Carolina Deslandes homenageia avó: “Queria que tivesses visto o que criaste”

Instagram Carolina Deslandes

Dois meses após a morte da avó, Ana Maria, Carolina Deslandes fez-lhe uma homenagem nas redes sociais.

A artista emocionou os seguidores ao partilhar, na conta de Instagram, um texto no qual recordou “os primeiros concertos” com a avó, sublinhando que “só queria mais um bocadinho” para que tivesse visto o que esta criou.

“Todos os dias depois de almoço pedias-me para cantar, e cantavas comigo. Desafinado mas feliz, com uma voz que fazia tremer o chão da casa. Foram também esses os meus primeiros concertos. E também essa, a primeira vez que descobri que gostavas de me ouvir cantar. E isso bastava-me. ‘Vais ser artista’ dizias à boca cheia”, afirmou a cantora na legenda da publicação.

“Eu queria só mais um bocado sabes? Só mais um bocadinho, para que tivesses visto o que criaste. Toda a curiosidade que alimentaste, todo o amor e toda a confiança, construíram esta árvore que dá frutos, sombra e abrigo. Foste tu. Não estás cá, mas estás. Não vês? O amor fez-te imortal e as canções também”, acrescentou.

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Tinha 8 anos e fomos almoçar a um restaurante no Alentejo. Depois do almoço comi um gelado gigante e no final o senhor mostrou-te um livro grande com vários poemas e opiniões que as pessoas deixavam escritas sobre as refeições que lá se faziam. “Sr. doutor, gostava muito que deixasse aqui umas palavras” olhaste para mim, passaste-me o livro e a caneta e disseste “Muito obrigado, mas quem vai escrever um poema é aqui a minha neta Carolina”. Não me lembro do que escrevi, mas sei que terminei com a frase “hei-de vir cá outra vez” e ficaste muito orgulhoso porque tinha escrito “hei-de” com o h e o hífen no sítio certo. Foi a primeira vez que escrevi um poema num caderno de não fosse só meu, e foi também a primeira vez que senti que acreditavas em mim. Mais do que eu e talvez mais do que toda a gente. Todos os dias depois de almoço pedias-me para cantar, e cantavas comigo. Desafinado mas feliz, com uma voz que fazia tremer o chão da casa. Foram também esses os meus primeiros concertos. E também essa, a primeira vez que descobri que gostavas de me ouvir cantar. E isso bastava-me. “Vais ser artista” dizias à boca cheia. Sem medo da incerteza que isso traria, sem medo do futuro, com absoluta confiança em mim. Não chegaste a ver as salas cheias, não chegaste a dividir o palco comigo como disseste que iriamos fazer, não chegaste a ver o Coliseu e a ver-me cantar com os cantores que ouvíamos em casa e sabíamos de cor. Eu queria só mais um bocado sabes? Só mais um bocadinho, para que tivesses visto o que criaste. Toda a curiosidade que alimentaste, todo o amor e toda a confiança, construíram esta árvore que dá frutos, sombra e abrigo. Foste tu. Não estás cá, mas estás. Não vês? O amor fez-te imortal e as canções tambem. Acendem-se milhares de luzes a cada vez que canto sobre Ti. E no final de tudo, dividimos o palco na mesma, cantamos juntos na mesma, e continuas vivo. No meu jeito de espirrar igual ao teu, na curva do pé da Vera igual à tua, nos olhos da avó, na gargalhada da minha mãe, nas histórias da Tia Maria e nos sonhos dos meus filhos. Obrigada Avô. Foste tu que fizeste o meu desenho, obrigada por não teres tido medo de pintar fora das linhas. Até sempre ✨5 anos

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