Direito das mulheres à condução. Princesa saudita ao volante de um Rolls Royce na “Vogue Arábia”

O direito das mulheres à condução é o assunto em destaque na Arábia Saudita. No ano passado, a medida foi aprovada mas só este mês é que entra em vigor. A capa da “Vogue Arábia” refere isso mesmo, mas a mensagem transmitida está longe de corresponder ao que realmente se passa naquele país do Médio Oriente.

“A celebração das mulheres pioneiras da Arábia Saudita”. É desta forma que a edição de junho da revista “Vogue Arábia” chama a atenção dos leitores, ao mesmo tempo que utiliza a fotografia de uma mulher ao volante de um Rolls Royce, algo inédito no país.

A intenção da publicação era referir uma medida aprovada em setembro do ano passado, e que este mês entra em vigor: o direito de as mulheres poderem conduzir um automóvel. No entanto, conforme refere o “El País”, o modo escolhido pela revista para noticiar o acontecimento não é o mais exato daquilo que se passa na Arábia.

Em primeiro lugar, porque a modelo escolhida para o efeito trata-se da princesa Hayfa Bint Abdullah Al Saud, filha do falecido rei Abdullah, e segundo porque a viatura que conduz, um Rolls Royce descapotável, não é o retrato mais fiel nem representa o setor feminino árabe, segundo considera o mesmo jornal espanhol.

As críticas da imprensa internacional surgem também na sequência do ambiente que se vive na Árabia nas últimas semanas, e que está longe de proporcionar à mulher a liberdade que ela tanto deseja. Em maio, uma dezena de ativistas foram detidas depois de anos de luta não só pelo direito à condução, mas também pela abolição da tutela masculina.

Recorde-se que na Arábia Saudita as mulheres estão sujeitas às vontades de um tutor, geralmente um familiar, como o pai ou o marido. Entre as várias atividades para as quais necessitam de uma autorização masculina estão o casamento, uma viagem ao exterior ou até a abertura de uma conta bancária.

A lei que este mês entra em vigor é vista pela imprensa internacional como uma forma do príncipe herdeiro Mohamed Bin Salmán promover uma imagem reformista e mostrar sinais de abertura, porque segundo o xeque dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Bin Zayed, promover uma participação limitada das mulheres no espaço público gera grandes receitas nos países ocidentais.

Com a entrada em vigor desta nova medida, a Arábia Saudita deixa de ser o único país do mundo onde as mulheres não podem conduzir. Ainda assim, o acesso à carta de condução será seis vezes mais caro do que para os homens, o que já levou várias mulheres sauditas a unirem-se nas redes sociais para conseguirem encontrar voluntários que as ensinem a conduzir de forma gratuita.

TEXTO: Duarte Lago (com AFS)

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