Lembra-se de “Gente Fina é Outra Coisa”? A casa de Amélia Rey Colaço abriu há 35 anos!

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Hoje diríamos que era uma “sitcom”, mas na década de 80, sem as modernices dos estrangeirismos, era uma “série de humor” ou uma “comédia”. Tinha um elenco de luxo. Estreou-se há 35 anos na RTP.

Amélia Rey Colaço, uma das mais importantes figuras do teatro português do século XX, falecida em 1990, era a matriarca de uma família de loucos. Acamada no seu quarto, não sabia de nada do que se passava no resto da sua mansão, habitada pelos familiares, empregados e mordomos.

“O elenco era de luxo. Era uma série muito bonita, muito bem escrita, muito bem representada, e que deveria ter tido continuidade na RTP, porque era um género de que os portugueses gostam muito”, contou este domingo à N-TV o ator Ruy de Carvalho, 90 anos, um dos poucos atores do elenco principal que continuam vivos.

“Era uma série muito bonita,
que deveria ter tido continuidade na RTP,
porque era um género de que
os portugueses gostam muito”

Ruy de Carvalho

Com o consagrado ator, e além da já citada Amélia Rey Colaço, integravam a série a filha, Mariana Rey Monteiro, Nicolau Breyner, Carlos César, Luísa Barbosa, Luís Pavão (todos já falecidos), e ainda Simone de Oliveira, Margarida Carpinteiro, Luís Esparteiro e Filipa Trigo.

Ruy de Carvalho não esquece a sua personagem: “Um aviador louco que se tinha ejetado em terra e batido com a cabeça”. “Foi uma personagem de que gostei muito, deu-me muito prazer fazê-la”, sublinhou Ruy de Carvalho à nossa reportagem.

“A personagem foi muito marcante naquele tempo. Recordo-me de uma vez ir no Metro, e uma senhora que ia sentada à minha frente vir a olhar para mim e abanar a cabeça constantemente. Aquilo vinha a fazer-me confusão e eu perguntei-lhe: ‘passa-se alguma coisa, minha senhora?’. E ela respondeu-me: ‘Ai, senhor Ruy de Carvalho, um ator tão sério a fazer um papel tão maluco’. Eu ri-me e perguntei-lhe: ‘Mas a senhora acho que faço bem?’ E ela disse-me que sim. Eu voltei a perguntar: ‘E a senhora gosta?’. Ela respondeu-me: ‘Gosto muito, gosto muito’. Olhei para ela e disse-lhe: ‘Então, pronto, minha senhora, isso é que é importante. É que eu faça bem e que as pessoas gostem do meu trabalho’. Nunca mais me esqueci deste diálogo”, relatou à N-TV.

Margarida Carpinteiro, hoje com 74 anos, recordou “a beleza e a dignidade dos textos cómicos”. “Era uma série de altíssima qualidade, com uma comicidade feita com a maior seriedade”, destacou, elogiando os textos de César de Oliveira, Nicolau Breyner e Mário Zambujal.

“A Senhora Dona
Amélia Rey Colaço era
uma pessoa de uma simpatia,
de uma simplicidade extraordinárias.
Orgulho-me muito de ter sido neta dessa senhora”

Margarida Carpinteiro

Em 1982, há 35 anos, Margarida Carpinteiro, que “já não era uma garota”, fazia de neta da matriarca da família: Matilde Francisca Eufrosina de Santo Eustáquio Penha Leredo Solomon Bentorrado Corvelins, nome de “Gente Fina” da personagem interpretada pela “senhora dona Amélia Rey Colaço”.

“É impressionante como passados estes anos todos eu e uma série de atores continuamos sem conseguir referirmo-nos a essa senhora como Amélia Rey Colaço mas Senhora Dona Amélia Rey Colaço. Era uma pessoa de uma simpatia, de uma simplicidade extraordinárias. Orgulho-me muito de ter sido neta dessa senhora”, concluiu à N-TV.

Realizada por Luiz Andrade, também já desaparecido, “Gente Fina É Outra Coisa” era exibida semanalmente às sextas-feiras em horário nobre e era produzida pela Edipim.

TEXTO: Nuno Azinheira