No dia em que Francisco Balsemão comemora 80 anos, a N-TV pediu ao presidente da RTP, à CEO da TVI e ao presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social que escrevessem sobre o antigo primeiro-ministro, que se tornou no mais importante patrão dos media portugueses. Fundou o Expresso, lançou a primeira televisão privada em Portugal há 25 anos e ainda hoje se assume como jornalista.
Leia aqui na íntegra as mensagens exclusivas:
GONÇALO REIS
Presidente da RTP

Fotografia: Gonçalo Villaverde / Global Imagens
“Nos 60 anos da RTP, há poucos meses, fizemos questão de prestar uma homenagem a Francisco Balsemão. É um concorrente, mas é um concorrente especial. Teve um papel decisivo no lançamento e desenvolvimento da televisão privada em Portugal, num registo de qualidade e com a sua conhecida atitude de tolerância, abertura e equilíbrio nos media.
É de facto um patrão dos media com uma perspetiva de permanência rara, com uma lógica quase de combate pelo seu grupo e pelos seus títulos. É a antítese dos empresários transacionais, devemos reconhecer. Há algo de nobre nisso. Tem uma relação afetiva com o setor, com o jornalismo.”
ROSA CULLELL
CEO da TVI

Fotografia: Gerardo Santos / Global Imagens
CARLOS MAGNO
Presidente da Entidade Reguladora da Comunicação (ERC)

Fotografia: Carlos Manuel Martins / Global Imagens
“Balsemão foi capa da ‘Time’ nos anos 60 junto com futuros líderes europeus. Reconhecer que a profecia da revista americana se cumpriu em Portugal é a melhor forma de lhe dar os parabéns pelos 80 anos de uma vida dedicada à liberalização do regime, à profissionalização do jornalismo e à libertação da sociedade civil.
Balsemão poderia ter sido um Presidente da República bem melhor do que Jorge Sampaio na sucessão de Mário Soares e lembro-me de o ter desafiado a candidatar-se enquanto Cavaco se enrolava no seu próprio tabu. Ainda há dias lhe lembrei esse episódio quando me disse que estava a escrever as suas memórias e me pediu para o ajudar a reconstituir alguns episódios do ‘Expresso’.
Nessa altura, no seu gabinete na Rua Duque de Palmela (onde hoje está o Banco da China) Balsemão confessou-me que não podia ir para Belém e deixar a SIC entregue aos brasileiros e ao seu amigo Emídio Rangel.
Nestes últimos cinco anos voltámos a ter reuniões formais e almoços informais. No Pabe, quase sempre, onde ele tem uma mesa com o seu nome! Retomámos a conversa inacabada quando Balsemão me surpreendeu (e honrou) com a sua presença na minha tomada de posse na Assembleia da República, como presidente da ERC. Agradeci-lhe mas Balsemão foi de uma franqueza que sempre lhe retribuirei: ‘Não vim à sua posse. Vim à despedida do Prof. Azeredo Lopes’. Rimo-nos os dois. Espero encontrá-lo, em breve, agora já com 80 anos, outra vez no parlamento. Para ver o que ele diz ao meu sucessor.”
A encruzilhada
Os 80 anos de Francisco Balsemão, que se assinalam nesta sexta-feira, 1 de setembro, apanham-no numa das mais difíceis encruzilhadas do grupo que fundou e de que é, ainda hoje, a principal figura. Antigo primeiro-ministro, defensor da Liberdade, crítico dos novos tempos de mudança no jornalismo, Balsemão já tem encontro marcado com a História.
“Eu morro, mas a família mantém-se”. A frase, proferida no decorrer de uma entrevista à revista “Villas & Golfe”, correu a imprensa nas últimas semanas. Não se trata da constatação de fim de percurso. Mais a incerteza no grupo Impresa, que reúne SIC, “Expresso”, “Visão”, entre outros títulos, a passar por um dos períodos mais duros da sua história.
A crise dos media, a queda do papel e a diminuição das receitas, por um lado, e a recente falha da emissão obrigacionista de 35 milhões de euros, por outro, colocaram o grupo numa situação mais difícil.
A compra da Media Capital por parte da Altice veio, ao mesmo tempo, reforçar a necessidade de encontrar novos capitais para o grupo que Balsemão fundou e cujo gestão executiva está hoje nas mãos do seu filho Francisco Pedro.
Na citada entrevista, Balsemão recusa a inevitabilidade da entrada de capitais estrangeiros. “Já tive vários sócios, portugueses e estrangeiros, mas eu penso que deter a maioria é importante, enquanto puder detê-la”, diz o “chairman” do grupo da SIC, a primeira televisão privada portuguesa, que a 6 de outubro assinala 25 anos.
Primeiro-ministro entre 1981 e 1983, num momento conturbado da então ainda jovem democracia portuguesa, dirigente partidário, empresário, professor, Balsemão diz-se “jornalista para toda a vida”. Talvez por isso continue com o seu olhar sempre crítico, atento à “lixeira gigantesca” em que se tornaram redes sociais e motores de busca desenvolvidos para contar “mentiras e meias verdades”.
TEXTO: Nuno Azinheira