Polémica: TVI abre jornal a pedir desculpa ao Norte e ao País

José Alberto Carvalho

Um momento nunca antes visto na televisão portuguesa: depois do pedido de desculpas do diretor de Informação, Sérgio Figueiredo, o jornalista José Alberto Carvalho abriu o “Jornal das 8” da TVI a lamentar a polémica da estação com o Norte de Portugal por causa da “Covid-19”.

Eram 19.57 horas em ponto, quando o “pivot” do “Jornal das 8”, José Alberto Carvalho, abriu o noticiário de uma forma diferente: não foi para atualizar as mais recentes vítimas mortais da “Covid-19”, nem o número de infetados, mas para fazer um pedido de desculpas.

Desculpas depois da estação de Queluz de Baixo ter emitido, esta segunda-feira, no “Jornal das 8” uma peça na qual afirmava que a região Norte de Portugal é a mais afetada pela Covid-19 por ter pessoas “menos educadas, pobres e envelhecidas”, o que já tinha levado, durante o dia, a um “mea culpa” do diretor de Informação, Sérgio Figueiredo.

Integralmente vestido de preto, José Alberto Carvalho disse, rapidamente, ao que vinha: “Boa noite, começo por um momento triste, mas absolutamente necessário do ponto de vista profissional. É um pedido de desculpas por causa de uma frase exibida ontem no ‘Jornal das 8’, a frase percorreu toda a Internet em poucas horas e suscitou uma enorme onda de protestos. A frase foi esta…”, referiu, apontando para o ecrã gigante onde se podia ler “‘Covid 19’: Norte de Portugal mais castigado – População menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares”.

“É obviamente uma frase errada e infeliz e nunca devia ter sido escrita nem exibida, nem aqui nem em jornal nenhum. Foi um erro e peço desculpa em nome da redação da TVI. É errada e infeliz. Peço desculpa não por obrigação ou porque fica bem ou porque o próprio diretor de Informação já o fez ao longo do dia, peço desculpa por convicção. Nasci na Beira, que nem é no Norte nem no Sul (…) e até parece que ninguém se importa. Eu importo-me como as pessoas do Norte se importam quando se fala da sua região num tom errado ou injusto as de Lisboa, as da Madeira ou do Minho, importam-se quando falam da sua terra com pouco respeito. Quando falam de Portugal sem respeito nós importamo-nos todos e é isso que nunca pode estar em causa porque nunca esteve. A reação nas redes sociais só pode ser de indignação. É totalmente legítimo. Se isso não tivesse acontecido é que teria sido dramático. Espero que estas palavras tenham uma atenção semelhante, porque elas se destinam a defender a verdade e a verdade é que os dados da pandemia podem induzir-nos em erro”, rematou José Aberto Carvalho.

Mais à frente no “Jornal das 8” o diretor de Informação Sérgio Figueiredo voltou a abordar o tema, olhos nos olhos com o telespetador. Reforçou o pedido de desculpas e reconheceu “um erro involuntário, mas prontamente assumido”. “É evidente que ninguém se revê naquilo que está nesta frase, mas também, com toda a convicção, digo que não nos vamos enforcar com isso, porque as coisas têm de ter o seu peso e medida. Não posso ficar quieto e calado quando alguns nos acusam daquilo que não somos. Moveu-nos questionar porquê no Norte, porque não há medidas discricionárias no sentido positivo de se tratar com medidas excecionais aquilo que é uma excepção, para que as autoridades competentes possam fazer o seu trabalho”, concluiu Sérgio Figueiredo.

Fotografias: Gerardo Santos/GlobalImagens