Fernanda Serrano lança hoje à tarde, em Lisboa, a autobiografia “Não Há Vidas Perfeitas”, apresentada pelo ator e amigo Paulo Pires, na qual faz o balanço da sua vida.
No dia em que completa 50 anos, a atriz aborda ao longo de 165 páginas vários episódios marcantes, como a infância difícil e a luta contra o cancro.
Quando ainda morava com os pais, a intérprete conta que a família “viveu sempre com dificuldades”. “Em minha casa, tudo era contido, nada se desperdiçava”, descreve a atriz, que recorda a crise económica de 1970 e 1980. “Um dia, eu era muito pequena, lembro-me de estar no meu quarto e ouvir a minha mãe a chorar e a dizer que a comida acabara e que não tinha dinheiro para ir ao mercado”.
Mas Fernanda Serrano nunca passou fome. “O que eu sei é que ela devia saber como se fazem milagres, porque nunca ficámos sem uma refeição”.
A luta contra o cancro
Em “Não Há Vidas Perfeitas” a intérprete lembra ainda a luta contra o cancro. “A Laura acabara de nascer quando percebi que algo não estava bem. A minha filha tinha três horas de vida, se tanto. O Santiago também era um bebé, com dois anos e nove meses. Naquele dia 18 de setembro de 2007, ao tocar, distraída, na mama direita, senti uma coisa do tamanho de um caroço de uma azeitona”.
“Depois da cirurgia, tive de fazer seis tratamentos de quimioterapia com 21 dias de intervalo. E, a seguir, uma radioterapia com 31 ciclos diários. Claro que me caiu o cabelo. Não era importante. Depois crescia. Eu só queria libertar-me de tudo aquilo o mais rapidamente possível”, lembra Fernanda Serrano.
“Foram meses física e psicologicamente muito duros (…) tudo correu como desejável depois do arrombo físico e emocional por que tinha passado”.
“Ter cancro fez-me valorizar muito a rotina. De repente, perante a doença, essa rotina estava em risco, por isso, percebi o quanto ela era tão valiosa para mim. Daí em diante passei a pensar exatamente o contrário”, acrescenta.
“A doença transformou-me como pessoa. Também me fez crer que não estamos sozinhos. Não posso dizer que era uma pessoa religiosa. Não tive educação religiosa, não fui à catequese quando era pequena, não fiz a primeira comunhão, não cumpro a obrigação mínima de ir à missa ao domingo. Mas aos 35 anos, já com três filhos, decidi batizar-me. Aliás, fomos todos batizados no mesmo dia, eu, o Santiago, a Laura, a Maria Luísa, que tinha apenas dois meses e duas primas”, conclui Fernanda Serrano.