Passaporte Lisboa 22: Diretores de casting elogiam atores portugueses, mas programa precisa de verbas para continuar

Priscilla John
Priscilla John Fotografia: Lucy Bevan

Portugal volta a receber a iniciativa Passaporte Lisboa 22, que traz ao nosso país os principais diretores de casting de todo o mundo para avaliar os atores nacionais. Há elogios aos artistas, mas a falta de verbas pode anular a iniciativa no próximo ano.

Está de volta o Passaporte Lisboa 22, uma iniciativa de Patrícia Vasconcelos que, em conjunto com a Academia Portuguesa de Cinema, reúne os principais diretores de casting de todo o mundo. O objetivo, até ao próximo domingo, é avaliar os atores portugueses e internacionalizá-los, mas a falta de dinheiro é um obstáculo à continuidade do evento.

“É provável que não volte a fazer mais edições, porque nós temos bastantes dificuldades com o financiamento, que não está a ser conseguido na sua totalidade”, alerta Patrícia Vasconcelos. “Já vamos na sétima edição, isto sai-nos do pelo, duas pessoas fazem o trabalho de quatro, que trabalham 18 horas por dia! Estar sempre a contar o tostão… já chega. Ou conseguimos um financiamento a dois ou três anos para nos garantir estabilidade ou ficamos cansados”, acrescenta.

Patricia Vasconcelos
Patrícia Vasconcelos Fotografia: Afonso Castella

A iniciativa surgiu há sete anos “para o talento nacional não ficar confinado”. “Achei que os meus colegas diretores de casting tinham de vir até Portugal ver estes enormes talentos que temos”, refere Patrícia Vasconcelos.

As expectativas são as melhores. “Espero que o programa, que é muito exigente ao longo de quatro dias – de dez em dez minutos muda o ator, de dois em dois minutos o ‘showcase’ – corra como está programado”.

O que é nacional é bom

“O objetivo principal é conhecer atores espantosos para que os possamos empregar a nível global. Acho que podemos encontrar qualquer pessoa e desejo muito dar-lhe uma oportunidade”.

As palavras são de Cindy Tolan, que dirigiu, por exemplo, os castings do recente “West Side Story”, de Steven Spielberg. Cindy é uma fervorosa adepta das “self tapes”, interpretações gravadas pelos atores em vídeo. “A ‘self tape’ é excelente. Gosto de conhecer atores pessoalmente, mas pode saber-se muito através de uma ‘self tape’”, remata.

Cindy Tolan
Cindy Tolan Fotografia: Afonso Castella

Lucy Bevan, diretora de casting de “The Batman”, sabe ao que vem. “Quero aprender mais sobre o talento aqui. Podemos ir ao topo aqui em Portugal, trabalhei em castings internacionais e em megaproduções e há muitos talentos europeus”.

Para Lucy, a localização geográfica de Portugal pode ser uma mais-valia. “Atrevo-me a dizer que o vosso país deve ser um hub, uma ponte, entre os Estados Unidos e a Europa na captação de talentos. É um país lindo e estou excitada por conhecer toda a gente”.

Lucy Bevan
Lucy Bevan Fotografia: Afonso Castella

Lembra-se de “Quem Tramou Roger Rabbit?”, o filme que cruzou animação com atores no final da década de 80? A diretora de casting foi Priscilla John, ela que, mais recentemente, escolheu os atores para “Mamma Mia” ou “Wolverine”.

“Nós precisamos de atores como o Marco d’Almeida, que pode passar por espanhol ou francês, porque ele fala fluentemente e os americanos não sabem dizer que ele é português”, elogia. “Se eu fizer um casting a um francês, espanhol ou italiano eles têm sotaque. Há bons atores nestes país, claro, mas é difícil captar a atenção dos americanos, porque eles têm de percebê-los imediatamente”, nota.

“Os atores portugueses têm uma grande fluência em inglês. A Joana Ribeiro, a Alba Batista têm feito um trabalho incrível”, acrescenta.

“Vamos conhecer 17 novos atores e parecem muito interessantes, estou ansiosa. É gente nova, uns já conhecemos, ficamos familiarizados e outros vamos conhecer”, diz ainda Priscilla John.

Finalmente, um comentário à notícia que marcou a atualidade na semana passada. “A confirmar-se a rodagem do ‘Velocidade Furiosa 10’ no Norte, isso vai impulsionar o mercado no vosso país, que tem paisagens maravilhosas”.