Rita Marrafa de Carvalho acusa ex-companheiro de bullying “encapotado e agressivo”

Rita Marrafa de Carvalho

Rita Marrafa de Carvalho acusou o ex-companheiro de bullying “encapotado e agressivo, disfarçado de incentivo, camuflado de investimento e travestido de apoio”.

A jornalista ganhou coragem e desabafou, no perfil de Facebook, sobre os insultos e críticas disfarçadas que recebeu por parte do namorado, na altura, durante um ano e meio de namoro.

“Existem entre casais formas de bullying encapotado e agressivo, disfarçado de incentivo, camuflado de investimento, travestido de apoio. A forma mais abjeta e patológica de humilhar aquele com quem se vive e obrigá-lo a ser o que não é. Partilhei um ano e meio de vida com um e só há pouco tempo me apercebi que foi demasiado. E só há pouco tempo tive a plena consciência que aquilo que ouvi e senti foi ‘bodyshaming’. Por ser algo tão pouco debatido, por ser algo que costumamos encarar como reparos de somenos importância, tendemos a menosprezar os danos internos que causam”, começou por admitir.

“Aprendi a rir quando me dizia ‘mas vais repetir?’ ao almoço. Ou quando tirava uma fatia de queijo de entrada e sentia o olhar reprovador acompanhado do ‘também tens ai tomate cherry’. Já engoli com mais dificuldade um amuo quando vestia uma camisa que resultava num ‘fica demasiado justa nos braços e não te favorece’ ou a diária insistência ‘quando é que vais para um ginásio. Só te fazia bem’. Ou os términos dos abraços da manhã, que se pontuavam com um ‘só te falta perder dez quilinhos’” prosseguiu.

Rita Marrafa de Carvalho
Fotografia: Facebook Rita Marrafa de Carvalho

De seguida, a jornalista lembrou um episódio que a marcou quando estavam na praia: “[…] sentados na areia, com a brisa quente de julho, olhando os outros corpos que desfilavam molhados, me disse ‘tenho nojo de banhas’. Gelei por dentro. ‘Sinto nojo de gente gorda. Semicerrei os olhos: ‘Também tenho o que chamas de banha. Incomoda-te?’… Sem respirar fundo ou equacionar que o peso das palavras têm a velocidade de um cometa e o poder destrutivo de um governo de Trump, respondeu com rapidez ‘sim, incomoda’. Comecei a fletir as pernas para dali sair enquanto ouvia ‘sabes que ainda tens peso a mais e não te tens esforçado’. Sacudi a areia da nádegas enquanto ouvia ‘sabes que te amo mas não me sinto bem com o teu peso’. Peguei na toalha, vesti a t-shirt S e os calções M, enquanto ouvia ‘vais-te embora? Há assuntos tabu? Não se pode falar de peso? Não tens espelhos? Coloquei os óculos escuros, e do alto dos meu metro e 65 e 63 quilos respondi: ‘Sim. Não me sinto bem ao pé de ti’”.

” […] Deste tipo de violência poucos falam. Poucos confessam. Poucos partilham. Suaviza-se, pinta-se de incentivo o bullying, maquilha-se o bodyshaming, escondem-se défices de caráter. O pouco tempo que vivi de perto esta realidade ensinou-me, da forma mais cruel, que a agressão estética pode começar em casa, nas mãos de quem gostamos, entre as paredes onde vivemos. E o que me fez sorrir, meus caros, perceber esta ilustre ironia: o bully, que pela minha vida passou, escreve agora sobre feminismo e racismo, sobre o bem e o mal, a tolerância social e cultural, na farsa dos dias com que se burla e aos outros. Ao final do dia, um axioma único se impõe com uma premissa singular: não há amor sem amor-próprio. Não há amor no desamor. Não há amor onde o meu amor não cabe. Porque em amor, não se pedem larguras, não se exigem padrões, não se convencionam estereótipos. Um amor XL será sempre cego a todas as medidas”, afirmou.