“Me Too” ou “Time’s Up”. A história por detrás dos movimentos que “acordaram” Hollywood

Durante os últimos meses, a realidade da indústria do cinema veio ao de cima após uma onda de acusações de assédio sexual que deixou o mundo sem palavras. Foi com a ajuda de dois grandes movimentos levados a cabo por personalidades conhecidas que Hollywood mudou, colocando um ponto final no silêncio.

Certamente já ouviu falar das iniciativas de Hollywood que têm marcado a atualidade, criadas com o propósito de apoiar as vítimas de assédio sexual. No entanto, a sua origem é ainda desconhecida por muita gente, tornando-se importante recuar no tempo para ficar a par de todos os pormenores.

Pode afirmar-se que tudo começou em outubro de 2017, na sequência das denúncias contra o produtor cinematográfico Harvey Weinstein. O caso “acordou” o mundo, suscitando nas pessoas a vontade de mudar uma realidade que, embora só tenha sido conhecida recentemente, tem vindo a arrastar-se por vários anos.

Ao contrário do que se pensa, o primeiro dos dois conhecidos movimentos, “Me Too”, remete já para o ano de 2007. Antes de se tornar numa “hashtag” nas redes sociais, a iniciativa foi levada a cabo pela ativista norte-americana Tanara Burke, com o objetivo de apoiar as vítimas de agressão, assédio e abuso pertencentes a comunidades desfavorecidas.

Uma década depois, o movimento volta a ganhar força quando a atriz Alyssa Milano faz um apelo na rede social Twitter, pedindo às vítimas de assédio sexual para escreverem a expressão “#MeToo” e partilharem as suas próprias experiências.

O mundo rapidamente tomou consciência da dimensão do problema, quando várias personalidades do meio artístico, entre elas Lady Gaga, Evan Rachel Wood, Jennifer Lawrence e Reese Whiterspoon, utilizaram a “hashtag” para dar a conhecer as suas histórias.

Mas a luta por esta causa não chegou ao fim em 2017. Com a onda de denúncias que se seguiu, que derrubou poderosos nomes de Hollywood, como Kevin Spacey e Bryan Singer, surgiu uma nova iniciativa.

O mais recente movimento contra o assédio sexual foi anunciado a 1 de janeiro deste ano. “Time’s Up” arrancou com a promessa de apoiar todas as mulheres, numa carta aberta assinada por 300 famosas. Centenas de escritoras, realizadoras e produtoras de Hollywood anunciaram o início de uma luta.

Ao contrário daquilo que aconteceu em 2017, no caso do “Me Too”, este projeto não é apenas direcionado a pessoas publicamente reconhecidas. Prova disso é o facto de a iniciativa ter começado por incluir um fundo de 11 milhões de euros, destinados a ajudar as mulheres financeiramente desfavorecidas.

Já no que diz respeito à indústria do cinema, o objetivo passa pela batalha a favor da igualdade de géneros em estúdios de produção ou agências. Emma Stone, Natalie Portman, Eva Longoria, Reese Witherspoon, Emma Watson e Nicole Kidman são algumas das mulheres responsáveis pela criação deste grande projeto de solidariedade.

Os antecessores

“Me Too” e “Time’s Up” tiveram caminhos abertos por outros dois movimentos abraçados por Hollywood. A campanha “Ask Her More”, criada em 2015 por estrelas como Reese Witherspoon, Shonda Rhimes e Gloria Steinem, surgiu com o propósito de mudar a forma como as mulheres são representadas na comunicação social.

Um dos simples objetivos era que a imprensa não se limitasse a colocar questão “O que trazes vestido hoje?” durante as coberturas realizadas na passadeira vermelha das premiações, de forma a ouvir e valorizar as mulheres.

Reese Witherspoon, uma das atrizes que criou o movimento, desempenha também hoje um importante papel para o “Time’s Up”, tendo sido a responsável, juntamente com o restante elenco da série “Big Little Lies” (HBO), pelo apelo para que todas as mulheres vestissem preto na cerimónia dos Globos de Ouro (e noutras entregas de prémios que se seguiram).

Em 2014, a atriz britânica Emma Watson afastou-se temporariamente da representação para se dedicar ao seu papel de embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas. Foi nessa altura que lançou o projeto “He For She”, muito antes de se juntar também ao movimento “Time’s Up”.

Idealizada pela ONU, a campanha tem o propósito de lutar pela igualdade de géneros e pedia aos homens e jovens da indústria do cinema que se juntassem à causa. Jared Leto, Harry Styles, Matthew Lewis, Tom Hiddleston e Russell Crowe foram algumas das celebridades que apoiaram a ideia, utilizando nas redes sociais a “hashtag” que deu nome ao projeto.

TEXTO: Soraia Pires

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