Rita Pereira: “Sei que sou uma marca. Tenho noção do que valho, não sou hipócrita”

Aos 35 anos, só há pouco tempo começou a considerar-se “atriz”, embora os 15 anos de carreira já lhe tenham dado uma bagagem que lhe dão “vergonha” do que fazia no tempo de “Morangos com Açúcar”. Figura púbica muito exposta, diz que está farta de viajar à custa da imprensa, tantos são os processos que tem ganho em tribunal. Com a morte de Angélico Vieira, em 2011, deixou de se preocupar com o que escrevem sobre si. Com isso, amadureceu e passou a dar-se melhor… com os jornalistas. Sabe que é uma marca forte, que ajuda a vender, e assume que ganha mais dinheiro com contratos comerciais do que a fazer novelas na TVI. Entrevista à miúda que se tornou mulher e que diz que está na altura de parar e colocar o foco na família. Rita Pereira quer ser mãe em breve.

 

Está há três meses em cena na peça 39 Degraus, no Teatro Armando Cortez, um dos nomes maiores da arte de representar em Portugal. É uma honra ou um peso?
[risos] Ambas. É uma grande responsabilidade não desiludir e tentar, pelo menos, manter o nível que os outros atores por aqui deixaram. Além disso, esta peça é uma reposição. A primeira vez que foi representada em Portugal, com outros atores, foi um sucesso muito grande, e portanto está a ser muito bom sentir que o público voltou a aderir. Estou muito feliz e altamente concretizada a nível profissional. Já estava a precisar disto.

Tem tido plateias cheias, muito ricas do ponto de vista quantitativo, mas também do ponto de vista qualitativo. Já teve a visita de Ruy de Carvalho, de Eunice Muñoz, entre outros…
São pessoas muito especiais. E outras, a começar logo pela minha família e amigos. Para muitos atores ter a família presente no trabalho é uma coisa normal. Para mim, em que 90% da minha vida foi passada na televisão, não é normal. Eu gravo uma cena e só um mês ou um mês e meio depois é que a minha família e amigos veem a cena.

Desse ponto de vista, o teatro é também uma forma de os recompensar?
Sim, de uma certa forma, sim. Eles são aqueles a quem eu digo com muita frequência ‘Hoje não vou poder ir jantar porque estive a gravar 12 horas em cenas de choro’. Eles são sempre os que ouvem isto. Poder tê-los à minha frente, a receber a energia que tenho para dar quando estou a representar é altamente motivador e emocionante.

Nos dias em que teve Eunice e Ruy de Carvalho na plateia o que é que sentiu?[pausa] Eu tenho uma carreira mínima. Ao pé da carreira deles, é zero.

Já são 15 anos, apesar de tudo…
Sim, mas não é nada, ao lado deles. Nos dias em que eles cá estiveram, e eu fui avisada que eles vinham, tremia que nem varas verdes. Vim muito cedo, aqueci muito mais a voz. Não é que nos outros dias eu não sinta essa responsabilidade, não é que os meus espectadores anónimos que vêm ver-nos a cada sessão não mereçam tudo de nós, mas bolas, acho que as pessoas percebem. Era a Eunice Muñoz. Era o Ruy de Carvalho. Somos tão pequeninos.

E no final, o que sentiu?
[risos] Ainda mais pequenina. Mas muito orgulhosa quando eles vieram ao camarim e me disseram que tinha estado muito bem. Quando ouvi a Eunice e o Ruy a dizer que, de certa forma, os tinha surpreendido, aqui entre nós, desatei a chorar [pausa].

Em cima das tábuas, um ator vê a plateia?
Nas primeiras duas semanas eu não via ninguém. A partir da terceira semana comecei a ver a primeira fila. A partir da quarta semana, já estou na quarta fila. Agora, já consigo olhar para a plateia [risos]. Antecipando-me à sua pergunta, vi mesmo o Ruy e vi mesmo a Eunice nos dias em que eles cá estiveram. Vi e ouvi. Porque havia momentos em que eu não estava a olhar para eles, claro, mas ouvia as gargalhadas deles, porque as conheço bem.

Já contracenaram muito em televisão…
Sim, já foram meus avós, já trabalhei com eles várias vezes. Ouvir as vozes deles a serem felizes, e partilharem aquele momento comigo, ohhhhh… Isto não é suposto ser assim [gargalhada]. É suposto ser ao contrário. Já os vi em palco muitas vezes e sempre foi ao contrário.

Para quem faz tanta televisão como a Rita faz [Rita entra na novela “A Herdeira” da TVI, cujas gravações começaram na semana passada], o teatro é uma espécie de catarse, de purificador?
[pausa] Não gosto muito de dizer isso. Essa não é a minha ideia. Como se sabe, porque eu já o disse e acho que é visível, eu adoro fazer televisão. Ouço imensos colegas a dizer que o teatro é que é, que é ali que tudo começa, que é o inicio de tudo. Eu respeito isso, mas não é a minha opinião. O teatro não foi o meu início.

Comecei na televisão, é lá que me sinto completamente em casa. Posso ter 500 câmaras a apontar para mim que eu vou estar tranquila na mesma.

Então o que é que o teatro lhe traz?
Feedback direto, que é uma coisa que eu nunca tive. Capacidade de improviso, porque todos os dias é uma coisa diferente. Em televisão, nunca mais na vida voltarei a fazer aquela cena. Nunca mais. Fiz aquilo uma vez com aquelas pessoas, com aquelas palavras. Nunca mais. Aqui não. Todos os dias digo o mesmo texto, com as mesmas pessoas, com os mesmos movimentos. E mesmo assim, todos os dias é diferente, porque o público varia de dia para dia.

Nem sempre ri nos mesmos momentos?
Sim, nem sempre rio nos mesmos momentos. Há dias em que acho que estou a fazer tudo errado, porque as pessoas não se riem nos mesmos momentos. Há uma espontaneidade que a televisão não tem. Isso, sim, é o que me enche a alma quando faço teatro.

Em televisão não há feedback?
Não, normalmente não há. Quando a coisa está mal, ouve-se “corta” e gravamos outra vez [pausa]. Quando um cameraman vem ter comigo e diz que a cena correu bem, isso para mim é extraordinário. É muito pouco frequente, porque eles estão ali 12 horas por dia. A televisão é uma máquina, não para.

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E é uma máquina que criou um conjunto de atores que ficou conhecida como a “geração ‘Morangos com Açúcar’” e que tão criticada foi. Hoje, quando se olha para essa geração, percebe-se que muitos desses atores fazem parte da primeira linha da ficção portuguesa. Passaram 15 anos…

É verdade, é verdade. As três primeiras temporadas foram as mais marcantes, de onde saiu a maior quantidade de atores que ficaram. É uma geração superforte e que conseguiu dar a volta a todo esse incómodo que nós provocávamos na geração dos que vinham do Conservatório e do teatro. Lembro-me que na minha segunda novela, a seguir aos “Morangos”, eu sentia-me completamente deslocada. Sofri mesmo um bocadinho de bullying por parte de algumas pessoas.

Vocês sentiam isso na pele?
Ah, sim, sim. Eu senti, não sei os outros.

Em trabalho, com técnicos ou com os restantes colegas de elenco?
Sim, tínhamos de provar muito mais. E não era muito à equipa, era muito mais aos nossos colegas. Tínhamos de provar ‘eu estou aqui porque eu quero muito isto, porque quero aprender’.

Percebe a postura dos seus colegas? Percebe que naquela altura tenha havido gerações que se tenham sentido ameaçadas por umas caras e corpos bonitos que acabam de chegar?
Compreendo perfeitamente. Acima de tudo porque aquelas pessoas estiveram cinco, seis anos a estudar teatro, a tirar licenciaturas e especializações naquela arte. E nós, de repente, passamos num casting e estamos ao lado deles, a contracenar com eles. E infelizmente, por vezes, com papéis mais importante do que os deles.

E tinham consciência que isso aconteceu, num momento de afirmação da TVI, que era por causa das vossas caras e corpos, apenas…
Tenho consciência disso. Completa consciência. E se não tivesse, não teria ido estudar. Mal terminou o “Dei-te Quase Tudo”, quando comecei a conseguir ter algum dinheiro de parte, fui estudar. Foi a primeira vez coisa que fiz: ir estudar para São Paulo durante quatro meses. Tirei três cursos diferentes, um de teatro, um de televisão e um de cinema. Logo a seguir fui estudar para Los Angeles, onde estive a morar durante quatro meses. Isto são coisas que eu não ando a gritar a toda a gente.

Não se sentia atriz ainda nessa altura?
[pausa] Não, não. De todo. Aliás, ainda hoje.

Como assim?
[risos] Sempre que preencho um papel, ou faço um check-in num hotel, por exemplo, eu escrevo atriz no campo “profissão”. Mas acho que sou uma novata, comparativamente com muitos profissionais que aí andam.

Ok, mas a idade também é outra…
Sim, claro que sim, mas isto para dizer que ainda me sinto um bocadinho envergonhada quando digo que sou atriz. Não sei porquê [risos]. E sempre que vou tirar cursos lá fora digo sempre que sou bailarina [gargalhada]. Para que eles não esperem mais de mim do que esperam dos outros alunos. Tenho plena consciência do que aprendi ao longo destes anos. Quando olho para trás e vejo o que fazia nos “Morangos”, sinto alguma vergonha [baixa a voz e ri]. Aquilo era muito mau. Mas faz parte. Cresci. E quero continuar a crescer.

Mas o que sentia na altura deve ser o que a geração que está a entrar agora também deve sentir…
Se calhar não. Tenho sentido que esta nova geração é melhor do que nós éramos na altura. Estão mais preparados, sabem mais o que querem. E já não são tão escolhidos pelo corpo e pela beleza, mas sim pelo talento, o que vira um pouco o jogo. Isso é bom.

Mas hoje já se sente atriz.
[pausa] Às vezes. [Inadvertidamente, as luzes do palco baixam-se e Rita ri-se]. Às vezes. Agora nesta pergunta, tudo baixou. E às vezes é isto que eu sinto: a luz a baixar e eu fico assim na minha caixinha… não sei. Tem dias em que saio daqui e vou com um sorriso nos lábios e vou concretizada e acho que cumpri. Tem outros dias em que me pergunto: “Como é que alguém aceitou que eu pudesse estar naquele palco?”.

É muito insegura?
Não, nada.

Sou uma pessoa com muita autoconfiança. Mas é essa sensação de aparente insegurança que me dá a responsabilidade de querer ser melhor, de fazer melhor. No dia em que eu não sentir essa insegurança é mau sinal.

Mas houve algum momento, alguma novela, em que sentiu: “Agora, sim, já sou atriz”?
Não. O que senti n’“A Única Mulher” foi uma coisa muito especial: as pessoas começaram a dar-me crédito. A construção da personagem foi muito forte. Tive uma direção só para mim. Fui buscar a Sofia de Portugal para me dar “coaching”, coisa que nunca me tinha acontecido. Senti uma enorme diferença, porque a Sofia ajudou-me muito a encontrar dois ou três pontos que eu nunca teria encontrado. E o público deu-me créditos desta vez, e olhou para a personagem, a Luena, e não para a atriz.

Que ideia é que acha que os portugueses têm de si?
[pausa e sorriso] Hoje em dia, de uma forma completamente diferente de há 15 anos. Eu faço parte da geração das redes sociais e acho que com o surgimento das redes sociais, tive a oportunidade de me mostrar ao público enquanto pessoa. Há seis anos nós éramos sempre a personagem que as revistas queriam que nós fôssemos. Hoje isso já não acontece.

Mas o que quer dizer quando diz que as pessoas olham para si de forma completamente diferente?
Tenho absoluta noção que, em muitos momentos, mais de metade da minha carreira, as pessoas olhava para mim como seu eu fosse uma mulher fútil. Hoje acho que é uma minoria. Consegui dar a volta. E, de novo, porque as redes sociais ajudaram.

As redes sociais alimentam muito as revistas e os sites, aquilo que se convencionou chamar a imprensa cor-de-rosa, mas mostram também a verdade que as figuras públicas querem passar. Há uma verdade algures aí no meio? Entre o que passavam há anos e o que vocês querem que passe agora?
[risos] Há casos de toda a espécie. E até há casos de atores, apresentadores, “whathever”, que conseguirem que as redes sociais façam deles o que eles não são.

O que é que isso quer dizer?
Isso mesmo. Há muitos atores que fazem parecer que são incríveis, que são muito simpáticos, que têm vidas espetaculares e que só comem coisas saudáveis… e não é assim. Quando me perguntam porque é que eu sou a pessoa mais seguida em Portugal nas redes sociais, eu respondo sempre com o facto de tudo aquilo que é possível encontrar no meu Facebook e no meu Instagram sou eu. Ponto. Eu apareço 500 vezes sem maquilhagem, digo os disparates que digo normalmente. Sou eu. Digo a verdade sobre os produtos, sobre as marcas. Se não gosto, não gosto, se gosto, gosto. E as pessoas sentem isso. Na minha opinião, o grande segredo é a verdade.

A Rita revela muito de si nas redes sociais. Revela uma ida à praia, revela as suas férias, revela muitas fotos sensuais. Ou seja, dá ao público e à imprensa aquilo que sabe a indústria quer. E ao mesmo tempo controla o processo. Isso é uma grande mudança na relação das figuras públicas com o jornalismo.
Mas esse é o grande segredo. Sou eu que controlo o que quero mostrar. Quando me mostro em fato de banho, sou eu que mostro, não é um “paparazzo”. Eu nunca mostro a minha casa. Posso fazer uma fotografia num canto da casa, num plano fechado aqui ou ali. Mostro o chão se estiver a filmar as cadelas, mas não vou mais longe. Coloquei esse limite e tem de haver ali um limite de privacidade. Se for tudo também entregue, já não é a mesma coisa.

As redes sociais vieram de facto alterar o paradigma comunicacional…
Aliás, há pessoas que só se tornaram conhecidas por causa das redes sociais. Têm “instagramers” com seis milhões de seguidores. Há uma italiana que começou no Instagram e hoje tem as marcas todas com ela: a Prada, a Dolce & Gabbana, tudo… Tornaram-se sucesso por causa da exposição pública.

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E no seu caso, como foi crescer com esta notoriedade, sempre debaixo dos holofotes? Como é que uma figura pública aprende a lidar com isso?
[pausa] O que quer que pense que ainda há para escrever sobre mim… já foi escrito. Já passei por todas as etapas que uma figura pública pode passar. Já fui a maior, já fui a pior, já fui indiferente. Se apanho um cocó do chão da minha cadela, é porque apanhei. Se não apanhei é porque não o fiz. Se ando na rua e não toco no botão antes de atravessar a passadeira, é o drama total. Se carreguei no botão é porque posso morrer. Já passei por tudo.

E como é que se gere isso?
[pausa] A verdade é que a minha cabeça mudou completamente, quer na minha relação com a imprensa, quer naquilo que as pessoas pensam de mim, com a morte do Angélico. Esta é a verdade nua e crua.

Mas o que é que mudou na sua cabeça, além do que mudou no seu coração?
O que mudou foi: “O que é que é importante na tua vida? Isto é importante? O que esta pessoa escreveu sobre ti é importante? Vai mudar alguma coisa em ti? Não, só te vai ocupar espaço, deixar-te triste e amanhã vem outra”. Foi esta análise que eu fiz e parei por ali. A partir daquele momento, e já lá vão seis anos, que eu mudei completamente a minha postura para com a imprensa. E o mais engraçado é que me passei a dar melhor com a imprensa.

Porque eu tenho plena consciência que eu era arrogante, e era revoltada e não me dava bem com os jornalistas.

Porquê?
Sentia-me injustiçada, aquilo era uma injustiça que estava a acontecer ali, com as notícias todas que saíam, com as mentiras. Eu ficava com raiva e chorava e não queria ver aquelas pessoas à minha frente. E se tinha um evento onde sabia que aqueles jornalistas iam aparecer… Tinha 20 anos. E nessa idade ver coisas terríveis a serem escritas sobre nós não é nada fácil. Aquilo era um “bullying”. Tive de me habituar a viver com isso.

Sente que também foi vítima de “bullying” por parte da imprensa?
Ui, sim. Durante uns bons anos. E acho que parou quando eu mudei.

A imprensa hoje respeita-a mais ou foi a Rita que mudou a postura?
Ambos. Eu mudei, também cresci. A maturidade também é isso.

Naqueles dias a seguir ao acidente e à morte do Angélico, escreveu-se muita coisa. Inclusivamente que o vosso namoro já não era mais do que uma relação comercial que interessava aos dois. Como é que se saram as feridas, como é que se segue em frente, lendo constantemente o que era escrito diariamente?
Há feridas que nunca saram, independentemente das voltas que a vida dê e de terem passado seis anos e a minha vida hoje ser outra. Há feridas que ficam para sempre. Mas naqueles meses eu percebi que valia tudo e fiz com que o tudo que vale valesse nada na minha vida. Foi assim. Decidi que aquilo que se estava a passar eu iria ignorar. E que tinha de começar uma vida nova. E num certo sentido, foi assim. A morte do Angélico representou, de uma certa forma, o fim de uma Rita Pereira e o começo de outra. Com um respeito diferente, com uma abordagem diferente.

Mas como fez? Deixou de ler revistas e jornais?
Sim, deixei de ler algumas coisas e de me preocupar com outras. Tinha de ser assim. É claro que eu tenho “clipping”, tenho sempre quem me faça chegar às mãos as notícias sobre mim. Mas se eu não as ler no dia em que saem é como se elas não existissem.

Mesmo com as dezenas de namorados que lhe foram atribuídos?
Mesmo com todas essas informações, sim [risos]. A partir daquele momento, eu percebi que esta tinha sido a vida que eu escolhi e que tinha de aguentar isso. Tenho bom remédio. No dia em que não quiser isto, vou para casa, vou fazer outra coisa.

Percebe essa curiosidade da imprensa?
Claro que sim. A imprensa tem de trabalhar, tem de vender. Se não morre, como está, infelizmente, a acontecer com o papel. Por trás daquelas letras estão pessoas que têm famílias e que têm de alimentar os filhos. Portanto, tenho de aceitar isto na minha vida e coloco um limite. Quando o limite é ultrapassado, vamos para tribunal.

Tem ido muito?
Sim, tenho.

Tenho várias ações em tribunal. E até ao momento ganhei-as todas. Já viajei muito à conta da imprensa.

Mas também há uma coisa que é preciso ser dita, e eu digo-a com grande clareza: no dia em que os jornalistas deixarem de escrever sobre mim, alguma coisa está a correr mal.

Tem noção que vende?
Sim, claramente. Sei que sou uma marca.

Era aí que íamos chegar. Tem noção que é uma marca muito rentável.
Tenho, claro que tenho. Mas não foi pensado, não foi estruturado. Quanto a mim, isso não pode ser planeado no início. Depois sim, agora é planeado, mas no início acontece por acaso, e é sequência do trabalho. Não fui eu que decidi que queria ser uma marca, fui conquistando o público com o meu trabalho, com a minha notoriedade. Trabalho muito. Trabalhei muito.

Tem noção do que vale?
Tenho noção do que valho, não sou hipócrita. Sei que se me juntar a uma marca, aquela marca vai vender. E isso deixa-me feliz. Às vezes, as pessoas interpretam isto de uma forma errada: “Ela está com a mania”. Mas não é. Não sou é hipócrita e tenho noção daquilo que sou. Isso não faz com que eu seja menos humilde: eu continuo a saber de onde é que eu vim, onde cresci, e felizmente tenho uma família que está sempre a puxar-me à terra. Agora, não vale a pena fingir que não sei que quando me juntei à Compal Veggie, por exemplo, que é um sumo difícil de as pessoas gostarem, a marca teve um sucesso enorme. Foram as duas marcas juntas que conseguiram vender um sumo de vegetais.

Isso rende muito dinheiro.
[pausa] Rende. Quando eu fecho contrato com uma marca, as primeiras alíneas do contrato são as redes sociais. Posso dizer que um “story” meu nas redes sociais tem uma média diária de 100 a 130 mil visualizações. Só um “story” de 15 segundos. Um vídeo meu tem uma média de 200 a 300 mil visualizações.

Volto a perguntar: são números muito rentáveis?

São números muito rentáveis [os contratos comerciais das redes sociais]. Tão rentáveis que são superiores ao que ganho em televisão.

Se a Rita hoje quisesse deixar de fazer televisão durante três anos, poderia? É evidente que isso teria repercussões do ponto de vista da sua notoriedade, mas pensando só do ponto de vista financeiro, poderia dar esse passo?
Poderia [pausa]. A resposta é sim, mas eu não esqueço que foi por causa do meu trabalho enquanto atriz que eu as marcas vieram. Foi graças ao trabalho que eu fiz, e ao facto de a TVI me ter dado esta oportunidade de trabalhar enquanto atriz, que foi possível construir tudo isto. Portanto, se estivesse três anos fora da televisão, não seria tão apelativa para as marcas.

E a TVI tem-lhe dado muitas oportunidades, de facto. Há 15 anos que a Rita não sai do ar. Praticamente não tem tido pausas, entre novelas e apresentações. Mesmo as pausas nas gravações o público não sente, porque as histórias continuam no ar mesmo depois de as gravações terminarem. Isso não cansa?
Cansa. Muito. Cansa a nível físico, cansa a nível psicológico, cansa a imagem do ator. Mas a TVI tem sido sempre uma família para mim.

É das poucas atrizes da sua geração que não saltaram já por outros canais…
Verdade. Já quase todos rodaram. Eu sou fiel à TVI porque lá sou feliz e porque as contrapartidas são boas.

Foi assediada alguma vez pela SIC e pela RTP?
Sim, fui [risos]. Deixa-me feliz, obviamente. Significa que o meu trabalho está a ser bem feito. Mas optei sempre por ficar. Não havia razão para sair.

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Mas há razões para abrandar. A Rita disse recentemente que gostava de ser mãe aos 35 anos. Já não falta muito tempo para chegar aos 36…
[risos] Ainda falta, ainda falta. Só fiz os 35 em março.

Bem, mas para ser mãe aos 35 é preciso começar a trabalhar antes [gargalhada]…
[sorriso] A partir do momento em que uma mulher está grávida já é mãe. Portanto, ainda tenho algum tempo.

Sente essa urgência?
[pausa] Se me prometer que depois desta hora e tal de entrevista não faz título com isto, eu respondo a essa pergunta. É a história da minha vida e das entrevistas que dou.

Está prometido.
[gargalhada] Ok, obrigado. Se sinto essa urgência, esse tal relógio biológico a funcionar? Sinto, mas sinto há muito tempo. Desde os 21, 22 anos. Os meus pais são professores, a minha irmã é professora, as crianças sempre estiveram muito presentes na minha vida. É uma coisa muito natural, gosto muito de crianças. Mas, acima de tudo, sinto que tem de ser agora.

Já são 35 anos e tenho mesmo de colocar uma pausa na minha carreira e passar a dar agora a grande importância e a luz para a família.

[Esta entrevista foi realizada antes de Rita Pereira saber que estava convocada para a novela “A Herdeira”, cujas gravações já se iniciaram].

TEXTO: Nuno Azinheira