Pedro Mourinho relata passagem por Kiev: “Foi uma hora de disparos”

Fotografia: Instagram de Goucha TVI

Pedro Mourinho esteve à conversa com Cristina Ferreira no vespertino “Goucha”, na TVI, e recordou a sua passagem por Kiev, na Ucrânia, onde fez a cobertura da invasão russa.

O jornalista, que foi aconselhado a sair por questões de segurança, contou como tudo aconteceu e descreveu o cenário de guerra. “Eu e o Nuno saímos [de Kiev] porque basicamente foi-nos imposto por uma questão de segurança pela nossa direção. Queríamos ter continuado a trabalhar”, começou por contar.

No entanto, apesar de ser um trabalho duro o rosto de informação considera ser necessário: “Ser os olhos do mundo, os olhos do país e de contar aquilo que se passa”.

“As pessoas estão muito preocupadas se venho tranquilo, de alguma forma normal, se fui muito afetado por aquilo que vi. É óbvio que aquilo mexe contigo, mas não considero que tenha ficado desequilibrado. Acho que me tornei melhor pessoa. Os problemas do dia-a-dia deixam de ser problemas quando tu te deparas com aquelas situações”, acrescentou.

“Não se volta igual, isso é uma certeza”, disse Cristina Ferreira ao que Pedro Mourinho respondeu: “Não, não se volta igual, volta-se melhor, mais sensível, talvez…”.

Contudo, o jornalista não escondeu a sua surpresa com a partida: “Foi um pouco em cima da hora, ainda estive umas horas a refletir. Tinha coisas da minha vida pessoal para resolver…”, frisou. “A ideia com que eu fiquei, que toda a gente tinha, era que não se iria passar nada, não iria colidir nenhuma espécie de conflito”, explicou.

Pedro Mourinho revelou que quando soube do início da guerra, por Paulo Fonseca, a sua reação foi: “Trabalhar”. “A partir daí o que é que se espera?” perguntou Cristina Ferreira. “Não se sabe muito bem, começas a ler notícias, a tentar perceber o que se passa no terreno. Naquela manhã não sabíamos o que podia acontecer”, referiu Pedro Mourinho.

A apresentadora questionou ainda se o jornalista sentiu medo quando estava em reportagem e ouviu as sirenes. Pedro Mourinho respondeu: “Aquilo que eu estou a sentir não é medo, é uma enorme revolta por me aperceber que tinha começado uma guerra que tu sentias como injusta e imoral”. “É arrepiante. É quase algo tétrico de ouvir”, recordou.

“Há uma noite que eu tenho receio porque começo a ouvir disparos, guerra à porta do meu hotel, fiquei a saber depois que haveria uma unidade muito pequena de soldados russos que teria chegado sozinha ao centro de Kiev e os combates tiveram lugar na avenida principal. Foi uma hora de disparos, rebentamentos e duas passagens de aviões… Achei que aquilo ia ser o momento. Essa foi a noite mais complicada”, contou.

O jornalista revelou que durante o tempo que esteve em Kiev foi falando com a família: “O meu filho Miguel dizia-me: ‘pai tu vê lá, tem cuidado’. Às vezes com lágrimas nos olhos. A Carolina está nos Estados Unidos e estava bastante preocupada”.

No entanto, houve um momento em que Pedro Mourinho chegou a quebrar: “Quebrei somente num momento, sozinho. […] O Nuno Quá [repórter de imagem] vai comprar qualquer coisa à rua e aí eu tenho uns minutos complicados, foram só meus”.

Apesar do cansaço, o jornalista referiu que o trabalho esteve sempre em primeiro lugar: “O teu espírito de missão, aquilo que tens que fazer, informar, dar o melhor de ti, não te deixa andar cansado”.