“Estava muito nervoso, era uma grande responsabilidade”. As confissões do primeiro português na Eurovisão

A vitória de Salvador Sobral em Kiev, no ano passado, veio colocar Portugal num novo patamar na história da Eurovisão. Em 1964, tudo foi diferente. António Calvário foi o primeiro cantor português a participar no certame internacional. Agora recorda o momento à N-TV e deseja boa sorte a Cláudia Pascoal.

Nem a “Oração” lhe valeu. A canção que os portugueses adoraram no Festival da Canção, então chamado Grande Prémio TV da Canção Portuguesa, não rendeu frutos em Copenhaga, na Dinamarca. Nem frutos, nem votos.

A primeira participação portuguesa no Festival, em 1964, rendeu zero pontos a Portugal. “Lembro-me que estava nervosíssimo. Quando o meu nome foi anunciado e eu subi ao palco, estava bastante nervoso. Repare, era uma responsabilidade muito grande representar Portugal”, começa por recordar à N-TV o artista, a caminho dos 80 anos.

António Calvário “não queria que a primeira representação portuguesa corresse mal”. “Infelizmente, naquele tempo, não havia os apoios que existem hoje em dia. Mas felizmente, tudo correu bem”.

Tudo bem, menos a classificação. Portugal ficou em último lugar com zero pontos. Em 49 participações na Eurovisão, este resultado só voltou a ser repetido em 1997, com Célia Lawson, e a música “Antes do Adeus”.

Agora, 54 anos após a primeira atuação portuguesa neste festival, António Calvário admite que a maior diferença está no facto de as músicas não serem divulgadas na altura. “Acho que a divulgação das músicas é algo bom, porque nós só percebemos o valor real do tema depois de o ouvir várias vezes”, completou.

“Agora [depois de Salvador Sobral], nota-se que as pessoas estão mais entusiasmadas e há mais expectativas”

O cantor português, de 79 anos, acredita que se a divulgação fosse maior em 1964, as coisas teriam sido diferentes em Copenhaga. “O apoio da imprensa foi muito, muito grande na altura e tenho tudo arquivado cá em casa, mas, claro, não era a mesma coisa, hoje há uma outra dimensão”, afirma à nossa revista digital.

António Calvário lamenta “a fase mais complicada que o Festival RTP da Canção viveu durante muitos anos”, e sublinha que a vitória de Salvador Sobral no do ano passado “fez aumentar o interesse dos portugueses” pelo concurso.

“Agora nota-se que as pessoas estão mais entusiasmadas e há mais expectativas”, sublinha.

Calvário não esconde o prazer de ter visto Portugal vencer a Eurovisão a 13 de maio do ano passado em Kiev, na Ucrânia. “Adorei a música do Salvador, foi uma atuação impecável”, acrescenta, referindo-se a “Amar pelos Dois”.

Este ano será a 50ª participação de Portugal neste festival. Será que Cláudia Pascoal, a intérprete de “O Jardim”, que vai representar o país na final de Lisboa, tem hipóteses de vencer e fazer a “dobradinha”?

António Calvário não se compromete. Espera que sim, mas prefere apenas desejar “o melhor” para a cantora portuguesa.

TEXTO: Miguel Lopes (com NA)

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