Afastada das novelas e dedicada às séries, ao cinema, ou à Literatura, a atriz revela como a representação a influencia na escrita.
O grande público reconhece-a, sobretudo, do protagonismo em inúmeras novelas – como “Meu Amor”, “A Outra” ou, a última que protagonizou, “Poderosas” – mas desde 2015 que Margarida Marinho decidiu dedicar-se às séries – “Vidago Palace”, “Sul”, “A Generala”, ou a mais recente “Lúcia, a Guardiã do Segredo”, e ao cinema.
“Neste momento faço séries e cinema. Está a correr muito bem e neste momento até já estou em ensaios para um novo filme”, revela a atriz, sem adiantar mais pormenores, em declarações à N-TV, na Feira do Livro de Lisboa.
O que o grande público poderá desconhecer é uma vida dedicada à escrita, em jornais e revistas e, nos últimos anos, anos, a aposta na literatura infanto-juvenil, com dois livros lançados: “Tattoo”, em 2015 e, mais recentemente, “A Magias das Boas Palavras”.
Margarida Marinho admite que a faceta de intérprete nota-se nas suas obras. “Uma narrativa literária está recheada de imagens e elas, no meu caso, estão diretamente relacionadas com a minha profissão enquanto atriz”, refere. “A atriz de cinema, de teatro e toda a literatura que me serviu de suporte para esse tipo de construção, obviamente que alimentam o que escrevo, é inevitável, não há forma de evitar”, acrescenta.
Para a artista, a escrita não é um complemento à representação. “Nunca pensei que isto me completasse. Desde criança que escrevo, mesmo antes de ser atriz já colaborava em jornal. Antes de editar livros fiz colaborações no ‘DNA’, na revista ‘Egoísta’ e entre outras tantas e por isso sempre editei. A aventura de publicar romances infanto-juvenis só iniciei em 2017 com o ‘Tattoo’ e esta é a minha segunda aventura”.
Margarida Marinho revela como inicia o processo criativo. “Há uma zona mais ou menos construída e outra que é uma aventura, porque é somo se houvesse uma espécie de voz que se apodera da construção onde estamos a navegar. Tenho uma forma de construir diálogos e narrativas que já não sei até que ponto é que está misturada com o meu ‘eu’ atriz, porque não me consigo dissociar da pessoa que representa, trabalha personagens, está habituada a tipologias e imagens”.
A “mão” da artista “não é livre”. “Não é livre no sentido de que estou a escrever sem lastro. Eu tenho lastros, tenho a profissão de atriz, de leitora e de ser neta de escritores. Isso também se apanha, embora o lastro seja invisível. A realidade que experimento alimenta-me, assim como tudo aquilo que eu leio”.
Margarida Marinho sente-se à vontade para escrever para a faixa etária mais jovem. “Sinto alguma liberdade na escrita, sinto-me muito à vontade, pelo menos para estas gerações, há muita alegria na escrita”, garante. E quanto à escrita para adultos? “Neste momento vou escrever para adultos e tenho mais vergonha de falar disto porque tenho que me descarnar mais e estar mais perto do meu eu, da pessoa. Na escrita para as gerações mais novas entro na bolha da loucura e da aventura e entre a ficção e a realidade há uma fronteira muito ténue”.
Esta experiência vem da realidade pessoal. “Tive uma mãe que era muito lúdica e educou-nos debaixo de uma bolha um pouco fantasiosa e a determinada altura levei isso para a minha vida real, o que às vezes é um pouco menos fácil quando confrontados com a realidade que é um pouco assustadora porque não corresponde à fantasia doce por quem fui educada. Escrever para a mulher, para a mulher que sou, está a ser uma experiência muito engraçada e completamente diferente”, remata Margarida Marinho.