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Um animador sem público

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Nunca viu nada assim em quase 30 anos de carreira: o Covid-19 levou as televisões a prescindir do público ao vivo e Bruno Vidal é, neste momento, um homem sem trabalho ou perspetivas de sustentar a família.

“Costas direitas”, “ta-tara-ta-ta-ta” ou “viva o Sporting” são as três frases mais emblemáticas do animador de público mais conhecido dos bastidores dos três canais, mas que se deixaram de se ouvir nos estúdios das televisões depois de SIC, TVI e RTP terem suspenso ou cancelado muitos programas ao vivo, por causa do Covid-19. Bruno Vidal, bailarino, animador de público, é o homem dos bastidores, o profissional que não deixa quem está a ver o programa “arrefecer” e que pede “palmas” a quem quer estar ao pé de Manuel Luís Goucha, Filomena Cautela ou Isabel Silva, e adverte ainda para o inevitável “está na televisão, por isso não limpe o vizinho do terceiro andar”.

Há cerca de um mês, em Elvas, em mais uma edição do Festival da Canção da RTP, a N-TV assistiu ao vivo ao “aquecimento” e Bruno Vidal, que atuou para milhares de pessoas na arena alentejana, antes de os apresentadores Filomena Cautela, Vasco Palmeirim e Inês Lopes Gonçalves entrarem em ação. Nessa altura já se falava do novo coronavírus mas, num instante, a pandemia instalou-se… e o choque nas televisões também. Assim, os programas que este homem da Margem Sul do Tejo costumava animar, foram todos cancelados.

“Primeiro foi o ‘Dança com as Estrelas’, depois o ‘5 Para a Meia-Noite’, seguiu-se o ‘Quem Quer Ser Milionário’ e o ‘Você na TV – Especial Sábado'”, lamenta-se, a partir de casa, o profissional, em conversa com o nosso site, enquanto informa que “nem os ‘Prémios Play’ escaparam ao cancelamento”.

“Em 28 anos de carreira nunca vi nada assim. Só tiro os meus rendimentos desta minha atividade. Estou muito preocupado porque só tenho fundo de maneio para mais dois meses. A minha mulher foi doente oncológica e tenho um filho com 13 anos. As perspetivas de trabalho estão a tornar-se bastante complicadas”.

A frustração é maior porque o bailarino recorda que “a televisão nunca esteve tão bem nos últimos 15 anos a nível de trabalho, estava no seu expoente máximo”. Aliás, no mês de março, que termina hoje, Bruno Vidal chegou a ter “apenas quatro dias livres na agenda”. Mas tudo se “esfumou” com o Covid-19.

“Estou a ver o que vou fazer e só espero que o Estado olhe por nós. Há milhares de portugueses, como eu, com a corda na garganta, bailarinos que conheço que já estão a correr o risco de perder a casa. Ainda agora recebi uma carta da água, da luz e da prestação do banco”, diz. “Mas apelo à calma e à esperança de que tudo vá regressar à normalidade em breve”.

Em causa está, também, a realização das Marchas de Lisboa: Vidal é o coreógrafo do Alto do Pina. “As marchas, para já, estão suspensas”, refere.