“Prós e Contras”: “Temos muito orgulho neste percurso de 15 anos”, diz Fátima Campos Ferreira

De 15 de outubro de 2002 a 15 de outubro de 2017. Três presidentes da República, cinco primeiros-ministros, um deles preso preventivamente, o maior escândalo financeiro que abalou o poder político e económico do país, fortes mudanças sociais, culturais e de mentalidades. Faz este domingo 15 anos que o “Prós e Contras” chegou à televisão portuguesa. Fátima Campos Ferreira explica, em exclusivo à N-TV, o segredo do sucesso.

Estes 15 anos de Prós e Contras foram férteis em acontecimentos. Teria sido difícil pedir mais?
De facto, o programa teve o privilégio de acompanhar a rotação de Portugal, da Europa e do mundo nestes 15 anos. E, particularmente nos últimos dez anos, essa rotação foi intensa. Recordo-me dos primeiros programas sobre a crise, de um outro que reuniu os 5 principais banqueiros do país a seguir à instabilidade causada pela queda do Lehman Brothers e era difícil imaginar como o retrato da sociedade ia mudar tanto. Bancos que foram resgatados, outros entraram em falência, outros foram sujeitos a resolução. Salários cortados, impostos enormes e antigas referências da sociedade que se desmoronavam, e algumas a cargo com sérios processos judiciais e mais não digo. Os últimos dez anos foram quase revolucionários.

“Claro que há sempre quem critique, mas fazer escolhas implica aceitar as diferenças. O importante é decidir com coragem face aos interesses e lobis que nos vão surgindo. E foi assim que o programa se foi tornando numa âncora de serviço público”

E o “Prós e Contras” foi capaz de acompanhar essa revolução? É que é um caro raro de longevidade numa antena generalista…
Eu acredito que o sucesso é trabalho e seriedade. Creio que o programa foi conquistando um espaço na sociedade desde o princípio. Vamos para o ar todas as semanas e atravessamos, como disse muitas “taprobanas”. Somos uma equipa muito pequena e unida. E foi assim sempre, embora ao longo dos anos não tenham estado sempre as mesmas pessoas.

Mas o espírito manteve-se…
Aqui a palavra de ordem foi colocar o interesse do público em primeiro lugar, agir com rigor e assim fomos ganhamos a confiança dos espectadores. Claro que há sempre quem critique, mas fazer escolhas implica aceitar as diferenças. O importante é decidir com coragem face aos interesses e lobis que nos vão surgindo. E foi assim que o programa se foi tornando numa âncora de serviço público.

Diz isso com orgulho.
Sim, temos muito orgulho deste percurso.

Uma das marcas do programa é a procura constante de novos protagonistas. E, de facto, da plateia do “P&C” já saíram muitas figuras que viram a ser protagonistas e líderes de opinião.
Sim ao longo dos anos o país foi passando pelo “Prós e “Contras”. Houve um tempo, nos primeiros anos, que nos apoiamos muito nas grandes referências da sociedade portuguesa de todas as áreas profissionais. E essa escolha abriu-nos muitas portas. Seja na universidade, na economia, na cultura, na política… E este facto tornou-se numa marca do programa. No entanto, nunca descuramos a sociedade em geral e trouxemos sempre as reservas anónimas que são o povo.

E que hoje estão na primeira linha…
Verdade. Aqui nasceram figuras que estão hoje no primeiro plano da política, como por exemplo, a Dra Assunção Cristas, mas não só. Há Muitos outros que me dispenso nomear. O programa foi sempre muito abrangente. Já corremos o País, e vamos voltar a fazê-lo e tratamos os mais variados temas. Inclusive por aqui passaram também protagonistas internacionais.

“Há uma coisa que gostava que todos soubessem. Levanto-me e deito-me a pensar como hei-de melhorar o programa, que volta dar ao tema, e à procura do melhor critério. Enfim, é o meu trabalho”

Ao fim de 15 anos não sente um certo cansaço, uma vontade de mudar?
Pelo contrário. O que me salva é justamente o programa tratar um assunto diferente todas as semanas. Sempre gostei de ler e estudar, o que me ajuda imenso na preparação. Tenho um pesquisador de informação que me dá todas as semanas quilos de papéis, livros e jornais. Sem ele seria mais trabalhoso. Ao mesmo tempo que coordeno e montamos o debate, vou aprofundando os assuntos e os ângulos.

Mas são 15 anos…
É verdade, mas há uma adrenalina especial. Isso é muito importante. É claro que às vezes conseguimos elencos melhores, outras vezes é o possível. Mas há uma coisa que gostava que todos soubessem. Levanto-me e deito-me a pensar como hei-de melhorar o programa, que volta dar ao tema, e à procura do melhor critério. Enfim, é o meu trabalho.

Sente que estes 15 anos fizeram de si uma outra jornalista?
Talvez… Acontece que eu vinha da apresentação dos telejornais. São trabalhos mais espartilhados, sem tanta liberdade na apresentação. Acho que fui fazendo o “Prós e Contras” um pouco à minha imagem.

O que significa isso?
Utilizo muitas vezes a metáfora da orquestra e de diferentes instrumentos que vão entrando em cena e que vou moderando com um único objetivo: que todos compreendam os argumentos para poderem escolher e decidir. Às vezes, também procuro consensos, já tem acontecido. Outras, aprofundo temas como já fiz com o Amor, o Medo, e tantos outros. Estes programas dão-me muito prazer e permitem-me surpreender com convidados diferentes, que ninguém está à espera. Num deles levei o casal que dirige o restaurante do Solar dos Presuntos para falar do Amor e foi um sucesso.

“Nestes 15 anos passou-se tanta coisa no país, no mundo e na minha vida pessoal também… Perdi os meus pais com 15 dias de diferença e nem sei como consegui fazer os programas. Mas fiz. Talvez não tenha estado bem, mas tentei ir buscar todas as forças”

Estes 15 anos mudaram a opinião que os portugueses têm de si?

A opinião que os portugueses têm de mim cabe-lhes a eles dizerem. Mas, como sempre, uns gostam e outros não gostam. O importante é que aceito as críticas como os elogios. Relativizando-os sempre. Quem está nestes lugares tem que seguir em frente. Mas eu ouço bem as críticas quando têm fundamento, a maioria não têm. Muitas as vezes, as pessoas olham só para um lado. Enfim, nestes 15 anos passou-se tanta coisa no país, no mundo e na minha vida pessoal também… Perdi os meus pais com 15 dias de diferença e nem sei como consegui fazer os programas. Mas fiz. Talvez não tenha estado bem, mas tentei ir buscar todas as forças. Hoje penso que sou melhor observadora da sociedade, consigo antecipar cenários e fazer análises com outra confiança. O programa é um excelente observatório. Talvez por isso a sociedade me solicite tanto para moderações de temas da mais variada ordem. Olhe, na próxima terça-feira estarei numa conferência internacional sobre as mulheres e a política.

Que novidades gostaria de introduzir no programa? Ou acha que em equipa que ganha não se mexe?
Bem todos os anos fazemos uma ou outra alteração. Agora temos uma pequena sondagem na maioria das emissões. Gostava que o programa pudesse sair mais de Lisboa. Vamos ver se vai ser possível. No horizonte próximo já temos dois agendados, um em Guimarães para celebrar os 15 anos, e outro no Alentejo. Mas a verdade é que é uma equipa que ganha. Estar 15 anos em antena é difícil e num tempo de imediatismos fáceis ainda mais. No “Prós e Contras” o interesse público está primeiro e penso que temos sabido acompanhar a evolução do país e dos portugueses. Se há sucesso, é com toda a certeza este.

TEXTO: Nuno Azinheira