Do oito ao oitenta. Como o efeito Salvador Sobral voou em dois anos

Em Kiev, na Ucrânia, Salvador Sobral tocou o céu com a música “Amar Pelos Dois”. Seguiram-se as desilusões de Isaura e Cláudia Pascoal em Lisboa e a eliminação de Conan Osíris em Tel Aviv. E Portugal passou, na Eurovisão, do oito ao oitenta.

13 de maio de 2017. Salvador Sobral vence o Festival da Eurovisão com a música “Amar pelos Dois” e conquista 758 pontos em Kiev, na Ucrânia, uma das pontuações mais elevadas de sempre atribuídas a uma canção vencedora. Nesse mesmo dia o Benfica festejou mais um título de campeão nacional e o Marquês de Pombal cantou, em uníssono, a música escrita por Luísa Sobral.

A primeira vitória de Portugal num Festival da Eurovisão mereceu um louvor do Parlamento e do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Antes, um mar de gente invadia o aeroporto de Lisboa para receber o novo herói nacional. E como Salvador o justificava…

Mais: a canção “Amar Pelos Dois” entrou para o primeiro lugar da tabela de “singles”, tendo sido o tema mais ouvido nas plataformas de streaming em Portugal nas semanas seguintes à vitória.

A nação tocava no céu. E subiria até à lua com a organização do evento mais televisionado do mundo no ano seguinte, na Altice Arena. A RTP tomou conta das operações, naquela que foi elogiada com a melhor organização de sempre.

Mas o efeito Salvador Sobral começava a desvanecer aqui. Isaura e Cláudia Pascoal, com o tema “O Jardim”, não conseguiram melhor do que o último lugar no concurso vencido em 2018 pela israelita Netta, com a música “Toy”.

A classificação negativa das duas portuguesas não teve grande visibilidade devido aos méritos da organização e à apresentação, exemplar, de Catarina Furtado, Filomena Cautela, Sílvia Alberto e Daniela Ruah.

E chegamos a terça-feira, 14 de maio de 2019. O tema “Telemóveis” vai a Israel, Conan Osíris está na crista da onda pelo visual arrojado e pela atitude desconcertante e, em março, as casas de apostas defendem que o representante português na Eurovisão pode ser um dos finalistas.

Mas os ensaios correm mal, o intérprete define-se “apoplético” e garante que pisou um palco “assombrado”. Não passa da semifinal, enquanto Grécia, Bielorrússia, Sérvia, Chipre, Estónia, República Checa, Austrália (a favorita), Islândia, São Marino e Eslovénia seguem em frente.

Os famosos dão-lhe a mão. Tânia Ribas de Oliveira, apresentadora da RTP, destaca-lhe o “power”. “Que atuação! Orgulho. Muito!”

Rita Ferro Rodrigues, produtora do Canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) elogia a atitude: “O orgulho que me fizeste sentir a representares-me – e pode parecer estranho – porque representas tanto dos não representados na vida, daqueles que lutam pelos sonhos malucos, pela imaginação ao poder, pela igualdade, pela diversidade, pelo subúrbio que é afinal o centro de tudo, pela multiculturalidade, pela pureza do que se sente, canta e dança, pelo um país a sair do óbvio e das gavetas a cheirar a mofo, pelo teu cabelo lustroso, pelas tuas respostas sem filtros, memória clara de quem és e de quem somos: obrigada, meu amigo!”

Para o ano há mais…

TEXTO: Rui Pedro Pereira

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