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Nuno Santos: “Vamos ter uma Informação mais inquieta e incómoda para os vários poderes”

Fotografia: Instagram Nuno Santos

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Acabado de regressar de Londres, onde integrou as equipas de reportagem que acompanharam o funeral de Isabel II e a aclamação de Carlos III, o diretor de Informação da TVI e da CNN Portugal antecipa o primeiro aniversário do canal por cabo e diz o que aí vem, com o Norte bem presente.

Nas redes sociais comenta-se que os “pesos pesados” da Informação das estações se “levantaram da secretária” para fazer a reportagem da morte da rainha Isabel II. É injusto para um jornalista (ou jornalistas) com mais de 30 anos de carreira?
Não li esses comentários. Acho que cada um fez o que acha mais adequado. Nós escolhemos a equipa que melhor podia responder, seja em direto, seja na reportagem ou na coordenação, porque é um evento complexo. A informação da TVI e da CNN Portugal está a dar um sinal de nervo, vitalidade, competência. E cruzámos gerações, envolvendo na cobertura da morte da rainha profissionais muito experientes, com memória histórica, bem como jovens jornalistas que estão a viver uma experiência inédita e marcante nas suas carreiras. No que me diz respeito, gosto de vir ao terreno, não preciso de estar no ar. Sempre fiz isso na Informação e também no Entretenimento. Estava acreditado há largos meses? Sim, estava. Eu e toda a equipa. São as regras. Por alturas do Jubileu fizemos uma última avaliação e fechámos os nomes, mesmo não sabendo – obviamente ninguém sabia – quando seria o momento.
Como é que foi o regresso ao terreno, neste caso pouco habitual, por ter outras responsabilidades?
Foi bom. Gosto de fazer este trabalho e, sem falsas modéstias, acho que o faço bem. Mas ao longo dos anos tentei, em cada momento, definir as prioridades. Sempre fui jornalista. Os lugares de direção acontecem. Ninguém é diretor, quanto muito ‘está diretor’.
Notou-se que estava à vontade com as questões da realeza, nomeadamente sobre a relação entre Isabel II e Churchill, um dos seus pensadores preferidos…
Churchill é uma das grandes figuras do Século XX e acho que todos lhe devemos bastante. Era um espírito livre, perdeu e ganhou, mas moldou a Europa em que vivemos. Foi importante no início do reinado de Isabel II.
Acumula a direção de Informação da CNN Portugal com a da TVI. O que mudou nos últimos meses e o que é que vai mudar a seguir?
A TVI sempre teve uma grande proximidade com as pessoas e essa era uma marca distintiva da sua informação. Por razões várias perdemos algum desse capital, estamos a recuperá-lo. Temos vindo a trabalhar no sentido de responder aos interesses, preocupações, anseios dos portugueses. E acredito que com as mudanças que estamos a levar a cabo vão ser valorizadas pelo público, que vai ver uma informação mais inquieta, mais incómoda para os vários poderes, que faz mais perguntas, que aprofunda os temas que tocam os cidadãos e mexem com as suas vidas. As notícias da noite, em certo sentido, mudaram. Hoje, à hora do jantar, sabemos quase tudo. O ‘Jornal das 8’ tem, por isso, um novo desenho gráfico e já na próxima semana lançamos vários segmentos que vão marcar a diferença.
Isso passa pelo seu regresso e também pelo de José Eduardo Moniz?
Sim, também, mas o importante são os conteúdos. E vamos apresentar conteúdos que vão captar a atenção das pessoas. Estamos a prepará-los com boas equipas. Aliás, entre profissionais da “velha guarda” e vários mais jovens temos hoje uma equipa muito boa e mobilizada.
Como compara a TVI com a Informação da SIC e da RTP?
Não me compete fazer esse juízo publicamente. Respeito a concorrência, sei que os movimentos na televisão generalista são lentos. Sou paciente.
A chegada de Sandra Felgueiras é um reforço de peso?
A Sandra é uma jornalista completa. Uma grande repórter, capaz de trazer e investigar grandes casos e vai ser uma muito boa pivot da estação.
Logo no primeiro noticiário foi acusada de usar no “ar” um tom acusatório e parecido com a CMTV…
A Sandra Felgueiras esteve no ar dez anos no horário nobre da RTP. Tem um estilo próprio e teve resultados.
A caminho de completar um ano, a CNN Portugal afirmou-se rapidamente no mercado, particularmente com o início da guerra. Foi coincidência?
Tem sido um ano cheio de acontecimentos. Antes da guerra tivemos as eleições, mas também os incêndios, o jubileu e agora a morte da Rainha, mais Angola, e, claro, este espectro da crise económica. Temos estado em muitas frentes! Respondemos bem, marcámos a agenda. Na cobertura da guerra fomos melhores e as pessoas reconheceram esse facto.
Esperava, nesta altura, já ter ultrapassado outro canal que ajudou a fundar, a SIC Notícias?
É cedo para fazer um balanço. A SIC Notícias é uma marca com 20 anos, muito presente na vida das pessoas, em especial dos decisores. Os resultados que temos e que dão vantagem à CNN Portugal significam maior responsabilidade e maior atenção.
A CMTV lidera no cabo e chegou a ultrapassar, ultimamente, o “J8” e também alguns programas da RTP1. Como é que analisa este “player”, que se move noutros “terrenos”, os da televisão generalista, com a Manhã CM ou a Tarde CM?
Não sou comentador. Só tenho um chapéu. Mas diz bem, move-se noutros terrenos. Não é concorrente da CNN Portugal, é um canal com entretenimento, com quatro horas de debate sobre futebol, tem um jornalismo tabloide. Os momentos em que ultrapassou os canais generalistas são residuais. Quem diz o contrário manipula os números.
Voltemos ao “case study” que é a CNN. A força da marca é essencial para os novos talentos que entretanto emergiram?
A força da marca é real. Ajudou-nos muito e podemos materializar essa ajuda. Formação, nova linguagem, ainda agora aqui em Londres, só é possível fazer o que estamos a fazer porque estamos neste universo global. O resto é trabalho nosso. Hoje toda a gramática visual dos canais de notícias em Portugal tem a CNN como referência.
A guerra, as eleições em Angola e no Brasil, o exclusivo da entrevista ao Papa e ao primeiro-ministro, enquadram-se no reforço da Informação?
Ninguém fez mais do que nós. E não temos uma visão paroquial. Portugal primeiro, sim, mas o mundo está mais pequeno. A nossa informação e o nosso investimento refletem isso mesmo. Somos o grupo que mais investe no jornalismo.
Notou-se agora na reabertura do mercado do Bolhão, no Porto, as várias horas de emissão que foram dedicadas ao momento. O Norte continua a ser uma aposta, sobretudo com a supervisão do jornalista João Fernando Ramos?
O Porto e o Norte sempre foram importantes para nós. Quando tivermos o nosso centro de produção a funcionar serão ainda mais. Mas hoje já fazemos várias horas da emissão da CNN Portugal no Porto e nos dois jornais principais da TVI temos aquilo a que chamo uma equipa avançada em direto. O João tem essa grande qualidade de mobilizar as pessoas e de ser uma voz reconhecida na região.
A TVI e a CNN ressentiram-se das saídas de Judite Sousa e, mais recentemente, de Pedro Mourinho?
Virei essas páginas, estou preocupado com o futuro.
Mas não acha que fazem falta?
Acho que são dois bons jornalistas. Ligam-me, a um e a outro, grandes momentos profissionais e até pessoais. E esses perduram.
Como é a relação com José Eduardo Moniz e com Mário Ferreira?
É ótima. O Mário Ferreira é o principal acionista da empresa e tem sido sempre atencioso comigo, mesmo nos momentos mais difíceis que aqui vivi. Sei bem o que isso vale. Gosta de fazer acontecer, é um português raro. Conheço o José Eduardo da vida toda, mas só tinha trabalhado com ele na RTP, ainda antes da televisão privada. Há muito tempo! É simples, falamos a mesma linguagem, temos percursos parecidos, somos jornalistas.
A cobertura noticiosa da viagem do CEO da Média Capital ao Espaço foi particularmente sensível por se tratar do “patrão”?
Não. Era uma boa história! Sobre essa viagem, acho que se ele não fosse o “patrão” da Media Capital, para usar a sua expressão, teria tido muito mais atenção dos meios de comunicação.