Voto do júri vale mais do que o do público? A polémica do Festival da Canção em Espanha

Festival Canção Espanha
Fotografia: Instagram Chanel Terrero

Uma semana depois de ter sido apresentado o Festival da Canção, organizado pela RTP1, e com 20 músicas a concurso, chega a polémica de Espanha na mesma competição.

No Benidorm Fest, que elegeu o tema que vai representar o país vizinho em Turim, Itália, entre 10 e 14 de maio, houve polémica no recinto e nas redes sociais, que criticam a disparidade de critérios entre a decisão popular dos espanhóis e do chamado jurado profissional, composto por cinco elementos.

A música interpretada por Chanel Terrero ganhou com a preferência do jurado profissional (51 pontos), que se sobrepôs ao televoto (20) e ao “jurado demoscópio” (uma amostra de 350 pessoas que representa toda a população que rendeu 25 pontos). A cantora hispano-cubana, que interpretou a música “SloMo”, não era a preferida do público, que deu a maior percentagem de votos ao segundo e terceiro classificados – Rigoberta Bandini e o trio Tanxugueiras, respetivamente.

No Twitter, os telespectadores da RTVE1 não gostaram da fórmula que deu a vitória a Chanel Terrero e criaram a “hashtag” “tongazo” (fraude). Também as letras cantadas pela hispano-cubana, que faz lembrar Jennifer Lopez, estão a criar polémica, devido à ostentação. “Chegou a mamã/A rainha, uma dura, uma Bugatti/ O Mundo está louco com esta party/ Se tenho um problema, não é financeiro/ Deixo todos os papás malucos/ Só faço boom, boom com o meu bum, bum”. Trechos acompanhados por um sensual e enérgico baile, o que contrasta, em absoluto, com as reivindicações feministas e das propostas cénicas do segundo e terceiro classificados.

Esta polémica tem, até, um dedo português, uma vez que Salvador Sobral, vencedor da Eurovisão em 2017, declarou publicamente o seu apoio às Tanxugueiras com a frase “voy con las gallegas!”.

A polémica chegou, entretanto, ao Congresso espanhol, com as associações Galicia en Común e BNG a apresentarem iniciativas para pedir explicações à RTVE1 e em defesa das Tanxugueiras. Outros partidos converteram a música “Ay, Maman”, de Rigoberta Bandini, numa arma de arremesso na campanha eleitoral de Castilla y Leon. A secção sindical da Comissiones Obreras pediu ontem mesmo na RTVE1 que o resultado do Benidorm Fest fique sem efeito.

Mas a discussão não é nova. Em 2017, por exemplo, Manel Navarro ganhou o festival depois de ter prevalecido a decisão do jurado profissional sobre o voto popular no empate com a intérprete Mirela, que era a preferida dos espanhóis. Segundo o jornal espanhol “El País”, “há anos que a televisão pública tenta acertar com a fórmula do Festival da Canção” e, nos últimos certames, optou por designação direta, da responsabilidade da RTVE1.

Em Portugal, o sistema de votação seguirá, este ano, o modelo habitual, sendo metade da pontuação atribuída a um júri profissional e a outra metade ao voto popular. As semifinais acontecem nos dias 5 e 7 de março e a final está marcada para 12 de março. Contactada pelo N-TV sobre o caso espanhol e a possibilidade de em Portugal se poder repetir a polémica, a RTP preferiu não fazer comentários.