Chuva de críticas não surte efeito. SIC “não pondera retirar ‘SuperNanny’ da antena”

Estreado no passado domingo e com um eco de críticas vindas de diferentes frentes, o programa “SuperNanny” vai manter-se na grelha da estação de Carnaxide, revela fonte oficial do canal à N-TV.

A chuva de reprovações dirigidas à mais recente aposta de entretenimento da SIC não surtiu qualquer efeito na direção da estação, que vai “manter o programa ‘SuperNanny’ em grelha”. “Até este momento não estamos sequer a ponderar retirá-lo da antena”, assegura fonte oficial do canal à nossa revista digital.

A questão foi levantada por várias entidades logo após a emissão do primeiro programa do formato, uma adaptação de um original homónimo britânico, exibido pelo Channel 4 em 2004. Desde aí, “SuperNanny” conta com versões em mais de 15 países, como os Estados Unidos, o Brasil, a China, a França, a Alemanha, a Suécia ou a Espanha.

Na segunda-feira, a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) alertou, através de um comunicado, que “considera existir elevado risco de o programa violar os direitos das crianças, designadamente o direito à sua imagem, à reserva da sua vida privada e à sua intimidade”.

“Preocupado com a situação” e “face à anunciada intenção de se repetirem programas deste tipo”, que “não respeitam o superior interesse da criança”, o Instituto de Apoio à Criança decidiu associar-se à posição assumida pela CNPDPCJ.

Também a UNICEF Portugal se pronunciou acerca de “SuperNanny”, afirmando, em comunicado, que o programa em causa “vai contra o interesse superior das crianças, violando alguns dos seus direitos, nomeadamente o direito da criança a ser protegida contra intromissão na sua vida privada”.

No mesmo dia, a SIC demarcou-se de todas as críticas, lançando um comunicado no qual defende que o formato, “exibido no estrito cumprimento da lei aplicável”, “aborda situações comuns a muitas famílias, com um mero intuito pedagógico, não substituindo qualquer diagnóstico e/ou aconselhamento psicológico”.

“O “SuperNanny” não gera efeitos negativos ou de censura em ambiente escolar e social” nas crianças, diz a SIC, que garante não “explorar situações de particular fragilidade”. “São abordadas situações reais, ocorridas em ambiente familiar, de um modo responsável”.

De acordo com a sinopse oferecida pela estação de Carnaxide, “SuperNanny” visa ir “ao encontro das famílias portuguesas para ajudar a controlar a rebeldia dos filhos e dar resposta aos apelos de pais e educadores”. Os protagonistas são, assim, filhos rebeldes e “pais à beira de um ataque de nervos, que já tentaram quase tudo para controlar a alteração de comportamento dos filhos”.

Os progenitores contam com a ajuda de Teresa Paula Marques, psicóloga clínica, de 51 anos, mestre em Psicopatologia e doutorada em Psicologia da Educação pelas faculdades de Psicologia de Lisboa e de Coimbra. Face à chuva de críticas, a “SuperNanny” portuguesa reagiu, em declarações ao Observador, dizendo que a violação da privacidade e dos direitos das crianças no programa que conduz “é um problema da SIC”. “Não estou no programa como psicóloga”, acrescentou.

 

Pagamentos às famílias? “É a produtora que tem de responder a essa pergunta”

De acordo com o “Correio da Manhã”, todas as famílias que se inscreveram no programa assinaram um contrato com a produtora do programa, a Warner Bros. TV Portugal, que prevê o pagamento de mil euros e gravações em casa durante uma semana.

Fonte oficial do canal sustenta, à nossa revista, que esta questão “não tem a ver com a SIC, mas com a produtora”. “É ela que tem de responder a essa questão”, afirma.

A N-TV entrou em contacto com a Warner Bros. TV Portugal, questionando a produtora se confirma o pagamento de dinheiro à família da criança do primeiro episódio de “SuperNanny” e se este é um procedimento que se arrasta a todas as famílias que participam no programa. Até ao momento, não obteve resposta.

TEXTO: Dúlio Silva