Depois de gravar o aviador Sacadura Cabral em “A Travessia”, que estreia na primavera, o intérprete Gonçalo Waddington dá vida a um operacional das FP-25 no “Projeto Global”.
Ele não perde uma série histórica na RTP1: após gravar “A Travessia”, na qual dá vida ao aviador Sacadura Cabral, Gonçalo Waddington já está a trabalhar em “Projeto Global”, uma série – e, mais tarde, um filme -, que vai abordar a ação das FP-25 em Portugal na década de 80.
“Ele pertenceu às brigadas revolucionárias, tem um descontentamento com o PREC e o 25 de abril não lhe trouxe a terra prometida”, refere o ator sobre a sua personagem, “Amanoense”, em conversa com a N-TV, à margem de gravações no cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
“O sentimento de traição é tal que ele decide continuar com a frente popular e tenta que algumas coisas aconteçam, porque pensa que a Revolução não devia ter parado”, acrescenta Gonçalo Waddington.
“Amanoense” vai estar “no meio da ação e dos atentados” e o ator ficou com um “outro olhar” sobre este período da História de Portugal. “Não era um assunto que dominasse e como foi feita uma grande pesquisa fiquei com outra perspetiva”, garante.
“Projeto Global” é um dos primeiros filmes e séries a tratar diretamente da ação das FP-25 nos anos 80. “Era muito novo para entender o que se estava a passar, mas havia qualquer coisa que os meus pais falavam. Eles tinham uma visão diferente e externa, porque tinham vindo de Moçambique a seguir ao 25 de abril”, refere o intérprete, que lamenta que os pais não se tenham “divertido mais” nos loucos anos 80. “Eles viveram a turbulência do pós-25 de abril e os tempos algo desencantados dos anos 80. Eles não saiam muito à noite e, se calhar, não viveram aquela fase mais divertida, com muita pena deles. Mas eles sentiam o descontentamento no ar e lembro-me de se falar nisso em miúdo”.
Na pele de um aviador
Antes de gravar “Projeto Global”, Gonçalo Waddington esteve inserido na série sobre a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada por Sacadura Cabral e Gago Coutinho, em 1922, e que ligou Lisboa ao Rio de Janeiro: “A Travessia” deve estrear na primavera, na RTP1, e o ator tem ao seu lado Miguel Damião, que dá vida a Gago Coutinho. Um projeto de oito episódios, que dá a conhecer outros nomes históricos da aviação portuguesa como Brito Pais e Ortins de Bettencourt, e que chega ao pequeno ecrã mais de 100 anos depois do mítico trajeto.
“O Sacadura Cabral e o Gago Coutinho são personagens que na série vão ser míticas, mas ao mesmo foram muito verdadeiras na nossa História. Há uma responsabilidade de tentar ser fiel e respeitar o nosso passado”, diz Gonçalo Waddington.
“Na série há algumas liberdades criativas que se tomam e esta é a parte interessante: estar à vontade o suficiente para poder fazer bem o texto sem pôr palavras de hoje em dia. Também é tão raro fazer séries históricas que isso é uma das coisas mais giras”, elogia o ator.
Gonçalo Waddington lembra que a “rodagem foi intensa, mas em bom” e conta que o que é “engraçado” é a “vontade destas pessoas se ultrapassarem, sempre com aquela herança histórica dos Descobrimentos e tentar atravessar o oceano através dos céus”.
O ator foi buscar traços reais a Sacadura Cabral, mas a grande inspiração foi “o guião”. “Tenho de criar o papel a partir do que está escrito e vamos salpicando com outros ingredientes que a gente apanha: por exemplo, a minha personagem fumava muito. Era muito calada, vivia com a irmã, são características que foram descritas por outras pessoas na época”.