Rosa Cullell: “Adorava ter Fernando Mendes aqui na TVI”

TEXTO: Nuno Azinheira

Desde 2011 em Portugal, a CEO da Media Capital diz que estar na TVI não é uma comissão de serviço, é um prazer. Defende a reestruturação feita na empresa, nega tensões na Plural e na redação da estação, apesar de reconhecer que na televisão há muitas “quintinhas” e muitos “egos”. Rosa Cullell garante não dar murros na mesa, mas na hora de cortar… as mulheres são iguais aos homens.

Foi diretora do Gran Teatre del Liceu, de Barcelona, portanto a música corre-lhe nas veias. Até quando é que a TVI vai continuar a dar baile à concorrência?

A dar baile? [risos] Vamos continuar a tentar ganhar a liderança. Há nove anos que a ganhamos, mas queremos comemorar uma década de liderança.

Essa é uma batalha que está agora mais renhida.

Está, está! Temos bons concorrentes, o que é bom para os espectadores, mas mais difícil para nós.

Em 2013 a SIC liderou no prime time dos dias úteis. Isso foi mérito da SIC ou houve também demérito da TVI?

Não podemos tirar o mérito aos outros. Se ganhou, é por ter mérito e se se esforçou para isso, também tem mérito. Nós também temos mérito porque estamos a ganhar há nove anos, o que é muito. No final do ano passado, ganhámos tudo. Ganhámos o prime time, o all day… No mês de janeiro voltámos a ganhar, o que quer dizer que também iniciámos 2014 muito bem. Estamos a aumentar e a diversificar os targets onde ganhamos. A TVI é uma televisão para todas as pessoas, é uma televisão popular, e nós ganhamos nos targets todos. O difícil não é só ganhar a liderança, também é difícil mantê-la. E quando temos bons concorrentes é ainda mais difícil.

A Rosa é reconhecida pela sua elegância, por isso não estava à espera de a ouvir dizer outra coisa que não realçar o mérito da concorrência. No entanto, insisto na questão: o facto de a TVI não ter liderado em horário nobre, em dias úteis, em 2013…

[interrompe] Em alguns meses, não em todos.

Aconteceu na média do ano 2013. Não houve aí demérito da TVI?

Não. Acho que houve essa mudança e a TVI geriu-a bem. O que não se pode fazer é não reagir quando há mudanças.

E a TVI soube reagir às muitas mudanças que o mercado viveu?

Soube e para melhor. Continuamos a ganhar no total do dia, começámos o ano de forma ótima e temos, neste momento, uma equipa muito compacta.

A ficção sempre foi a principal fortaleza da TVI. E por isso liderava à noite. Porque é que deixou de ser essa fortaleza?

[pausa] A ficção continua a ser a nossa fortaleza. Olhamos para o nosso prime time de agora e temos duas novelas de grande nível, duas novelas portuguesas feitas pela Plural, Belmonte e O Beijo do Escorpião. No ano passado, tivemos alguns problemas, não o escondo. Este ano vamos ter mais produção de ficção em português.

A TVI vai voltar a ter uma terceira linha de novela, às 23.00?

Não sei se vamos estrear nessa altura, mas vamos tê-la em produção, depois logo se vê quando a estreamos.

Tudo depende se haverá ou não um novo reality show?

Em princípio não haverá novo reality show neste momento.

Belmonte é uma novela que está a fazer excelentes resultados e O Beijo do Escorpião teve uma boa estreia, mas não consegue destronar Sol de Inverno, da SIC. Concorda que nos últimos anos, algumas das novelas que a Plural produziu para a TVI eram claramente de menor qualidade?

Sim, concordo. Algumas foram pior do que aquilo que nós esperávamos.

Assume isso?

Há novelas piores e outras melhores. A Globo também tem essas oscilações. O que eu assumo é que as produtoras têm momentos em que estão lá em cima e outros em que não estão.

No caso da Plural isso aconteceu porquê? Por causa do clima de instabilidade que viveu no último ano e meio?

Instabilidade no último ano e meio? Não lhe chamaria instabilidade, mas tivemos necessidade de arrumar a casa.

E isso pagou-se caro?

Não sei se se pagou caro, mas tinha de acontecer esse ajustamento. Mas também é verdade que nos últimos anos tivemos uma forte concorrência da Globo. De repente, tínhamos a Gabriela e a Avenida Brasil em cima das nossas produções. E é preciso respeitar a concorrência.

E a SIC tem uma outra Gabriela, a Gabriela Sobral [diretora de produção nacional de Carnaxide], que durante muitos anos foi muito importante para a ficção da TVI.

Sim, é verdade, mas ninguém é insubstituível. Ninguém. Neste negócio, se alguém acha que sim, está errado. O que isto significa é que é preciso ter ritmo, ambição e atenção a todos os pormenores. Além disso, há que saber com quem estamos a concorrer. Às vezes, do outro lado, há um produto melhor, outras vezes há um produto pior.

A TVI acha que concorreu apenas com a qualidade da Globo no ano passado?

Acho que nos anos anteriores a qualidade da Globo era menor e que agora é maior. E também há mais produção em Portugal.

Era aí que queria chegar. Reconhece que a SP Televisão é hoje uma concorrente à altura da Plural?

Claro que é.

Já viu Sol de Inverno

Sim, já vi. E acho O Beijo melhor.

O Beijo do Escorpião é melhor do que Sol de Inverno?

Acho que sim. A história é melhor.

Mais uma vez não esperava ouvir o contrário [risos], mas não podia deixar de lhe fazer a pergunta. Até porque as audiências mostram claramente que os portugueses preferem a novela da SIC.

Mas olhe que acho mesmo que temos uma novela com um guião e uma história muito forte, com artistas fabulosos e muito bem escolhidos. Eu li o guião todo e achei muito bom. Quem quer fazer ficção, precisa de boas histórias. Nós temos duas grandes histórias no ecrã e uma terceira, muito gira, nas mãos.

Em Portugal, não há crise no guionismo?

A concorrência está a estimular também nesse aspeto. Estamos todos à procura de boas histórias.

Acha que a RTP deveria estimular a produção de conteúdos em português e, por exemplo, criar uma escola de guionismo, que procurasse formar novos talentos?

Não. A televisão pública já não tem esse problema. O que acho que a televisão pública tem de fazer é aquilo que as privadas não podem. As privadas já mostraram que podem fazer ficção, que sabem fazê-la bem, com custos adequados e dinheiro privado.

“AMBIENTE NA PLURAL JÁ NÃO É TENSO”

O bom resultado de Belmonte atenuou o ambiente tenso que há na Plural?

Na Plural o ambiente já não é tenso.

Não? Tem ido lá?

Todos os dias, não [risos], mas vou muitas vezes e acho que uma produtora tem de estar desperta e convicta todos os dias.

Havia gente que não estava desperta nem convicta todos os dias?

Estavam, mas temos de continuar a estar. Não acho que exista um ambiente especialmente tenso em relação a nada e as pessoas têm trabalhado bem. São bons profissionais.

Isso não impediu que houvesse um despedimento coletivo na Plural e a dispensa de 150 colaboradores. Isso não contribuiu para uma degradação do ambiente?

Basta olhar para o produto que temos no ecrã. Se o ambiente estivesse degradado, não teríamos O Beijo do Escorpião. As empresas de media de hoje, falo de todas e não só da Plural, têm de ter um modelo de negócio adequado, senão não teremos futuro.

Deixe-me fazer-lhe uma provocação: na Plural havia gente que não fazia “puto”?

[risos] Sabe bem que não posso responder a isso. Acho que na Plural as pessoas trabalham bem e vão continuar a trabalhar ainda mais.

Luís Esparteiro foi uma aposta sua para a direção de conteúdos de ficção da Plural. O que é que correu mal?

Eu não faço apostas (risos). Sou administradora delegada. Também não contrato pessoas diretamente.

Não tem um papel ativo nas escolhas? Fica na solidão do seu gabinete a ver números?

Faço algumas escolhas, mas poucas. Sozinha, não faço. Quem faz escolhas é uma equipa.

Qual foi o objetivo que assistiu à escolha de Luís Esparteiro para o cargo?

Na altura precisávamos de uma pessoa que estivesse muito perto dos atores e da realização. Ele era um ator nosso e fizemos esse acordo.

Um ano e tal depois, sente que foi uma boa escolha?

Ele trabalhou bem, fez bem o seu trabalho. Agora estamos noutro patamar.

Há quem diga que ele não contribuiu muito para a pacificação do ambiente na Plural e que dividiu muito os atores, protegendo os agenciados pela mulher.

[pausa] Para isso terá de falar com os atores.

Pois, e falei com alguns deles, por isso é que lhe estou a dizer isto.

O que eu acho é que temos uma produtora que o que tem de fazer é trabalhar e não podemos estar a falar uns dos outros. Eu gosto, se possível, de falar sempre bem das pessoas.

Qual a importância estratégica da Plural para a Prisa? Para a TVI é visível, mas para a estratégia do grupo, a Plural é importante?

A Plural é importante. É uma grande produtora, capaz de fazer produtos de grande nível e pode fazê-los a um preço competitivo por ter uma economia de escala maior do que a de outras produtoras. Tem muito know how, poucas produtoras na Península Ibérica têm. Portanto, é um ativo ótimo para a Media Capital.

E para a Prisa? A Plural pode assumir-se como uma espécie de produtora central de conteúdos de ficção do grupo Prisa?

É sobretudo uma produtora de conteúdos em português. A Prisa fala em castelhano e em português e o seu futuro passa por estas duas línguas. Para mim, a cultura está baseada na língua. Gosto muito de música, mas acho que são as línguas que fazem uma cultura. Portanto, a Prisa está em Portugal, está no Brasil… O El País já seguiu essa transversalidade. É muito importante também na ficção, mas não só na televisão. O vídeo no digital é importantíssimo.

Pode produzir para fora de Portugal?

Sim, podemos.

Sei que a Plural tem recebido muitas visitas de gente que está interessada em que se produza em Portugal conteúdos para fora…

Sobretudo, pessoas que vêm de países de língua portuguesa.

Como o mercado africano?

O africano e o brasileiro… Temos tido muito interesse. E mesmo produtores em espanhol de novelas, como na Colômbia e no México.

O mercado da América Latina é fundamental para a Prisa. É por isso que lhe pergunto se a Plural pode ser importante nessa estratégia global da Prisa, ou se não há hipótese de estar sempre confinada a esta estrutura e à língua portuguesa.

Nós é que temos de procurar uma dimensão mais internacional. Falo da Media Capital em geral, seja nos países africanos de expressão portuguesa, no Brasil ou na América Latina, que é onde está realmente o grande mercado, porque na Europa estamos todos como estamos. Já fazemos cenografia para cinema na Europa e já vamos muito para Espanha com a EMAV [empresa de meios audiovisuais do grupo Media Capital] trabalhar para canais públicos. Mas para produzir temos de o fazer numa língua, sobretudo a ficção, e nesse aspeto temos de avançar um pouco mais. Ainda estamos longe de onde devíamos estar.

Há muito que se ouve a TVI falar em exportar novelas. O volume desse negócio ainda é residual, não é?

É. O que já começa a ser importante, a ser relevante, é a contratação de meios e de cenografias. Estamos também a vender alguns guiões para serem adaptados pela América Latina, mas ainda é um volume de negócio pequeno.

Muito bem, mudemos de tema. Falemos nas audiências e na GfK…

[interrompe com risos]

Em março de 2012, a TVI protestou porque o novo painel não era bem feito, deu a entender, tal como a RTP, que a presença de Luís Marques [administrador da SIC] como diretor da CAEM podia estar a fazer que a SIC estivesse a tentar ganhar o jogo na secretaria. De resto, a TVI ameaçou sair da CAEM, deixou de se reconhecer nas medições da GfK e adotou as da Marktest/Kantar. Agora, voltou a guiar-se pela GfK. O que mudou? Agora, a GfK já é boa?

Bem, vamos começar pelo princípio. A GfK começou, acho eu, sem o tempo que precisava para experimentar o novo painel. Começou cedo de mais e a verdade é que os resultados foram maus. Muito maus. Aquele painel estava errado.

Mas quem despertou essa urgência foi a própria TVI. Antes de a Rosa chegar, a TVI fez um comunicado muito violento contra o painel da Marktest, dizendo que estava degradado, que tecnicamente não estava bem representado.

Não estou a falar disso. Estou a falar de quando começámos com o novo painel, que não estava testado, bem corrigido, não estava afinado. Ainda faltava fazer imensa coisa. Os lares, os targets e os censos não estavam bem. Tínhamos ali imensos problemas. Havia problemas técnicos indiscutíveis.

Acha que foi por isso que a TVI e a SIC estiveram ali tão juntas durante uns meses?

O que acho é que esse tempo já acabou, mas foram tempos muito difíceis por causa de um painel que não estava afinado. Os resultados não correspondiam à realidade. Agora já está mais afinado. Respeita o Censos de 2011. A população portuguesa mudou muito. E, agora, está bem representada no painel. Estamos a caminho de ter um painel estável. Agora é trabalhar e ponto final.

“ENQUANTO EU CÁ ESTIVER, A CRISTINA FERREIRA NÃO SAI DA TVI”

Chegou a temer perder Cristina Ferreira para a SIC?

Não. A verdade é que não. Conheço bem a Cristina e tenho uma boa relação com ela. Ela é uma pessoa inteligente, muito inteligente, e gere bem o seu percurso profissional. Ela não precisa.

Mudar-se para a SIC era uma atitude profissionalmente pouco inteligente?

Neste momento, sim.

Há três anos, Júlia Pinheiro mudou-se da TVI para a SIC. Foi pouco inteligente na altura?

Não, mas a Júlia dessa altura não é a Cristina de agora. São pessoas diferentes. A Cristina ainda tem muitos desafios na TVI, muitos programas para fazer. Temos muitas coisas para ela.

A SIC diz que nunca sondou a Cristina Ferreira.

… [silêncio]

Chegou a falar com a SIC sobre isso? Com Luís Marques ou Pedro Norton?

Falei com o Luís e ele diz-me efetivamente que não, mas é um assunto que já foi abordado várias vezes pela comunicação social.

Na entrevista que deu há uma semana à Notícias TV, Pedro Norton diz que chamou a si as contratações do grupo Impresa, sobretudo aquelas que não têm cabimento orçamental, e que em momento algum o nome de Cristina Ferreira esteve em cima da mesa dele.

Acredito. Acredito muito no Pedro. Ele nunca me mentiu, portanto…

Então, mas se acredita muito no Pedro e se tem uma muito boa relação com a Cristina e também acredita que ela não mentiu, existe alguém que está a mentir.

A Cristina disse que falou com o Pedro?

Não, mas deu a entender que a SIC procurou levá-la para Carnaxide.

Eu não estou a dizer que acredito no que o Pedro Norton diz, estou a dizer que acredito imenso nele.

Há quem diga que Cristina Ferreira aproveitou este jogo para melhorar a sua relação contratual com a TVI e conseguir um lugar na estrutura diretiva.

Quando cheguei cá, falei com o [José] Fragoso, depois com o Luís Cunha Velho e comentei que, enquanto eu cá estiver, a Cristina não sai da TVI.

Continua a achar isso?

Continuo. Enquanto eu cá estiver, a Cristina não sai da TVI. Ela é um valor fantástico para esta casa. Temos alguns rostos que são o espírito, a alma da TVI, e a Cristina é uma delas.

A TVI tem Luís Cunha Velho como diretor-geral, Bruno Santos como diretor de produção nacional, Filipe Terruta como diretor criativo, Margarida Vitória Pereira como diretora de compras internacionais, Paulo Soares como diretor de mercado e audiências.

Temos o Manuel Simões, que é diretor de marketing.

Com tanta gente, era preciso uma diretora de conteúdos não informativos?

Isto é uma casa grande e o nosso core, o nosso negócio, está na TVI. Nós vamos mudar também algumas coisas. As estruturas têm de mudar, têm de ser diferentes do que eram.

O cargo não foi uma forma de a segurar?

Não.

Ela nunca escondeu que gostaria de chegar à direção…

E ela queria ter uma maior intervenção nos conteúdos, o que é legítimo. Ela continua a ser muito nova, mas tem crescido imenso na TVI e, sem dúvida, que tem a ambição de fazer outras coisas, e eu respeito isso. Quando as pessoas têm capacidade, tento ajudar.

Ao que se sabe, Manuel Luís Goucha também terá funções novas.

Ainda não posso falar disso [sorriso].

Fátima Lopes também está na estrutura como subdiretora.

Ela já veio para cá com esse cargo. Quando cá cheguei, já era subdiretora.

Portanto, responde a Cristina Ferreira?

Não, acho que responde a Bruno Santos, que é diretor de programas.

Fátima Lopes garante que responde apenas a Cunha Velho.

Ou ao Cunha Velho, não sei. A mim não responde [risos].

Não falta mais ninguém para diretor? Já tem as estrelas todas!

[risos] Estamos numa sociedade em que toda a gente é diretor de alguma coisa [risos].

“NO FUTURO TEREMOS VASCO PALMEIRIM NA TVI”

Como é que tem sido a articulação entre as várias áreas do grupo, a televisão, a rádio e a internet? Bem, calculo que me vai dizer que é boa, mas é a articulação possível, é a ideal, pode trabalhar-se mais nessa articulação?

A Media Capital trabalha muito como grupo. Gosto muito de trabalhar com equipas integradas. O nosso comité executivo é uma equipa integrada de rádio, televisão, produção, entertainment. Acho que ainda há alguma coisa por fazer, mas muito pouco. Isso também é uma parte do sucesso que temos tido na gestão da Media Capital.

Não é possível aprofundar mais as sinergias entre a rádio e a televisão? Temos, por exemplo, Pedro Ribeiro, da Rádio Comercial, no Mais Futebolda TVI24, tivemos Vera Fernandes, da Cidade FM, no prime time. É pouco, não é?

É o possível, mas vamos aprofundá-las. Temos uma Rádio Comercial com profissionais que, no futuro, vamos querer ter na televisão.

Vasco Palmeirim e Nuno Markl estão na Comercial e fazem televisão na RTP. A TVI deixou fugi-los?

O Vasco Palmeirim não fugiu para sítio nenhum. Ele estava e continua a estar na Rádio Comercial.

Sim, mas foi a RTP que o “descobriu” para a televisão.

Encontrou um projeto para ele. É legítimo que os profissionais tenham de crescer, mas estou convencida de que no futuro teremos o Vasco Palmeirim na TVI.

Luís Cunha Velho bem tentou levá-lo agora para o Rising Star

Não sei se tentou para o Rising Star [risos]. Não sei, não sei… Para esse programa ainda estão a ser feitos muitos contactos e muitos testes. Ainda há muita coisa para ver.

Mas o Palmeirim é um nome que interessa à TVI?

Claro que interessa ao grupo. O Palmeirim é uma pessoa fantástica. Agora está a trabalhar na RTP e depois vamos ver. Temos de ter um produto para ele.

O Rising Star era um bom produto para ele, ou não era?

Era, mas vamos ter outras coisas também.

Poderia fazer dupla com Leonor Poeiras?

A Leonor também é uma boa pessoa profissional para a nossa casa e vamos tê-la. Já a temos [risos].

Orgulha-se de ter na TVI a Casa dos Segredos? Sendo um grande produto do ponto de vista de eficácia comercial e de audiências, cumpre aquilo que são os requisitos de uma empresa privada?

Casa dos Segredos e Big Brother são dois dos grandes formatos de reality show.

Já sei disso.

Eu sei que sabe. E muito [risos].

Não é por aí! Quero é que responda à minha questão: orgulha-se de ter na sua televisão um programa como a Casa dos Segredos?

Estou orgulhosa de todos os programas que temos. Orgulhosa mesmo. Eu não vou, de forma nenhuma, desprezar o nosso público. Desprezar o público, desprezar as opiniões dos outros, é de uma grande vaidade. Acha que quem olha para a Casa dos Segredos, depois não olha também para um informativo da SIC Notícias ou da TVI24? É mentira, claro que olha.

Há uma grande hipocrisia nessa conversa de quem vê e não vê os reality shows? Os públicos são assim tão transversais?

Sem dúvida que são. Temos de estar abertos, de ser tolerantes e de dar escolhas. Nós agora temos A Tua Cara não Me É Estranha com crianças. É um público familiar, totalmente diferente, e é por isso que chegamos a públicos totalmente diversos. Olhando para os targets e para os shares, a Casa dos Segredos é um programa muito visto pelas classes A, B e C.

E por muitas crianças também, apesar do muito sexo explícito e implícito…

E muitas classes altas, as A e B. Tem mais A e B do que em A Tua Cara ou uma novela.

Portanto, há muita gente de gravata a espreitar pela fechadura?

Nós vivemos numa sociedade aberta, podemos ver qualquer coisa através de um iPad, onde a internet nos dá qualquer coisa. É como a leitura. Nós só lemos poesia? Ninguém faz isso. Eu sou uma grande leitora e um dia sou capaz de ler poesia e no dia seguinte um romance.

“TER O MUNDIAL NOS TRÊS CANAIS ERA UMA BOA NOTÍCIA PARA OS PORTUGUESES”

Faço-lhe a mesma pergunta que fiz a Pedro Norton: a TVI acreditou mesmo que a RTP iria partilhar com as privadas os jogos do Mundial no Brasil?

Achei que sim. Achei que iam partilhar, como o fizeram anteriormente. Quando vim para a TVI, aquando dos primeiros negócios que fiz, partilhámos. Seria uma boa notícia para os portugueses poderem escolher um canal gratuito, o seu canal ou outro, e verem todos a seleção portuguesa, que é dos portugueses todos. E era também uma oportunidade para a RTP reduzir os seus custos.

Mas não acha que, mesmo para um operador público, o futebol pode ser um ativo estratégico e que, se tiver cabimento orçamental, se não significar um aumento do encargo que os portugueses têm com a sua televisão, pode ser um conteúdo tão legítimo como outro qualquer?

Legítimo é. Não estou a duvidar da legitimidade. Estou a duvidar da oportunidade, se esse é o modelo de televisão pública. O futebol é caríssimo. Todos queremos a Liga e todos queremos a seleção portuguesa, são grandes produtos para qualquer televisão, seja pública ou privada, e é legítimo que todas as queiram. Quando se chega aos valores que estão em jogo para comprar, é caríssimo.

A RTP diz que esse valor tinha cabimento do ponto de vista orçamental e, portanto, a estratégia do canal foi prescindir de algumas coisas para poder ter dinheiro para comprar outras, como o futebol.

O tema para mim não é esse. Para mim, a questão é que existe um histórico de partilharmos com a RTP…

Não existe propriamente um histórico. Em 2006 houve o Mundial e a SIC não o partilhou, o Europeu de 2008 foi da TVI e a TVI também não o partilhou. Só no Europeu de 2010 é que houve partilha entre os três. O Europeu de 2012 foi só da RTP e da SIC.

Estamos numa crise económica imensa. Não sei quanto é que a RTP pagou e o facto de estar orçamentado não quer dizer nada. Quer apenas dizer que há um orçamento. Mas se se aumenta a CAV [Contribuição Audiovisual, paga mensalmente na fatura da eletricidade] aos portugueses, se calhar o que há a fazer é reduzir os custos. E nós estamos à vontade para partilhar com eles.

É verdade que aumentou a CAV, mas deixou de haver a Indemnização Compensatória. Feitas as contas, e apesar da RTP receber mais 30 milhões desse aumento, em relação ao que perde com a indemnização, os portugueses pagarão menos do que no ano passado.

Pagarão mais através da fatura da eletricidade.

Mas apesar de tudo é menos do que se pagassem através do Orçamento do Estado.

Certo, certo. O que acho é que as televisões públicas, e eu fui diretora-geral de uma, têm um papel importante nos seus países. As televisões públicas, neste momento em toda a Europa, têm de ir à procura de um modelo diferente. Não podem ter, numa época de crise, o mesmo modelo de custos, de ecrã, de canais numerosos que tinham antes. E sobretudo quando já estão a crescer as novas tecnologias e quando a informação tem outra dimensão. É importantíssimo mudar o modelo das televisões públicas. Em Espanha também, em França, em Inglaterra.

Em Espanha esta discussão está também a ser muito intensa.

Bastante. Tenho amigos nas televisões públicas daqui, de Espanha, de França, de Inglaterra, e a verdade é que o Estado vai ter de decidir em que aplicar o dinheiro público. Isto tem de vir acompanhado de uma decisão do modelo da RTP.

Tem faltado aos poderes políticos, tanto em Espanha como em Portugal, a coragem para tomar essa decisão?

É muito difícil para os poderes públicos, sobretudo porque se trata de empresas grandes, com uma grande dimensão.

Para o poder político, a fatura a pagar é igualmente grande?

É isso mesmo. Mas vai ter de acontecer. É inevitável, senão as coisas vão piorar. É importante avançar e ter um cenário de X anos para avançar, senão ficam com um problema em mãos. Em Espanha já está a acontecer, aqui é diferente.

A TVI tem estado ao lado da SIC nesta luta contra o Mundial do Brasil na RTP. Está também ao lado da SIC na batalha pela TDT. Esteve ao lado da RTP a protestar contra a medição de audiências da GfK, que, diziam, beneficiava a SIC. A TVI não sabe protestar sozinha?

[risos] A TVI defende os seus interesses da forma que entende ser a mais adequada. Mas eu nunca fiz uma única declaração contra a SIC, como também não vou fazer contra a RTP. Não faz parte do meu carácter. Acho mesmo que as televisões free-to-air têm de estar unidas e proteger o mercado que temos, a produção em português e a informação gratuita.

Tem havido esse entendimento com a SIC.

Claro, temos mais em comum com uma privada do que com uma pública. E, à partida, a RTP começa com mais 200 milhões. Basta abrir a porta e já sabe que tem esse orçamento. Quanto a nós, uma estação privada, abrimos a porta ao dia 1 e não temos nada. Temos é de começar a batalhar pela publicidade, pelos novos negócios, por tudo.

É esse o pretexto que tem feito, ao longo dos últimos anos, as privadas pedirem o fim da publicidade na RTP. Concorda com isso?

Agora existe uma situação confortável, que não é final, mas é confortável. Também não sou adepta de mudanças radicais. A televisão pública tem de proteger o negócio que tem, eu percebo. Mas o mercado não é elástico e é preciso perceber isso.

Mas não percebi: acha que a RTP1 não deve ter publicidade ou está bem com os seis minutos por hora que tem agora?

Sinto-me à vontade com os seis minutos de publicidade. É razoável.

“MAIS INFORMAÇÃO NA TDT NÃO FAZ SENTIDO”

A TVI e a SIC têm estado juntas na luta pela televisão digital terrestre e por aquilo que reivindicam, achando que o Governo tem estado a fazer o jogo da RTP. Curiosamente, há duas semanas, Alberto da Ponte dizia que até achava que, estando o Governo a protelar uma decisão do dossiê TDT, está a fazer o jogo das privadas e não da RTP. Em que é que ficamos?

Acho que o que os governos têm de fazer é proteger os mercados, os empregos das pessoas, a língua e mais nada.

O que é que a TVI quer da TDT?

Quer ter e lutar por uma TDT capaz de crescer, capaz de oferecer um produto diversificado, bom e gratuito.

E isso faz-se como?

Isso faz-se olhando para o espectro com o Governo. Sozinhos não podemos, porque o espectro é público. Deveríamos olhar para isso, já o temos até partilhado com o ministro, e ver qual seria uma boa solução para oferecer um conteúdo melhor. A solução não é meter mais um ou dois canais públicos, com mais custos.

Ter a RTP Informação na TDT, como defende a própria RTP, faz sentido?

Em Portugal existem nove mil horas de informação na TDT. Para quê mais? O share dos jornais não estão a aumentar. Temos imensa informação nos canais RTP, SIC e TVI. Temos é de pensar em outras coisas e para isso é preciso fazer investimento.

O que é que era interessante para a TVI? Ir a jogo sozinha? Com a SIC?

As empresas não podem partilhar, têm de ter os seus próprios canais.

Podem partilhar custos no futebol, mas na TDT não?

Podem partilhar custos no futebol, sim, e podem partilhar conteúdos. Mas, depois, os resultados são com cada um de nós. Neste momento temos de pensar em conjunto e partilhar, mas cada um tem de ter o seu canal.

Tem ideia de que tipo de canal a TVI gostava de ter na TDT? Se acha que a RTP Informação não deve ir para lá, presumo que a TVI24 também não…

Pois não. Em primeiro lugar acho que deveríamos pensar bem no que queremos e podemos lá meter. Tudo depende do espectro que temos. Há produtos noutros mercados que poderíamos trazer. Temos também de olhar para produtos mais interativos. Tem de ser uma televisão gratuita, mas também mais interativa, para poder ter mais conteúdos nestes aparelhos [aponta para os telemóveis e tablet que estão em cima da secretária] com os custos adequados a isso.

Muito bem, porque é que a lei do cinema e do audiovisual veio complicar a vida às televisões?

Porque num momento de grande crise publicitária, subir as taxas…

… neste caso não é subir. As televisão pagam por interposta pessoa, agora passarão a pagar diretamente…

Não só começamos a pagar diretamente, como temos de pagar mais para fazer cinema.

Não é justo?

Não, é completamente contra o negócio da televisão. Esta lei do cinema é uma lei dos anos 70, que não tem qualquer sentido. Ainda para mais, discrimina a Plural de uma forma absurda. Fazemos, e continuaremos a fazer, tudo sozinhos. Continuaremos a ser os mais transparentes do mercado, a fazer mais produção do que ninguém. Mas pode obrigar-nos a redimensionar a Plural.

E a repensar a natureza da sua relação com a Media Capital?

Não. Este ano vamos produzir mais do que em 2013.

Mas a relação de dependência? Na Plural há uma economia de escala que implica uma menor flexibilidade nessa relação do que a da SIC com a SP Televisão. Estas obrigações que as televisões passam a ter pode obrigar a Media Capital a repensar a estratégia?

O que estamos a pensar é num modelo mais eficiente e que possa concorrer. Uma produtora pequenina tem custos menores. Quando se contrata uma pessoa para uma produção, essas pessoas vão embora quando acabam o trabalho. Quando uma produtora é grande, como a nossa, há muitos empregos. Nós queremos manter a Plural, que tem um modelo de negócio afinado.

Mas haverá hoje no mercado muita gente interessada na compra da Plural.

Pode haver, mas nós estamos a fazer o nosso trabalho para termos uma Plural mais forte e só se é forte quando se tem benefícios, se realmente podermos concorrer com um preço justo. Eu adoro o Preço Justo da RTP [risos].

Está a falar do Preço Certo, com Fernando Mendes?

Sim, sim. Gosto também muito do apresentador.

Gostava de o ter na TVI?

Adorava.

Se calhar era a maneira de ganhar o acesso ao prime time!

Não! O Preço Certo está bem lá! Mais do que do Preço Certo gosto do Fernando Mendes. O Preço Certo já é um produto antigo.

Neste momento, é fácil ir buscar profissionais à RTP. Ganham muito menos…

Acha?

Tenho a certeza, e a Rosa também tem.

Em relação a alguns apresentadores não tenho tanta certeza. Não sei quanto ganham.

As remunerações são públicas. E é claramente muito menos do que os seus apresentadores. O Goucha e a Cristina ganham mais do que a Tânia Ribas de Oliveira e o João Baião.

Mas o Goucha e a Cristina têm um share que não tem nada que ver com o do João Baião e o da Tânia, com todo o respeito.

Não estou a fazer comparações desse género, apenas a constatar que, devido aos respetivos ordenados, é fácil ir buscar pessoas à RTP.

Bem, então vou ter de pensar nisso [risos]…

“NAS REDAÇÕES HÁ QUINTINHAS. NA TVI TAMBÉM”

A Rosa foi jornalista. Como vê a informação da TVI neste momento?

Uma vez jornalista, para sempre jornalista [risos]. Vejo-a sólida e independente.

Não o era?

Não sei como era antes. Estou a olhar para o presente e para o futuro. A TVI24 já é um bom player de mercado, o Jornal da Uma e o Jornal das 8 são líderes também ao fim de semana, em que somos fortíssimos.

A informação da TVI voltou a ser muito comentada nas últimas semanas por causa da cobertura da tragédia do Meco…

Nestes temas sensíveis é importante ter muito respeito. O tema foi terrível e a informação, quando trata de temas terríveis em que famílias estão a sofrer tanto, tem de ser sobretudo de respeito. Depois, também é preciso informar sem empolar.

Essa linha é difícil?

É uma linha que só os grandes jornalistas, só os grandes diretores de informação sabem onde está. A TVI está a fazer de tudo para ter respeito e não entrar no reino da ficção.

A reconstituição que Ana Leal fez foi muito criticada, como sabe, nas redes sociais…

Sei. Essa reconstituição está completamente baseada em informação de primeira qualidade, de uma grande fonte.

São injustas as críticas que foram feitas?

São. Sei perfeitamente que o José Alberto Carvalho segue tudo o que é feito, olha para todas as provas.

Pedro Norton disse que é difícil gerir os egos em televisão, mas que é um trabalho muito divertido. E a Rosa?

[suspiro] Eu vivi durante anos numa situação em que tive de gerir egos. Numa casa de ópera com grandes estrelas, grandes sopranos, grandes tenores… Eu gosto de estrelas e elas precisam sempre de ter os seus momentos. Aqui é exatamente a mesma coisa. Há egos. As pessoas estão num ecrã, têm visibilidade. Gostam de a ter. É natural. Mesmo que criem tensões numa redação?

Eu também já trabalhei em redações.

E nas redações há quintinhas. Há umas que são muito meigas e outras que são menos. Na TVI também é assim.

Ainda existe a “quinta” de Manuela Moura Guedes na TVI?

Sabe que, na verdade, acho que isso são histórias de castelos. Capítulos passados.

Definitivamente encerrado?

Não sei. Eu falo com os jornalistas, com os diretores de informação e acho que todos deviam estar muito orgulhosos com o que estamos a mostrar no ecrã. Portanto, acredito que vamos melhorar ainda mais as relações entre nós.

Dizem-me que a divisão entre o grupo pro-Manuela Moura Guedes e o grupo pro-Judite Sousa ainda está muito presente.

Isto parece o Prós e Contras, não é? [risos] Quando vou à redação, e vou, tenho a sensação de que é uma redação como qualquer outra. Não vejo qualquer tensão.

Os resultados é que contam?

Os resultados e a qualidade da informação. A Ana Leal está a fazer um grande trabalho.

Ela é uma das jornalistas que têm tido grande dificuldade de relacionamento com a atual direção de informação.

É você que está a dizer isso.

A Rosa é que falou na Ana Leal.

Estou só a falar do trabalho que está a fazer.

A TVI24 é a maior obra desta direção?

É uma grande obra, mas a informação não está só na TVI24. Nós somos líderes em todos os blocos de notícias. A TVI24 é, se calhar, a que tem mais mérito.

Há dois ou três anos a continuidade da TVI24 esteve em cima da mesa…

O que era visível na altura é que não havia espaço para aquele canal e, dois anos depois, está a disputar a liderança. E está a disputá-la com a SIC Notícias, que é um canal que tem mais anos de existência e mais experiência. A TVI24 tem mais mérito, mas também ter a informação que temos na TVI generalista não é fácil.

Sim, mas a liderança da informação da TVI não é algo inédito. Com outro perfil, seguramente, mas o Jornal Nacional liderou durante muitos anos…

Tinha outro perfil de público, é verdade. Mas quando cheguei, olhei para os números e verifiquei que para um país como Portugal ter três canais de informação era muito.

É normal um país com dez milhões de pessoas, onde só se vendem 400 mil jornais por dia, ter quatro canais de informação?

Não, não é. Olhando para as generalistas apenas, esquecendo o cabo, fazemos nove mil horas por ano de informação. É imenso, não é? E é boa informação. Vou dizer-lhe uma coisa: comparo a informação que é feita cá com a que é feita em Espanha em televisão e a portuguesa é muito melhor.

Mais independente?

Sim, sim. É independente. Não é uma informação partidária.

Acha possível a TVI24 chegar à liderança dos informativos?

Acho que sim.

Têm essa meta?

Temos. É um desafio.

Existe um horizonte definido para isso?

Não, mas temos de chegar aos 2,5% de share. Temos de fazer tudo para lá chegar.

Neste momento têm 1,5% de média…

Em janeiro fechámos com 1,6%, há meses em que estamos a ganhar alguns prime times, mas ainda há muito a fazer.

Em um ano consegue chegar a esses 2,5% ou espera chegar lá antes?

Não, antes é impossível.

Um bom desígnio para 2015 seria ultrapassar a SIC Notícias?

Seria muito bom. Mas é um grande desafio.

Será à custa do futebol?

[risos] Não!

Então será à custa de?

Vamos ver.

A TVI24 é um canal de notícias ou de futebol, como diz o diretor da SIC Notícias?

É um canal de informação. Gosto muito de canais de informação com desporto.

O desporto é uma informação básica, de massas. As pessoas querem informação desportiva, não vamos agora querer ser os mais intelectuais do mundo. Temos também de dar ao público o que ele quer.

Essa é a lógica que mantém uma empresa privada? Querer dar ao público o que ele quer?

Temos de dar ao público o que ele quer, coisas bem feitas, com qualidade e independência.

Quem é que avalia se é bem feito? É o público?

Evidentemente que o público é o maior jurado que temos. Não o podemos desprezar.

“NÃO ESTAMOS DEPENDENTES DA PRISA”

As dificuldades do grupo Prisa em Espanha podem dificultar a estratégia da Media Capital em Portugal?

Não. O grupo Prisa já fechou a sua estrutura financeira para os próximos três anos. Depois, porque o financiamento da Media Capital está totalmente separado da estrutura financeira da Prisa. Nós conseguimos o financiamento total, temos um plano cá. Nesse sentido, gerimos isto de forma totalmente independente. Não estamos dependentes da Prisa.

Portanto, a Media Capital não sofrerá mais cortes? Não está dependente das dificuldades da Prisa?

Qualquer empresa tem de se redimensionar sempre em função do mercado. Isso é óbvio para qualquer gestor. Evidentemente que partilhamos tudo com a Prisa e acho que eles estão orgulhosos desta empresa e desta equipa. Eu estou também muito orgulhosa. Este é um ano para investir e para trabalhar.

O mercado em 2013 caiu cerca de dez por cento. Não foi uma queda abrupta, mas também não está a recuperar. A TVI deve terminar o ano [as contas finais só serão conhecidas em março] como em 2012. Isso obrigou a que ginástica?

Em 2012 nós fizemos o trabalho de casa e em 2013 continuámos a fazê-lo. Este ano vamos acabar esse trabalho de casa. Vamos estar totalmente arrumados. Acredito que os nossos resultados, que ainda não são públicos, vão ser bons e estou a pensar que 2014 vai ser melhor.

A Media Capital, com resultados conhecidos até setembro do ano passado, teve uma quebra nas receitas. A perda da liderança no prime time justifica esta quebra?

Acho que tem mais que ver com uma decisão de produzir menos na Plural durante 2013. Foi uma decisão pensada, porque produzir mais implica mais custos. Este ano vai acontecer o contrário e vamos produzir mais porque achamos que vamos amealhar mais e já não vamos reduzir custos na grelha.

Na TVI, as receitas até setembro eram cerca de 60 milhões de euros, menos 14 por cento do que em 2012. Mesmo não sabendo os resultados dos últimos três meses, deve rondar cerca de dez por cento, portanto, em linha com a queda de mercado.

Não, vamos ficar abaixo. O nosso último trimestre foi muito bom.

A Casa dos Segredos ajudou muito à recuperação do prime time.

Não só. A ficção ajudou, os informativos ajudaram, a TVI24 também subiu. Tudo ajudou.

Pedro Norton não tem também todos os resultados, mas disse que a SIC será o único operador a crescer em 2013 em receitas publicitárias e que vai faturar um valor muito idêntico ao da TVI, o que não acontecia há dez anos.

Não sei. Vamos esperar pelos números. Eu acho que vamos ter um exercício em 2013 muito bom.

Vai haver mais dinheiro para 2014?

Sim, depois de arrumada a casa, vamos ter mais dinheiro em 2014.

E é para investir em grelha?

Nós vamos ter dinheiro para investir, em primeiro, no digital. Estamos agora a olhar para o digital e também para a grelha. É natural que a televisão venha a refletir esse aumento de investimento. É o nosso core.

Os IVR [chamadas de valor acrescentado] são uma fonte de receita cada vez mais relevante na estratégia de diversificar as fontes de receitas e reduzir a dependência da publicidade. Essa estratégia é para continuar? É uma aposta?

Em 2014 a nossa aposta é para reduzir. Achamos que vamos subir em publicidade e também em outros negócios dentro da produção: em comunicação, em formatos, em conteúdos, não só de ficção, e a nossa ideia não é aumentar as receitas de IVR.

Isso pode cansar o espectador?

Há que ser equilibrado. Admito que as chamadas de valor acrescentado podem ser cansativas, sim.

“NUNCA DEI MURROS NA MESA”

Está em Portugal desde 2011. Já me disse uma vez que é uma mulher do mundo e que adora conjugar o verbo ir. Está preparada para partir?

Não, não estou.

Porque profissionalmente ainda não fez o seu trabalho ou porque já criou raízes com este país?

Gosto muito de Portugal, de Lisboa, que é onde moro, e da equipa da Media Capital e acho que ainda tenho trabalho a fazer aqui.

Encara essa sua presença como uma espécie de comissão de serviço?

Não, nem pensar. Com paixão, isso sim.

E se a Prisa lhe disser que amanhã vai para o Chile ou que vai voltar para Espanha?

Eu é que decido o que quero fazer. Tenho a sorte de poder escolher. Se calhar, vai chegar à altura em que já não precisam de mim.

E aí, fará sentido ficar em Portugal?

Nessa altura, logo vejo o que faço.

As mulheres têm mais sensibilidade para o negócio?

Depende das mulheres. Há homens com imensa sensibilidade.

Mas há uma forma feminina de gerir? Ou quando é preciso cortar a eito, corta-se como um homem?

Isso há, mas quando é preciso cortar, corta-se. Cada um tem o seu estilo de direção.

Às vezes dá o seu murro na mesa…

Nunca dei murros na mesa e, desculpe lá, mas não é agora que vou começar [risos].

Ainda tem tempo para ver concertos de música clássica e récitas de ópera?

Claro que tenho tempo. Arranjo-o.

E como é que faz? Compra um bilhete e mete-se no avião?

Vou muitos fins de semana para Madrid, tenho lá o meu marido. Vou muito ao Teatro Real, onde subscrevi toda a temporada. Por vezes, também vou a Barcelona, onde tenho a minha mãe e a minha filha, e vou ao Liceo. Se fico por cá e tenho a sorte de haver alguma coisa no São Carlos, também vou.

Imagine que lhe diziam que já não a queriam mais aqui. Admitia ficar em Portugal e, por exemplo, gerir o São Carlos?

Adorava gerir o Teatro, mas estou convencida de que há portugueses capazes de gerir bem o São Carlos. O Teatro Real, até há pouco tempo, era gerido por um francês fabuloso. A ópera é internacional.

Continua a ter inveja da voz da sua mãe e da sua avó?

Sobretudo a da minha avó. A minha mãe tem uma boa voz, mas a minha avó tem uma voz fantástica, daquelas soprano fabulosas.

A Rosa não tem?

Não tenho, não!

Portanto, não a veríamos a si, como o presidente da RTP, Alberto da Ponte, chegou a desejar, a cantar no Factor X?

[risos] Eu não consigo cantar nada.

Nem no duche?

Nada. Não queiram ouvir-me [risos]. Sou um desastre. É preferível continuar do outro lado do ecrã.

Não ia à A Tua Cara não Me É Estranha?

Também não, porque sou péssima.