Dez anos de carreira como atriz, que intercalou nos “profundamente frustrantes” com outras atividades. O testemunho de Sara Leitão que não está a deixar ninguém indiferente.
Estreou-se em 2007 na quarta temporada da série juvenil “Morangos com Açúcar”. Desde então, tem participado em produções televisivas e feito teatro e cinema, mas também tem servido “às mesas”, limpo “sanitas”, animado “festas de aniversário de crianças” trabalhado como “baby-sitter” e “na copa de restaurantes”, distribuido “panfletos (milhares, talvez)”. E estudado. O percurso da jovem, de 26 anos, tem-lhe dado “momentos muito felizes artisticamente” e “outros profundamente frustrantes”.
Dez anos depois, garante que “a única certeza” que tem é que voltará a recorrer aos seus “dois braços e duas pernas” nos “próximos momentos de aperto”. A atriz, atualmente em cena no Teatro Nacional de São João, no Porto, com a peça “Macbeth”, quis partilhar com os seus seguidores que a vida de um ator não é apenas glamour.
Soube-o quando se mudou sozinha, aos 17 anos, da Invicta, onde nasceu, para Lisboa, para seguir o seu sonho. “Foram centenas de viagens Lisboa-Porto ao sábado no comboio das 21h30 e Porto-Lisboa ao domingo no comboio das 19h52. Durante o primeiro ano trabalhei de segunda a sábado, cerca de dez/doze horas por dia (…)”, escreve.
“Houve momentos em que tinha dinheiro para ir de férias e para me aguentar uns meses, outros momentos em que tive 40 cêntimos na conta por demasiadas semana”
Sara Barros Leitão fala de si, mas adianta que o seu caso não é único. É, sim, “a realidade de todos os jovens e não jovens atores portugueses, para não dizer do mundo”, que são “obrigados a desdobrar-se em mil e uma coisas para conseguirem fazer o que gostam”.
“Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã e a vontade de desistir aparece todos os dias”
Uma atividade que “não é uma linha vertical”, prossegue feita por pessoas iguais as todas as outras, que não devem ser “endeusadas” só por aparecerem na televisão. “Somos todos iguais, temos inseguranças, fazemos cocó, choramos, trabalhamos: umas vezes estamos a fazer coisas que gostamos, outras vezes fazemos trabalhos que toda a gente inveja e que nós odiamos profundamente”, exemplifica.
Num site que agora inaugura e onde reúne “toda a informação” dos seus projetos, “para que estes dez anos não se percam” na Internet, contará certamente mais histórias como a que viveu “há uns meses”, quando uma senhora a quis cumprimentar. “Perguntou: ‘Não se lembra de mim, pois não?’. Eu fiz um esforço, mas a verdade é que não me lembrava. Ela respondeu: ‘Eu fui a um restaurante onde a menina trabalhava, em Esmoriz, e fiquei muito chocada por vê-la a servir às mesas, quando eu a conhecia da televisão”, narra a atriz.
“Fiquei muito emocionada com este momento, mas não tive coragem de dizer à senhora que provavelmente me iria voltar a encontrar a servi-la e que depois me iria ver novamente no palco e depois novamente a servi-la…”.
Diana Nicolau, Teresa Tavares, Marisa Perez, Ângelo Rodrigues, Susana Arrais e Pedro Carvalho não ficaram indiferentes ao discurso de Sara Leitão.
TEXTO: Ana Filipe Silveira