Rui Maria Pêgo: “Houve coisas que não me foram dadas por eu ser gay”

Fotografia: Instagram "Goucha" TVI

Rui Maria Pêgo esteve à conversa com Maria Botelho Moniz, no programa “Goucha”, e falou abertamente sobre a sua sexualidade.

Rui Maria Pêgo é filho de Júlia Pinheiro e Rui Pêgo. Aos 19 anos, revelou aos pais que era homossexual e, esta terça-feira, esteve no programa “Goucha”, transmitido pela TVI, onde, numa conversa emotiva com Maria Botelho Moniz, falou abertamente sobre o tema.

“Como é que um adolescente vive com um segredo?”, questionou Maria Botelho Moniz.

“Vive nas trevas, vive sozinho. Não há nada pior do que viver com um segredo, porque isso faz com que fiques paranoica com tudo aquilo que tu fazes. Com os teus gestos, com a tua voz, no meu caso, sendo homossexual e estando numa escola conservadora e num meio conservador, ser alguma coisa diferente da norma, torna-te objeto de algum tipo de atenção extra”, começou por dizer.

“Embora eu seja espampanante numa série de coisas, às vezes não queres essa atenção extra e não queres que as pessoas te persigam, não queres ser mal tratada, não queres que te batam e não queres que te façam mal”.

“Eu acho que fui muito protegido pelo facto de ter pais com nomes conhecidos, porém isso também fez de mim um alvo na minha adolescência e isso foi difícil. Agora viver com um segredo é medires o que fazes e medires o que fazes é não seres livre”, esclareceu.

Mais à frente, Maria Botelho Moniz perguntou: “Sai um peso de cima quando as pessoas sabem quem tu és?”.

O ex-locutor respondeu: “Sim. Eu não te consigo explicar, o medo que eu tinha era paralisante. Já para não falar da vida dupla que levas, porque tu tens aquelas coisas clássicas, eu achava que só me apaixonava por mulheres, mas sexualmente só me sentia atraído por homens. As coisas que inventamos para sobreviver”.

Rui Maria Pêgo falou, ainda, de como assumir a homossexualidade causou constrangimentos na sua vida profissional: “Durante muito tempo, o facto de eu dizer que tinha namorado em televisão era impensável. Foi-me dito, não sei quantas vezes, que a minha carreira acabava por eu ter dito que era gay. Houve coisas que não me foram dadas por eu ser gay. E outras que me foram dadas, talvez, por isso”.

“Em 2008 ou 2009 isso era uma coisa muito mais pesada do que em 2023, não houve nada ostensivo, mas a minha contratação para um canal, até há quatro ou cinco anos, não era pacífica. (…) Eu continuo a ser das poucas pessoas em televisão, há o Manel e outras pessoas que o fazem, mas em rádio devo ser das poucas pessoas que, habitualmente, falo sobre a minha vida privada”, rematou.