nosso passado, porque há uma memória coletiva”, justifica o responsável.

“Recentemente fizemos o ‘Variações’, que é mais contemporâneo, mas temos tentado cruzar conteúdos produzidos pela RTP que estão disponíveis no cinema, que podem virar séries. É uma área que os próprios produtores acompanham e para a qual desenvolvem projetos”.

Mas por que é que os canais comerciais não apostam nesta vertente da ficção nacional? José Fragoso explica: “Portugal tem uma especificidade ao nível da ficção, por uma questão histórica: começámos a ter contacto com a ficção via telenovelas, que têm o padrão de consumo do espetador à frente do ecrã todos os dias”.

O responsável do canal público dá exemplos. “O espetador espanhol percebe que à terça tem uma série e à quarta um programa de entretenimento; para o espetador português o menu chegou a ser uma novela às 21, outra às 22 e outra às 23 horas. Isto acontece na América Latina, mas não em Espanha e França praticamente não produz. Isto cria um padrão de relacionamento com a ficção que é diferente dos outros países”.

Fragoso recorda que “a SIC e a TVI produzem mais de mil capítulos de novelas por ano e isso cria uma indústria e canibaliza a atenção do telespetador”. “Quando ele tem opção de ver um capítulo agora, outro amanhã e outro depois, ou, por outro lado, um só na próxima semana, cria-se um conflito interior”.

Por isso, a aposta da RTP é clara. “A ideia é termos espetadores que queiram conteúdos mais trabalhados. Quando um telespetador vê uma série está a ser estimulado e até interpelado por o próprio produto”.

Já na SIC e na TVI: “Um canal comercial não pode dar-se ao luxo de parar uma sequência (de novelas) que sabe que vai ter resultados para ir fazer conteúdo com um perfil mais arriscado. Nesta, como noutras áreas, a RTP é fundamental”, remata José Fragoso.