“Não tentei suicidar-me”. Judite Sousa revela que “todos os dias” morre um bocadinho

Judite Sousa garante que nunca tentou suicidar-se, como chegou a ser escrito pouco tempo depois da morte do seu único filho, André Sousa Bessa, a 29 de junho de 2014. Numa longa entrevista, a diretora-adjunta da TVI diz que tomará antidepressivos até ao fim dos seus dias.

“Não tentei suicidar-me. Num certo sábado, já não me lembro o dia, estava muito deprimida. Tinham acontecido situações tristes nas últimas 24 horas, também já não me lembro bem exatamente quais, e exagerei na medicação que tinha de tomar”, conta Judite Sousa à TV Guia, na edição publicada esta sexta-feira.

A jornalista diz que a o excesso não foi propositado, mas sim “por descuido”. “Exagerei na dose e acabei por ficar inconsciente”, recorda. Foi depois transportada para o Hospital de S. José, onde ficou “um dia e meio”.

Apesar de nunca ter querido colocar fim à vida, Judite Sousa diz que “quando morre um filho, começa-se a morrer devagar”. E acrescenta: “Todos os dias morro um bocadinho”, acrescentando que “a única maneira de continuar a viver é continuar a trabalhar”.

“Optei por viver, porque era isso o meu filho queria. O André, se estivesse cá, quereria que eu vivesse”

Em oito páginas, a jornalista revela continuar a tomar antidepressivos e que o fará até ao resto dos seus dias, embora reconheça estar “francamente melhor”. “O luto tem várias fases”, assegura. Agora está na fase em que quer viver. “Optei por viver, porque era isso o meu filho queria. O André, se estivesse cá, quereria que eu vivesse. Quereria que eu continuasse a fazer reportagens, a fazer entrevistas, a moderar debates, a escrever livros..”

Nestes quatro anos Judite conta que perdeu amigos, até porque “as pessoas não sabem viver com a dor dos outros”. E revela que, ao contrário da ideia com que a opinião pública ficou há quatro anos, a relação com Manuela Moura Guedes não voltou a ser de amizade.

“Não falamos há cerca de ano e meio. Nunca mais falámos. Por circunstâncias do acaso. Eu não telefono, ela não telefona, e, portanto, as pessoas quando deixam de comunicar uma com a outra…”, afirma. Perante a insistência do jornalista da “TV Guia”, Judite Sousa lembra que a morte do filho “foi transformada num festival mediático”.

“A verdade é que, passado o festival mediático, as coisas acabaram por ser o que eram”, afirma, recordando contudo os “momentos extraordinários” que ela e o filho viveram com Manuela, Moniz e os filhos.

“Penso nele desde que acordo até adormecer. Estou sempre a pensar nele, naquilo que seria a sua vida hoje. O André era brilhante”

Lembrando que chorar “faz bem à alma”, Judite diz que chora “em casa, sozinha”, mergulhada nos sentimentos e nas memórias. “Penso nele desde que acordo até adormecer. Estou sempre a pensar nele, naquilo que seria a sua vida hoje. O André era brilhante”, afirma.

E é por isso que Judite Sousa, agnóstica, não acredita na existência de Deus. “Se Deus existisse, o meu filho não teria morrido”.

[O divórcio de Fernando Seara] tinha de acontecer, um dia. Há muito que não havia comunicação entre nós, não havia cumplicidade, não havia partilha”

Aos 57 anos, Judite diz-se “tranquila” e “bem assim, sozinha”, afetivamente falando. Diz que não precisa de um homem que a ame, mas não tem medo de se apaixonar. “Porquê? É bom apaixonarmo-nos”.

Cinco anos depois do divórcio de Fernando Seara, com quem esteve casada durante uma década, a diretora-adjunta de Informação da TVI diz que o divórcio não foi traumático. “Tinha de acontecer, um dia. Há muito que não havia comunicação entre nós, não havia cumplicidade, não havia partilha e, portanto, aconteceu naturalmente. Só não aconteceu antes porque quis que o André fosse criado num ambiente familiar estável”.

A relação que Seara mantinha em simultâneo com Ana Isabel Duarte (com quem se viria a casar em 2015), então vereadora na Câmara Municipal de Sintra, que era à época dirigida pelo conhecido advogado benfiquista, foi a gota de água para o pedido de divórcio.

“Acho que se não fosse jornalista, seria uma ótima atriz”, acredita, quando confrontada com os últimos anos de casamento e a forma como descobriu a traição. Apesar de tudo, Judite Sousa diz que o ex-marido foi “um ótimo padrasto para o André”. “Ajudou-me a criá-lo. Devo-lhe isso. Sou grata. Tinham uma relação fantástica”.

Duas semanas depois de ter aberto um blogue e a poucos dias de lançar mais um livro, Judite Sousa agradece a Rosa Cullell, CEO da Media Capital, dona da TVI, e faz um balanço positivo do seu trabalho e da informação do canal.

“[A reportagem junto de um corpo em Pedrógão Grande] Fiz aquilo que os melhores jornalistas do mundo fazem”

Quanto às críticas violentíssimas de que foi alvo por, no verão do ano passado, ter feito uma reportagem em direto de Pedrógão Grande junto de um cadáver coberto por um lençol branco, vítima dos violentos incêndios na região, a experiente repórter defende-se: “Fiz aquilo que os melhores jornalistas do mundo fazem (…) O corpo daquela senhora estava coberto com um lençol. Se não estivesse, não teria feito o vivo. E a nora estava ao meu lado, a contextualizar a história (…) Foi uma das 115 vítimas dos trágicos incêndios de junho a outubro de 2017. São coisas completamente diferentes [em relação ao respeito que pediu à imprensa aquando da morte do filho]. Uma coisa é uma pessoa morrer num acidente particular, outra é uma pessoa ser vítima de uma tragédia nacional. São coisas completamente distintas. Quem não perceber isso, é burro”, conclui na entrevista à revista da Cofina.

TEXTO: Nuno Azinheira

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