Pandemia na TV: o drama de milhares de figurantes

Cristina Ferreira

Antes das novelas, séries, filmes ou programas, a pandemia atingiu a figuração: reformados, desempregados ou curiosos que entram em cena. A N-TV descobriu dois casos dramáticos.

São os rostos visíveis, mas ao mesmo tempo invisíveis, porque ninguém os conhece. Os figurantes estão nas novelas, nos filmes, nos programas ao vivo de ‘day time’ como “O Programa da Cristina” (SIC) ou o “Você na TV!” (TVI).

Ajudam a preencher galas, como os Globos de Ouro. Desde o início de março que estiveram na linha da frente, mas por ter sido os primeiros a serem dispensados por causa da “Covid-19”: primeiro dos formatos de Cristina Ferreira e de Manuel Luís Goucha e a seguir das novelas – como a segunda temporada de “Nazaré” ou a quarta de “Golpe de Sorte”, ambas da SIC -, a seguir os filmes: o site sabe que a nova saga de “Harry Potter” iria ser gravada em Lisboa e precisar de “milhares de figurantes”, revela uma fonte ao nosso jornal; mas o projeto do jovem feiticeiro está em risco.

Manuel Luís Goucha revista
Instagram Manuel Luís Goucha

“Estamos todos em casa, a ‘Covid-19’ está a afetar-nos a cem por cento, tenho um escritório em Lisboa e no Porto e está tudo parado”, lamenta-se Fernando Valente, conhecido apenas pelo sobrenome no meio do audiovisual e uma das pessoas na linha da frente da figuração. “Não há projetos: as televisões ligaram-me e só há uma palavra – ‘anulado’, ‘anulado’, ‘anulado’. É o descalabro, porque toda a gente deixou de pagar!”

Valente tinha figurantes a trabalhar em “Terra Brava”, em exibição na SIC, e na nova temporada de “Nazaré”, também da estação de Paço de Arcos e tudo está em pausa. “O barco é grande, mas tenho colaboradores para a vida. Vou cumprir até não poder mais, mas só aguento mais um mês”, garante à nossa reportagem. Vai tentar aderir ao “lay-off”, mas lamenta haver ainda muitas dúvidas na ajuda da Segurança Social aos “sócios gerentes”.

Nazaré SIC
Instagram SIC

Num barco diferente, mas noutras águas, está Cristina Rodrigues, diretora-geral da empresa Bastidor D’Emoções. A firma é outra referência no setor da figuração e põe público n’”O Programa da Cristina”, “Quem Quer Ser Milionário”, “Olhó Baião”, “Joker”, “Conta-me Como Foi”, “Golpe de Sorte”, “A Máscara” ou “Got Talent Portugal” ou “O Atentado”.

“A partir do dia 10 de março começaram a anular a participação do público nos programas”, recorda Cristina. “Se a situação se mantiver, só conseguiremos aguentar, sem qualquer trabalho, no máximo até julho/agosto. Da parte das estações de televisão ou das produtoras não tivemos, até agora, qualquer expectativa, relativamente ao recomeço do trabalho”, acrescenta.

Tânia Ribas de Oliveira
Instagram Tânia Ribas de Oliveira

Além das dificuldades na empresa, a responsável está preocupada com os figurantes. “Muitas destas pessoas não têm outro meio de subsistência. Estamos a falar de pessoas que estão desempregadas ou reformadas. Além disso a empresa tem pessoas a trabalhar a tempo inteiro no escritório e no terreno e que, sem trabalho, não poderão continuar a dar colaboração”.

No caso da Bastidor d’Emoções entre “bookers” (pessoas que fazem a marcação de figurantes) e “crowds” (coordenadoras de pessoal no terreno), a empresa emprega cerca de 15 pessoas. Dois testemunhos, dois dramas. Porque a Covid-19 não é figurante: nos próximos meses vai continuar a desempenhar o papel principal.