Entrevista a Ivo Canelas: “O momento político está cheio de radicalismos”

Fotografia: Pedro Pina/RTP

O ator Ivo Canelas é um inspetor da PJ na nova série da RTP1 sobre as FP-25 e diz que o argumento continua atual nos dias de hoje para dar a conhecer os “laivos de radicalismo”.

Ivo Canelas tem um novo projeto. O ator é o “inspetor chefe” da série (e filme) da RTP1 “Projeto Global”, que se centra nos anos 80, em Portugal, e na ação das FP-25, o braço armado do projeto político dos portugueses insatisfeitos com o período pós-25 de abril.

Para o ator “é muito importante dar a conhecer” o que se passou na altura e Ivo Canelas justifica: “O momento político, hoje, está cheio de radicalismos, não armados, não violentos, mas profundamente manipuladores e com laivos de extremismo”, defende, à margem das gravações no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

“Estes laivos apresentam soluções radicais que simplificam tudo, como se seguir sempre em frente atropelando uma série de minorias resolva uma série de problemas para as ditas maiorias”.

“A Democracia é algo profundamente frágil e precisa de ser mantida por todos”, refere, para continuar: “O problema do país é o ‘o outro que está a entrar’ e ‘se fecharmos o país não vamos ter problemas nenhuns’. Tudo isso é mentira e este material questiona desde os anos 80 o momento que, curiosamente, estamos a viver hoje de falsas soluções e de radicalismos que, na minha opinião, põem em risco a Democracia”.

“Até há cinco anos, Portugal parecia que estava a fugir disso, e, de repente, estamos iguais a uma grande parte do mundo onde há um retrocesso ideológico e civilizacional”, nota.

Quanto ao seu “inspetor chefe”, vive num “paradoxo”. “É uma personagem que tem uma componente política e que tenta manter o equilíbrio entre as suas crenças individuais e aquilo que a sua responsabilidade lhe diz. Esse equilíbrio não é simples”.

“Naquele momento, em Democracia, por maior risco em que ela possa estar, recorrer à violência armada é um retrocesso. É algo sobre o qual ele tem muita clareza”.

“Depois há a representação de uma geração que sonhou algo maravilhoso para o país e que de repente talvez não se tenha concretizado com toda a definição”, dia ainda.

“Ele vive o paradoxo em querer acreditar que vive em Democracia e o medo de ‘será que estou certo de que a Democracia pode seguir sem atos violentos’? Ele tem a experiência da guerra, que o define de uma forma orgânica uma postura de não violência e há um retrocesso em que a morte vem para a cidade em vez de estar longe de nós. É um fio de equilíbrio nem sempre claro”, remata Ivo Canelas.