Matay foi o entrevistado de Daniel Oliveira no “Alta Definição”, deste sábado, 29 de janeiro, na SIC, e abriu o livro da sua vida.
O cantor lembrou a sua infância, falou sobre o racismo e ainda sobre os seus filhos. O intérprete começou por lembrar que não tem qualquer recordação dos pais juntos e que a vida na casa da mãe nem sempre foi fácil.
“Tínhamos apoios, as associações onde íamos buscar comida, e aí era difícil. Não faltava porque a minha mãe era batalhadora. Mulher de guerra. Uma sandes de fiambre, por exemplo, se calhar não era tão fácil, mas havia um pão com manteiga. Era o que havia”, contou.
O artista lembrou ainda que viver na praceta onde a sua mãe morava nem sempre era fácil, pois “as questões relacionadas com a cor eram pesadas”. Matay lembrou ainda um episódio marcante: “Estava a brincar na rua e houve uma mãe de um miúdo que da janela disse: ‘então estás a brincar com esse preto’”.
“Tens que sobreviver, vais aprender de dia para dia o que é que tens de fazer, que caminhos tens de fazer para conseguires continuar cá. Não sinto raiva de ninguém. É tu conseguires depois dar seguimento à tua vida porque isto são coisas que… fazem parte da minha vida”, acrescentou.
Matay recordou ainda um outro episódio, mas este já em adulto: “Éramos quatro pretos e um branco. Veio a polícia e manda-nos encostar à parede. Perguntei porquê e disseram que nos enquadrávamos na descrição do grupo para o qual eles estavam ali. E ao branco que estava connosco, disseram-lhe que ele podia ir para casa. Questionei porque ele estava connosco, era nosso amigo, vai para casa porquê? E ele revoltado também, ficou do outro lado do passeio. Pediram-nos para ficarmos voltados para a parede. Eu não me virei para a parede, isso não. […] Recusei-me”.
“Trabalho todos os dias, venho aqui sair, divertir-me, e sou encostado à parede por nada, ninguém me diz porquê. Disse-lhe que se fiz alguma coisa, para me levarem para a esquadra. […] O que é que fiz para merecer isto? Fomos identificados e fomos embora sem nenhuma explicação. E aí eu já era adulto. […] Não se faz. E isto foi aqui, cá em Portugal”, explicou.
Pai de dois meninos, Vicente e Santiago, frutos do relacionamento com Maria, o músico garante que quer que “eles digam que o pai foi boa pessoa”.