Série sobre suicídio tão popular como polémica

TEXTO: Carolina Moriais

Hannah Baker tinha 17 anos. Era aluna do liceu. Sofreu de bullying, depressão e quis livrar-se da própria vida. Para trás, deixou 13 cassetes dedicadas a cada uma das pessoas que tiveram influência na sua decisão de cometer suicídio. São elas que servem de motor aos 13 episódios de “13 reasons why”, aquela que já é a mais popular série da Netflix e a que mais tweets gerou em 2017.

A notoriedade é muita. Mas a polémica também. Assim que se estreou, a trama produzida por Selena Gomez tornou-se alvo de crítica de pais e especialistas em saúde mental, que alegam que a história e as personagens “glorificam o suicídio” e podem encaminhar os jovens nessa direção.

Um grupo de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos emitiu uma nota em que afirmou: “Talvez assistamos a um aumento de suicídios por causa desta série”. Na Austrália, a Mental Charity Headspace alertou: “[A série] apresenta mensagens e imagens (…) de métodos de suicídio”. Já Shannon Purser, que interpreta Barb em “Stranger things” escreveu: “Não aconselharia “13 Reasons Why” a quem luta contra pensamentos suicidas, de autoflagelação ou que tenha sofrido agressão sexual. Existem cenas que podem facilmente desencadear memórias dolorosas. Por favor, proteja-se”.

Mais 445% de pedidos de ajuda

A psicóloga clínica Inês Afonso Marques, contactada pela Notícias TV, defende que não se deve “entrar em alarmismos” e que o “importante” é “pais e professores compreenderem que ver uma série na qual uma personagem marcante se suicida, ou falar abertamente, por exemplo, numa aula sobre o tema, não conduz linearmente a ideias suicidas”. Aliás, no Brasil, o Centro de Valorização da Vida frisa que se registou um aumento de 445% de pedidos de ajuda por parte de jovens que citaram a personagem interpretada por Katherine Langford por se identificarem com ela.

Os próprios responsáveis da trama da Netflix pronunciaram-se sobre o impacto e as dúvidas que a mesma está a criar. O argumentista de “13 reason why”, Nick Sheff, responsável pela adaptação ao pequeno ecrã do romance homónimo de Jay Asher, admitiu que foi um dos defensores de “retratar o suicídio com o maior detalhe possível”. “Parece-me que a coisa mais irresponsável que poderíamos ter feito era não mostrar a morte de todo”. E exemplifica: “Nos Alcoólicos Anónimos, encorajam os alcoólicos a pensar em detalhe na sequência de eventos que irá acontecer depois de uma recaída. É a mesma coisa com o suicídio”.

Segunda temporada a caminho?

Ainda não está confirmado, mas a verdade é que tanto os produtores como os atores de “13 Reasons Why” fazem figas para a realização de uma segunda temporada. “Sabemos que ainda há muitas histórias para contar sobre cada uma das personagens”, sugeriu a produtora executiva Selena Gomez. O próprio autor do livro, Jay Asher, confessou: “Gostava de ver uma continuação de todas as personagens. Fiquei curioso. Eu próprio fiquei a pensar numa sequela. Cheguei a fazer alguns brainstormings acerca disso, mas decidi não escrevê-la. Por isso, adoraria vê-la.”