Trabalhadores da RTP dizem que Deusdado “não tem condições para continuar como Diretor de Programas”

Daniel Deusdado. Fotografia: Diana Quintela/Global Imagens

A Comissão dos Trabalhadores (CT) da RTP diz que no operador público “se vive um caos interno”, causado por uma “gestão sem controlo, sem rumo e em desespero”. Em comunicado, a CT exige a demissão do atual diretor de programas da empresa.

“Um dos problemas do atual momento da RTP é que a mesma foi tomada, em sectores importantes da gestão, por pessoas habituadas a vender coisas à RTP”, começa por afirmar a CT, esta terça-feira, referindo-se a Nuno Artur Silva, administrador com o pelouro dos conteúdos, e Daniel Deusdado, diretor de programas.

No passado, ambos eram responsáveis, respetivamente, pelas produtoras Produções Fictícias e Farol de Ideias. Quando assumiram a gestão da RTP, em fevereiro de 2015, “saíram da iniciativa privada, e de um sector onde reina a precariedade e falta de regras básicas de comunicação empresarial, e foram colocados numa das mais complexas e difíceis empresas do país, em tarefas muito acima das suas capacidades técnicas”, considera a CT, que indicia que “o atual modelo [da RTP] acabou por desproteger a empresa dos interesses comerciais que giram à sua volta”.

No dia 12, a CT emitiu um comunicado, no qual fala em “conflitos de interesses”, que aumentou a tensão entre os trabalhadores da RTP e a sua administração. Em causa está o facto de, pode ler-se, o operador público manter “há três anos como administrador o proprietário de uma produtora e de um canal concorrente da própria empresa, o Dr. Nuno Artur Silva, dono da empresa Produções Fictícias e do Canal Q.”

ESCLAREÇA-SE!“Conflitos de InteressesPara efeitos deste código consideramos conflito de interesses, toda a situação…

Publicado por RTP Comissão dos Trabalhadores em Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2018

Nuno Artur Silva terá respondido à CT, alegando “que a lei não o ‘obriga’ a vender as Produções Fictícias desde que a RTP não mantenha com esta produtora quaisquer negócios”, algo que, defendem os trabalhadores, não tem acontecido ao longo dos últimos três anos.

Face a este comunicado, o diretor de programas, Daniel Deusdado, terá feito um “contra-comunicado”, “saltando a terreiro para defender o chefe”, pelo facto de a CT ter posto o “dedo na ferida”, consideram os trabalhadores da RTP.

“A intenção da missiva por parte do Sr. Daniel Deusdado é provar que é ele o real decisor dos conteúdos da RTP. Na verdade, nunca existiu confirmação maior de que isso não é assim do que a própria nota e o sinal de fraqueza que a mesma encerra. Quem decide sobre os conteúdos na RTP chama-se Nuno Artur Silva e toda a gente sabe disso”, pode ler-se.

“Daniel Deusdado inaugurou um estilo. Talvez uma era. Esta é a primeira vez na história da RTP que um responsável da empresa se dirige aos seus trabalhadores nestes termos e para este efeito, acabando por confirmar, primeiro que a CT tem razão em tudo o que disse, e segundo que a RTP está sem qualquer rumo ou liderança que se veja”, defende a CT, acrescentando que, “para Daniel Deusdado, não é de fora que vêm todos os males contra a RTP”. “O inimigo, visto da posição onde se encontra, está dentro da RTP. São os que cá estavam antes de ele chegar”, atira.

COMUNICADO 02/2018UM LONGO ADEUS“Opiniões não mudam os factos, mas os factos devem mudar as opiniões…quando se é…

Publicado por RTP Comissão dos Trabalhadores em Terça-feira, 16 de Janeiro de 2018

Por isso, a CT, que termina o comunicado com um “adeus” ao seu atual diretor de programas, considera que Daniel Deusdado “não tem condições algumas para continuar Director de Programas de uma Instituição como a RTP”.

TEXTO: Dúlio Silva