Novelas da TVI ameaçadas. Greve de trabalhadores da Plural prolongada até ao final do ano

Trabalhadores da produtora da ficção da TVI decidiram prolongar a greve às horas extraordinárias, em sinal de protesto contra as condições de trabalho. A decisão surgiu depois de a administração da Plural “ter decidido retirar-se das negociações relativas a horários e salários”.

A redução do Período Normal de Trabalho (PNT) para oito horas, a integração dos trabalhadores precários nos quadros da empresa, o fim dos “falsos recibos verdes”, o pagamento de horas noturnas e vencimentos tabelados são algumas das reivindicações dos trabalhadores da produtora do grupo Media Capital, que decidiram prolongar o protesto até ao final do ano.

A paralisação ao fim de oito horas de trabalho iniciou-se no passado dia 4 de dezembro e, segundo várias fontes confirmaram à N-TV, está a causar “o caos na atividade normal da produtora”.

“Com a greve, ninguém consegue planear a sua vida. Os planos de gravações estão constantemente a ser alterados à última hora”, afirmou um ator, enquanto outro disse ao nosso site que “só no sábado é que os atores receberam o plano de gravações para esta segunda-feira”.

O Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos, afeto à CGTP, afirma em comunicado que continua disponível “para reatar negociações, evitando esta nova paralisação”.

“Consideramos que é ainda possível alcançar um acordo benéfico para as duas partes e que corrija as várias injustiças criadas nos últimos anos. Continuamos a considerar que para lá da Administração do Grupo Plural Entertainment, é a própria empresa-mãe, o Grupo Media Capital, que deve ajudar na resolução deste conflito, uma vez que grande parte das suas receitas vem dos conteúdos produzidos pelos trabalhadores do GPE”, afirma a estrutura sindical.

A greve dos trabalhadores da Plural, noticiada em primeira mão pela N-TV, teve grande mediatismo na opinião pública, com vários atores da TVI a demonstrarem a sua solidariedade com os grevistas.

Atores sem medo. Estrelas das novelas da TVI juntam-se à greve da produtora Plural

Há muito que as condições de trabalho na produtora da Media Capital têm sido criticadas. A 20 de novembro, a atriz Ana Sofia Martins alertou para o problema, na ressaca da vitória da novela “Ouro Verde” nos International Emmy Awards, lembrando que o troféu não é só dos atores mas dos técnicos.

“Técnicos esses que são explorados a nível salarial e psicológico. Que trabalham 12 horas por dia, que trabalham ou a contratos temporários, ou a recibos, em funções que são essenciais a todos os projetos, que não têm condições de segurança (trabalho em altura) e a quem não é oferecida formação.”

Ganhámos um Emmy! Que sensação boa termos o nosso trabalho reconhecido.Quando digo NOSSO, não é só o das pessoas que…

Publicado por Ana Sofia Martins em Terça-feira, 20 de Novembro de 2018

 

As dificuldades e a falta de condições laborais não é, porém, um exclusivo da Plural. Alguns tores contaram à N-TV que, apesar de “menos problemática”, a SP Televisão, que produz a ficção da SIC, “também tem alguns problemas semelhantes”.

O Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos, no comunicado, alerta para a questão, prometendo intervenção urgente.

“Esta situação não é exclusiva ao GPE, todas as outras produtoras de conteúdos televisivos precisam de alterar a sua realidade laboral (…) O CENA-STE está já a planear a sua intervenção junto de outras produtoras para que de uma vez por todas exista regulação neste setor, criando também condições de concorrência leal entre as próprias produtoras.”

 

Leia o comunicado do CENA-STE na íntegra:

“Depois de a Administração do Grupo Plural Entertainment (GPE) ter decidido retirar-se das negociações relativas a horários e salários, os trabalhadores decidiram-se por novo período de greve ao trabalho depois das 8h diárias.

Esta nova greve terá o seu início no dia 18 e decorrerá até dia 31 deste mês e é importante frisar que a mesma foi discutida e votada favoravelmente de forma unânime pelos trabalhadores do GPE presentes nos piquetes de greve da passada semana.

Hoje mesmo informámos a Administração do GPE que continuamos disponíveis para reatar negociações, evitando esta nova paralisação. Consideramos que é ainda possível alcançar um acordo benéfico para as duas partes e corrija as várias injustiças criadas nos últimos anos. Continuamos a considerar que para lá da Administração do GPE, é a própria empresa-mãe, o Grupo Media Capital, que deve ajudar na resolução deste conflito, uma vez que grande parte das suas receitas vem dos conteúdos produzidos pelos trabalhadores do GPE.

O setor do audiovisual e nomeadamente o da produção de conteúdos televisivos, não pode continuar a basear a sua atividade em baixos salários, horários insuportáveis e totalmente desregulados e numa precarização profunda e sistémica dos vínculos laborais. É preciso inverter toda a lógica de relacionamento laboral entre produtoras e trabalhadores. É preciso valorizar o empenho, dedicação e alta especialização destes trabalhadores, responsáveis diariamente por decisões altamente relevantes para que o produto final tenha qualidade.

Tal como vimos afirmando, esta situação não é exclusiva ao GPE, todas as outras produtoras de conteúdos televisivos precisam de alterar a sua realidade laboral. Temos a convicção séria, e que temos transmitido ao GPE, de que a chegada a um bom acordo dentro do GPE e a abertura de novas negociações que vão dando resposta faseada aos pontos do Caderno Reivindicativo apresentado à empresa em junho, podem transformar o GPE num farol de boas práticas a serem seguidas pelas outras produtoras.

O CENA-STE está já a planear a sua intervenção junto de outras produtoras para que de uma vez por todas exista regulação neste setor, criando também condições de concorrência leal entre as próprias produtoras.

Esta segunda-feira, dia 10 de dezembro, realizaremos o último piquete deste primeiro período de greve onde continuaremos a discutir com os trabalhadores novos passos para esta luta.

Na Plural, juntos, criamos condições!”

TEXTO: N-TV

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