“Há coisas que tenho de tratar, porque a morte aproxima-se”. Eládio Clímaco confessa depressão

Eládio Clímaco, o “senhor Eurovisão“, confessou este sábado estar a viver uma depressão porque “a morte se aproxima”. Em entrevista de vida ao programa da SIC “Alta Definição”, revelou que nunca foi um homem livre para não desiludir os pais.

“Tenho feito tratamento, que tem sido ligeiro, mas muito eficaz, com um psiquiatra que percebe muito bem aquilo que eu lhe digo, e que me receita algumas coisas muito boas”, revelou o comunicador, que esteve 43 anos na televisão, e que tem hoje 76.

“A minha cabeça está fresca, mas eu estou um bocadinho esquecido porque estou com uma depressão. É normal. Há coisas do dia-a-dia que fazem as pessoas entrar em depressão. Começo já a ver que há coisas que tenho de tratar, porque a morte aproxima-se”, afirmou a Daniel Oliveira.

O antigo apresentador revelou que não quer ser cremado quando morrer. “Aquela frase ‘Da terra vens, à terra tornas’… Eu estou a pensar se é isso que eu quero. E o pensar faz-me mal. E quando penso muito apetece-me ir tomar um copo ao Bairro Alto”.

Confessando ter ficado muito triste quando foi afastado da Eurovisão, Eládio Clímaco diz sentir uma “grande alegria” pelo facto de a final da Eurovisão se realizar este ano em Portugal. “Estou feliz por um lado, claro, mas triste por isso não ter acontecido no meu tempo”.

Homem de vários namoricos, Eládio Clímaco confessou nunca ter sido “completamente livre” para não desiludir os pais, com quem viveu sempre até à morte dos progenitores. “Nunca fui completamente livre. A minha liberdade sempre foi muito controlada por mim próprio. Para não magoar nem dececionar os meus pais”, confessou.

Mas não esquece aquela que diz ter sido a grande paixão da sua vida. “Tive uma paixão entre os 13 e os 23 anos que a minha mãe nunca aprovou. A minha mão foi mãe tarde e era muito possessiva. E os mais pais desfizeram um casamento. Foi uma paixão avassaladora, que me transcendia. Mas depois quando eu disse que não podia casar, ela casou com a primeira pessoa que apareceu”, dissse, revelando alguma mágoa.

O trauma foi superado com o trabalho. “Casei-me com a televisão e vivi com a televisão durante 43 anos”. Quando se reformou, aos 72 anos, sentiu “um grande choque”. “Custou-me muito. E aí talvez tenha começado a descida da escada da fama”

“Dei por mim a escolher vestidos para passear no Chiado, como se fosse um turista em Lisboa. Foi um divórcio complicado, porque eu dediquei a minha vida à televisão”, sublinhou.

Depois de ter “viajado por todo o mundo”, Eládio Clímaco refugia-se no seu “pequeno mundo”. “Este mundo é só meu. Guardo as coisas só para mim. Ninguém tem nada de saber das minhas dores”. E acrescentou: “Estou reduzido a três ou quatro amigos íntimos. Não me roubaram a alegria de viver, mas roubaram-me o prazer de vida”.

Não deixando de revelar a sua mágoa, Clímaco diz sentir “não prestar para nada”. “Sou descartável, não presto para nada. Neste país, as pessoas são descartáveis aos 70 anos, coisa que não acontece nos outros países”. Por isso, acrescenta, vive o presente: “não olho para a frente”.

Emocionado, o antigo profissional de televisão, que atravessou gerações de portugueses, concluiu. “A realidade desceu à terra, desceu à minha cabeça. E isso entristece-me”.

TEXTO: Nuno Azinheira

 

 

 

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