Lia Gama recordou os episódios de violência por parte do pai e da madrasta, que sofreu quando era mais nova e vivia com o casal. “Lembro-me de ter levado uma sova monumental”, relatou.
A atriz, de 78 anos, esteve à conversa com Daniel Oliveira no programa “Alta Definição”, no qual lembrou a violência de que foi alvo durante a infância com o progenitor e a respetiva companheira.
“Com quatro anos, fui viver com o meu pai e com a minha madrasta. Não tenho memórias gratificantes, não tenho. Até ao princípio da adolescência lembro-me de muito pouco, ou se calhar não me quero lembrar”, contou, no formato dos sábados à tarde da SIC.
“Eles davam-se muito bem. Um dizia mata, outro dizia esfola. Levava duas vezes por coisas que às vezes nem tinha feito. Era o bobo da festa. O meu pai era mais violento do que ela. Vivi sem afetos, o que é péssimo para uma criança. Por isso, sou como sou: sou muito insegura, não parecendo. Digo tudo o que tenho a dizer”, afirmou.
“Sentia que era um empecilho. A minha madrasta dizia que gostava mais de rapazes, que tinha preferido ficar com o meu irmão. Eu era rebelde, nunca me acomodei. Quanto mais me batiam, menos eu chorava”, lembrou.
A intérprete revelou que, na altura, foi “tão agredida” que as vizinhas fizeram queixa anónima no tribunal. “Era tão agredida, fisicamente, que as vizinhas fizeram uma carta anónima para o tribunal de menores. Eles foram julgados e absolvidos. Eu fui interrogada, várias vezes, fiz vários exames no instituto de medicina legal e eu nunca os denunciei”, relatou.
“Lembro-me de uma vez ter levado uma sova monumental porque tinha passado para a terceira classe, tinha uns livros novos e uma pasta nova, eu tive de sair, deixei tudo em cima da cama e o cãozinho destruiu aquilo tudo. Meti tudo na pasta, que era nova, fechei-a à chave. Um dia, a minha madrasta chegou a casa, descobre a pasta fechada, abriu-a e descobriu aquele preparo. Levei com cinto, verdasca de marmeleiro, era de toda a maneira. Só me lembro da minha madrasta dizer: ‘não lhe batas na cabeça’”, disse.
Lia Gama partilhou que o pai, mais tarde, acabou por lhe pedir desculpa: “Antes de morrer, ele disse-me que realmente não tinha sido bom pai. Disse-lhe que ele podia ir em paz, porque se ele tivesse sido bom pai eu não era aquilo que sou”.