Foi o vencedor da terceira edição de “Ídolos”. Chegou às audições do programa da SIC empurrado pelos amigos e sem a certeza de querer participar. Os jurados encostaram-no à parede e Filipe Pinto lá foi de gala em gala, até à consagração final. Passaram-se oito anos e o cantor celebra hoje os seus 29.
A gala final da edição de 2010 de “Ídolos” colocou frente a frente Filipe Pinto, Diana Piedade e Carlos Costa. O jovem nascido em São Mamede de Infesta, Matosinhos, conseguiu a vitória, depois de um percurso no programa que foi sempre renhido.
No dia do seu aniversário, mostramos-lhe como está o cantor numa seleção de imagens que pode ver acima.
Recordamos ainda a viagem que a edição em papel da Notícias TV fez com o atual autor do projeto “O Planeta Limpo”, em janeiro daquele ano:
Acordes de uma viagem com oito anos
A memória é efémera. Tão efémera quanto a vida, a infância, a família, os amigos. “Alguns amigos, não todos”, diz. E a música. “Sim, a música é efémera.” Numa viagem de comboio, Filipe Pinto, 21 anos, foi passageiro nas recordações que guarda acima do Douro, na racionalidade que quer manter a todo o custo e na esperança que acalenta no futuro. Um futuro depois de Ídolos e ao lado da mulher com quem partilha a vida desde “há um anito”.
Gosta de ter os pés bem assentes na terra e não se permite “sentir melhor do que os outros”. Nem mesmo quando é apontado como um dos preferidos à vitória do concurso da SIC. “Prefiro pensar que os elogios que me fazem não passam de elogios que fariam aos outros concorrentes. É melhor para a minha cabeça, para não elevar o patamar”, adiantou Filipe à Notícias TV. “Além disso, cada um de nós tem o seu registo e acredito que há espaço para todos.” E quando ouve da boca dos jurados que está a “anos-luz” dos colegas ou tem “superpoderes”, acha exagerado: “É óbvio que fico contente, mas não me vejo assim. Tenho as minhas limitações e as minhas dificuldades e sei que vários concorrentes conseguem ultrapassar as deles de uma maneira muito melhor do que eu.” Por pensar em si e nos outros é que Filipe prefere não ter acesso às votações do público nas galas de domingo. “Isso só iria vangloriar determinadas pessoas e denegrir outras, ou mesmo aqueles que teriam menos votos poderiam fraquejar e sentir-se derrotadas”, diz.
E a humildade é uma estratégia? O jovem de São Mamede de Infesta responde que a única estratégia que usa é a escolha das músicas que canta todas as semanas em directo e que se limita a ser ele próprio, que luta “para se deitar todos os dias na cama” a saber que não mudou a sua personalidade em função do local onde está. “É que se eu estiver sempre a moldar-me ao sítio onde estou, nunca chegarei a ser ninguém”, conclui.
“Tenho umas saudades enormes da minha infância”
A paixão de Filipe pela música começou desde pequeno, altura em que os pais quiseram oferecer-lhe aulas de música e ele, criança inconsequente como as outras, lá foi adiantando que estava mais empenhado em ir brincar com os amigos “e isso”. Este é, aliás, o único arrependimento que tem. “Se eu não tivesse tido aquele pensamento de criança de ter esquecido a componente teórica… Mas eu só queria era estar a brincar na rua ou então a tocar guitarra, mas sem estudar”, confessa. “A minha mãe teve muita paciência comigo, porque eu passava os dias na rua e muitas vezes ela sem saber onde eu estava… Era traquina, era (risos)”, prossegue.
Uma recordação da infância que lhe traz “umas saudades enormes”. Sem esconder o brilho no olhar, Filipe entrega-se à memória. “Adorei a minha infância, tenho muitas saudades. Há coisas das quais gostava de me lembrar melhor”, diz. Mas também há momentos inesquecíveis como aqueles em que a irmã, agora com 28 anos, ajudou a mãe a cuidar dele. “Foi a pessoa que mais me apoiou, que mais esteve comigo, porque os meus pais estavam a trabalhar. Dava-me banho e brincávamos juntos, fazia várias personagens para eu me sentir numa classe de aulas, víamos televisão, cantávamos juntos. Era muito giro…” Lembranças que Filipe gostava de guardar, de escrever. Tal como o pai o fez. “Há dias o meu pai fez um trabalho sobre todo o percurso da vida dele. Ele conseguiu, aos poucos, marcar as etapas todas, desde a infância à adolescência, as brincadeiras, a vida profissional, depois a vida mais adulta… é incrível. E eu se calhar penso também fazer uma coisa dessas. É que a memória é tão efémera…”, revela.
Medo de viver pouco tempo
A nostalgia que toma conta de Filipe quando fala da sua meninice desaparece e dá lugar às certezas quando pensa no futuro. O “medo de viver pouco tempo” reflete-se na forma organizada como vê o futuro. Acabar a licenciatura em Engenharia Florestal, tirar o mestrado em Turismo ou ecossistemas são projetos a curto e médio prazo. A música vem depois. “Há sempre tempo para explorar outras áreas. Com a idade que tenho quero aproveitar para estudar. Costuma dizer-se que as oportunidades só surgem uma vez na vida e tenho algum receio de não aproveitar esta que o Ídolos me está a dar, mas é como digo: tenho de ver os prós e os contras. Depois não quero ficar a pensar ‘porque é que fiz isto ou aquilo?’”, diz.
Ponderar antes para depois “não surgir o arrependimento” é uma lei que também se aplica quando fala na hipótese de ganhar o prémio do concurso. Mesmo que a bolsa de estudo de seis meses na London Music School, Inglaterra, seja “das melhores coisas, uma vez que o conhecimento é a maior riqueza” que pode ter. “Em relação ao prémio ainda não sei. Até ia perguntar à produção se é preciso ir logo a seguir ao programa. Porque era porreiro se dessem a possibilidade de escolher a altura. Permitia-me acabar o meu ano de licenciatura em Vila Real e depois ir os seis meses para Londres. Não sei até que ponto existe essa flexibilidade…” Se tal não for possível, Filipe é perentório: “Aí vou ter de ponderar.”
“Penso em casar e ter filhos”
Avaliações à parte, Filipe confessa-se um romântico e rendido aos encantos de Alexandra, de 26 anos, a mulher com quem partilha a sua vida desde “há um anito”. Casar e ter filhos são sonhos que lhe passam pela cabeça. “Sei que ainda não tenho idade para pensar nisso, mas com a pessoa com que estou neste momento já tenho esses pensamentos. Esporadicamente, mas tenho. E ela? “Ela não quer tanto (risos). Já trabalha e está numa fase em que quer primeiro assentar na vida e eu compreendo isso.” É que Filipe “gosta de uma família tradicional. Mesmo no que diz respeito à religião”. E esclarece: “Quero incutir o espírito religioso aos meus filhos. Gosto muito de ir a igrejas, não para a reza, mas por causa do cheiro e pelo silêncio quando estão vazias. Depois saio de lá sinto-me assim muito… muito tranquilo.” A sua relação com Deus, adianta, é especial. “Falo com Ele, mas de uma maneira diferente, não como um ser desconhecido, mas como se fosse alguém que já me conhece há algum tempo”, explica.
E como é que ele vê o facto de ser reconhecido na rua? “É bom sentir o calor das pessoas. A parte má é quando quero… sei lá… fungar (risos) e sinto que tenho toda a gente a olhar para mim. Por exemplo, agora, cantar no comboio é um bocado mais complicado.” Sim, porque antes de Ídolos, Filipe cantava onde e quando lhe apetecesse. “É uma maneira de me libertar do stresse e de certas tristezas que tenha. Ou de alegrias”, justifica.
Os colegas numa palavra
Pedimos a Filipe para escolher uma palavra que descreva os outros concorrentes de Ídolos. Um desafio sem dificuldades: “Vozeirão” é a palavra que lhe ocorre quando se fala de Diana, “transparência” é como vê Solange, “artista” é a melhor definição de Carlos e Inês é a “fofinha”. Já uma expressão que o descreva a ele, Filipe, é mais complicado. Mas lá sai: “sou o indeciso” (risos).
Filipe e os revisores…
Filipe não passa despercebido a ninguém… A meio da viagem de comboio pela linha de Cascais e chegada a altura de mostrar os bilhetes, descobrimos que estes deveriam ter sido validos na estação. Apontando ao mesmo tempo para a equipa da Notícias TV, o revisor indagou o concorrente: “Estão juntos?” Assentiu. “Então validem os bilhetes à chegada”, respondeu, depois de ter reconhecido o rapaz. Uma experiência que junta àquela que, dias antes, viveu também numa carruagem da CP: “Um senhor Carlos Costa, revisor, veio ter comigo, ofereceu-me um café e levou-me até ao piloto. Ver a panorâmica e a velocidade do Alfa foi uma experiência muito engraçada.”
TEXTO: Ana Filipe Silveira