Virgílio Castelo: “Portugal não tem dinheiro para acompanhar a ficção mundial”

Virgílio Castelo
Lisboa, 10/02/2023 - Virgílio Castelo, ator. [Fotografia: Leonardo Negrão / Global Imagens]

Ator e produtor, Virgílio Castelo não embarca na “onda” de otimismo com as séries nacionais. Diz que “falta dinheiro” e que muitos produtos ficam “coxos”.

Considerado como um “senador” da ficção nacional, depois de representar papéis há mais de 40 anos e ter sido consultor da SIC ou da RTP em vários projetos, Virgílio Castelo, que completa 71 anos no próximo dia 26, observa o panorama da ficção nacional “com muita preocupação”. Um contraponto à onda de entusiasmo que se vive no meio, depois de “Glória” e “Rabo de Peixe” terem chegado à Netflix.

“Acho que a oferta que há em ‘streaming’, que permite ao público ter várias plataformas e ver ficção em qualquer lado e a qualquer momento, está a fazer renascer a ficção em termos mundiais, mas Portugal não está a acompanhar”, refere o ator à N-TV, à margem das gravações da novela “Senhora do Mar” na ilha Terceira. “Não temos dinheiro. E tenho algum receio que, quando tivermos, vai ser muito tarde para apanharmos o comboio”, prevê.

Há alguns anos, Virgílio Castelo tinha uma posição diferente sobre o que se faz em Portugal. “Francamente houve uma altura em que estava mais otimista, achava que estávamos no bom caminho, de maior equiparação com o que se ia fazendo lá fora, mas com a vinda do ‘streaming’ mudei-a: ou acontece qualquer coisa ao nível do investimento, seja ele do Estado ou dos privados, ou acho que vai ser muito difícil para nós”.

Antes de dar a vida ao “Adérito” de “Senhora do Mar”, o ator esteve no Brasil a gravar o “remake” da série “Dona Beija”. “Estive agora no Brasil com a Rita Pereira. É uma série de 40 episódios. O orçamento de um episódio é dez vezes mais do que um de uma novela portuguesa. E o dinheiro não é preciso para todos ganharmos mais, mas para fazer as cenas. Como não temos dinheiro não fazemos todas as cenas que são precisas e o produto fica coxo. É isto que me preocupa”, remata, sobre o assunto.

Antigo baleeiro na novela

Sobre a sua personagem na novela da SIC, Virgílio Castelo descreve-a como “cética”. “É um antigo baleeiro e vive com a beata mais militante, a ‘Genoveva’, interpretada pela Rita Blanco. Ele faz o contraponto em relação aos alegados milagres e é a voz da razão”. O ator destaca ainda a amizade com “Abel”. “Ele é o melhor amigo da personagem interpretada pelo Zeca Medeiros. Está sempre a tentar animá-lo e a fazer que a vida lhe sorria”.

O ator elogia a profissão “dura” que garantiu o sustento de muitos açorianos há séculos. “A vida destes baleeiros devia ser uma coisa inacreditável. Há uns anos fiz um filme sobre pesca do bacalhau e apercebi-me da violência que aquilo era. Eles tiveram vidas muito duras, mas têm capacidade de enfrentar a vida e lutar contra as adversidades, que acho que os pescadores todos têm de ter”, conclui.